Cidade do Rio já vacinou mais de 14 mil pessoas de mais de 75 anos com dificuldades de locomoção


Moradores da Cruzada São Sebastião, no Leblon, os agentes comunitários de saúde Íris da Silva Brito e Milton Gomes Nunes Júnior têm subido e descido as escadas dos dez blocos do conjunto habitacional como nunca, desde o início da chegada das vacinas contra a Covid-19. Eles fazem parte do programa da prefeitura que já imunizou 14 mil pessoas com mais de 75 anos que têm dificuldade de locomoção na cidade. Nesta sexta-feira, o “delivery” bateu à porta de mais 18 idosos que vivem no condomínio, onde os prédios de sete andares não têm elevador.

— Eu me sinto aliviada de tomar a vacina. Estava preocupada, vejo todos os dias na televisão a situação como está. Fiquei muito feliz quando o meu marido me avisou que eu poderia ser vacinada em casa — disse Marlene Rosa Gonçalves, de 79 anos, que foi contaminada recentemente pelo novo coronavírus.

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Marlene sequer levantou da cama para receber a aplicação. Ela contou que ficou internada no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari. Mas, agora, com a vacina, já faz planos para rever a Lagoa Rodrigo de Freitas, uma das suas paisagens favoritas:

— Agora, estou doida para passear um pouquinho. Estou presa há muito tempo no apartamento. Queria só pegar um táxi e olhar a paisagem.

Dijanira Chagas da Silva, de 86 anos, também foi imunizada
Dijanira Chagas da Silva, de 86 anos, também foi imunizada Foto: Márcia Foletto

“É a minha vez?”

A chegada de Íris e Milton ao conjunto com aquela caixa térmica azul é motivo de alegria e expectativa. “Quando vai chegar a minha vez, Íris?”, pergunta um dos moradores pela janela. Os dois agentes sabem os nomes das quase cinco mil pessoas que vivem na Cruzada. Eles, que também acompanham de perto a saúde de moradores da vizinhança, passaram a ter a missão de, junto com a equipe de médicos e enfermeiros, localizar os idosos acamados ou com dificuldade de locomoção.

— Eu amo a minha comunidade e quero proporcionar saúde e qualidade de vida às pessoas — afirmou Íris.

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Ao saber da chegada da equipe, Dejanira Chagas da Silva, de 86 anos, logo pediu ajuda para se sentar num banquinho no corredor do prédio. Flamenguista “demais”, como frisou, a idosa disse que a sexta-feira foi dia para comemorar em dobro: o título do Campeonato Brasileiro e a vacinação, tão esperada por ela.

— Eu estou numa felicidade só — exclamou ela, enquanto recebia a dose da Oxford/AstraZeneca.

Após ser imunizada, ela ressaltou a importância de continuar se prevenindo. Mas revelou a vontade que tem de visitar sua terra natal, o Espírito Santo.

— Temos que nos prevenir, né? Usar máscara, álcool. Muita gente não está ligando, mas eu ligo. Ainda quero viver mais um bocadinho. Quero ver meus netos, bisnetos e tataranetos grandes — afirmou, sorrindo.

Marlene Benedito Falcão, de 79 anos, recebe sua dose
Marlene Benedito Falcão, de 79 anos, recebe sua dose Foto: Márcia Foletto

A vacinação de Walter Lopes, de 81 anos, também garantiu uma cena de muita emoção. Com a intimidade de quem mora ali desde que nasceu, há 32 anos, Íris o chamou pela fresta da porta: “Major! O Major está aí?”. E, logo, parentes atenderam. Walter, ou o Major, é um dos primeiros moradores da Cruzada São Sebastião. Ele contou que sua infância, muito humilde, foi na Favela da Praia do Pinto, que foi removida das margens da Lagoa:

— Estou feliz, muito feliz, graças a Deus! Agora, vou poder abraçar a família. E, se Deus quiser, esse coronavírus vai começar a ir embora agora.

Há ainda 1.590 idosos cadastrados para receber a vacina em casa em toda a cidade nos próximos dias. Os idosos acamados, ou com dificuldade de locomoção, que já são assistidos em casa pelas equipes da Saúde da Família, como é o caso do Cruzada São Sebastião, não precisam pedir a vacinação, visto que faz parte da rotina de assistência. Já nos demais casos, a família deve ir à unidade de saúde de referência do seu endereço, que pode ser consultada no serviço “Onde ser atendido”, da prefeitura, ou preencher um cadastro no endereço www.smsrio.org/agendamentovacina. A equipe de saúde faz o cadastro do paciente e marca a visita domiciliar para vacinação, que pode acontecer num prazo de até 30 dias, conforme cronograma de cada unidade.





Fonte: G1