Cláudio Castro comenta operação mais letal do RJ


O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, se reuniu na manhã desta quarta-feira (29) com a cúpula da Segurança Pública para discutir os resultados da Operação Contenção, que deixou 136 mortos, 81 presos e teve 93 fuzis apreendidos nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio.

A reunião teve início as 9h30, no Palácio Guanabara, sede do governo estadual. O encontro ocorre no dia seguinte à megaoperação, considerada a mais letal da história fluminense e uma das maiores dos últimos anos em número de armas apreendidas.

Em entrevista coletiva após a reunião, Cláudio Castro (PL) defendeu a ação policial e a classificou como “a maior da história das polícias aqui” e um marco no combate ao crime organizado. O governador afirmou que apesar da necessidade de apoio, o estado não se curvará a pressões políticas.

Sem citar nomes, ele criticou autoridades que, em sua visão, tentam explorar a situação. “Sobretudo vendo algumas falas de ontem, de hoje, eu queria deixar um recado muito claro aqui. O governador desse estado e nenhum secretário vai ficar respondendo nem ministro, nem autoridade, nem ninguém que queira transformar esse momento numa batalha política”, avisou.

“Todo aquele que quiser vir para cá no intuito de somar, seja governador, seja ministro ou qualquer outra autoridade, é bem-vindo. Quem quiser somar com o Rio de Janeiro nesse momento no combate à criminalidade, é bem-vindo. Os outros que querem fazer confusão, que querem fazer politicagem, o nosso único recado é suma. Ou soma ou suma.”

Ainda durante o pronunciamento, Cláudio Castro afirmou que a dimensão do confronto reflete a força das facções criminosas.

“Essa guerra é uma guerra contra um estado paralelo que cada dia vem se demonstrando mais forte, com mais poder bélico, com mais poderio financeiro e, sobretudo aqui no Rio de Janeiro, usando esse poder para fazer quase que uma ocupação territorial”, declarou.

O governador afirmou que a população apoia a ação porque deseja uma solução para a segurança no cotidiano. “Ontem ficou claro o apoio da população, porque a população quer uma solução para o dia-a-dia. A população quer a vida como ela é. A vida que acontece nas nossas ruas, nas nossas casas, na caminhada pro trabalho, na ida das nossas crianças para escola, na ida e volta pro trabalho, é essa segurança pública que os nossos cidadãos querem”, disse Castro.

Castro revelou ter saído de uma reunião com diversos governadores, na qual recebeu “solidariedade e apoio”. O governador também fez um alerta aos estados que ainda não enfrentam problemas graves de segurança pública.

“Queria repetir que estados ou cidades que não sofrem hoje com problema de segurança pública, sofrerão em breve. Aquele que não entender que esse é o maior problema do Brasil hoje, terá que em muito pouco tempo refazer a sua fala e pedir perdão à sociedade”, advertiu.

Pedido de ajuda, não de GLO

O governador fez questão de delinear os termos de uma possível cooperação com o governo federal. “Nós temos a convicção que nós temos condições totais de vencer batalhas. Mas sozinhos não temos condições de vencer essa guerra”, admitiu Castro.

Na coletiva, ele afirmou que espera do governo federal “um foco no Rio de Janeiro, um foco de integração, um foco de trabalho junto, um foco inclusive de financiamento, de nos ajudar nesse financiamento, já que há por parte de algumas autoridades tanta preocupação que eles nos ajudem sim a financiar”. Porém, rechaçou a ideia de que tenha solicitado uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

“O governador nunca pediu uma GLO. Não cabe ao governador pedir GLO. O governador tem que pedir ajuda. Tem que pedir gente, tem que pedir infraestrutura, tem que pedir recurso, tem que pedir maquinário, tem que pedir inteligência”, esclareceu, afirmando que não cabe a ele dizer ao governo federal qual instrumento jurídico deve ser usado.

O governador mencionou ainda a possibilidade de criação de um comitê para combater o crime organizado, algo que seja efetivo e permanente para diminuir a capacidade bélica e financeira das organizações criminosas.

Legalidade e transparência

Cláudio Castro defendeu a legalidade da operação, destacando que ela foi fruto de “mais de um ano de investigação” e “mais de 60 dias de planejamento que incluiu o Ministério Público”. Ele garantiu que o governo está aberto à fiscalização dos órgãos de controle.

“O Rio de Janeiro não tem medo nenhum de fiscalização, de responder ou de falar o que aconteceu. Ontem foi uma operação de cumprimento de mandado judicial”, afirmou. “Temos muita tranquilidade de defendermos tudo o que foi feito ontem e de que caso alguém erre também ficar à disposição da lei qualquer um que tenha saído dos ditames da lei, tem a lei como sua seu grande guarda-chuva e arcabouço.”

Homenagem aos policiais mortos

Ao final de seu pronunciamento, o governador prestou homenagem aos quatro policiais mortos na operação.

“No mais, é agradecer as nossas polícias e, como momento final, mais uma vez queria me solidarizar com as famílias dos nossos quatro guerreiros que ontem deram a vida para libertar a população. Aquelas foram as verdadeiras quatro vítimas que tivemos ontem”, declarou.

Castro afirmou que determinou amparo total e proteção do Estado às famílias dos policiais mortos. Nas redes sociais, o governador comunicou que os agentes serão reconhecidos e promovidos.

“Como reconhecimento pela bravura e dedicação, os quatro serão promovidos postumamente. A homenagem simboliza o respeito do estado àqueles que deram suas vidas por um Rio mais seguro”, publicou Castro.

Agora, o governador conversa, por videoconferência, com governadores de outros estados e representantes do governo federal, para tratar de ações integradas de combate ao crime organizado.

Transferência de presos para presídios federais

Cláudio Castro (PL), pediu nesta terça-feira (28) ao governo federal a transferência de nove presos ligados a facções criminosas do estado para presídios federais de segurança máxima.

O pedido foi feito e autorizado no mesmo dia, segundo fontes do Ministério da Justiça. As vagas federais serão destinadas a criminosos apontados como lideranças do Comando Vermelho (CV).

O saldo da operação

A ação, batizada de ‘Operação Contenção’, mobilizou cerca de 2.500 agentes e visava cumprir mais de 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho.

A ofensiva deixou um rastro de violência e números alarmantes. O total de mortos chegou a 136, sendo quatro policiais, dois agentes da Civil e dois do Bope. Entre os 81 presos estão líderes do Comando Vermelho. Além disso, a ação resultou na apreensão de 93 fuzis, pistolas, granadas e mais de meia tonelada de drogas.

Ao menos 19 pessoas ficaram feridas. Dessas, quatro policiais, três vítimas e 12 suspeitos. O delegado-adjunto da Delegacia de Repressão a Entorpecentes está entre os baleados e segue em estado grave.

Nesta manhã, moradores da região da Vacaria, na Serra da Misericórdia, retiraram mais de 70 corpos de uma área de mata e os levaram até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, na Penha. O relatório oficial divulgado neste terça registrava inicialmente 64 mortes, mas, com os novos corpos encontrados, o total ultrapassa 130 vítimas.



Tupi.FM