Campus da antiga Gama Filho deve ser transformado em área de ‘conhecimento, inovação e empreendedorismo’


Símbolo do abandono do bairro da Piedade, na Zona Norte do Rio, o campus da antiga Universidade Gama Filho (UGF), finalmente, terá uma nova destinação. A notícia do decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes (DEM), no último dia 5, no qual desapropria o imóvel da UGF, deu um alento aos moradores e credores, que esperavam uma definição desde a falência do grupo, em 2014.

O prefeito já anunciou a ideia de fazer no lugar um grande centro de ensino com o apoio da Fecomércio-RJ. O secretário municipal de Fazenda, Pedro Paulo, explicou ao GLOBO que quer transformar o local numa “zona franca de conhecimento, inovação e empreendedorismo” nos moldes de Huaqiangbei, considerado o maior mercado de eletrônicos do mundo, em Shenzhen, na China.

Pedro Paulo ressalta que, quando o assunto é revitalização do Rio, os locais citados são sempre o Centro e o entorno da Avenida Brasil:

— Nas rodas de discussão sobre as melhorias para o Rio, ainda na época da campanha eleitoral, o assunto Gama Filho sempre surgia. O campus seria o ambiente ideal, já vislumbrando a retomada econômica após a pandemia, para aceleradoras de startups e incubadoras de empresas na área tecnológica. Seria um lugar de criação, de troca de ideias, como temos em Shenzhen. Foi como fizeram no Vale do Silício, na Califórnia (berço das maiores empresas de tecnologia do mundo). Temos que juntar os cérebros, como eles fizeram, para buscar inovações — sugere Pedro Paulo.

Universidade do carnaval

Segundo ele, também há sugestões de criar a universidade do carnaval no local.

— Sugeri ao prefeito um grupo de trabalho para discutirmos, não só o aspecto econômico, mas ainda o educacional, tecnológico e cultural. Nos destacamos na área do carnaval e do futebol — observa Pedro Paulo. — O espaço fica numa área privilegiada. Perto de Madureira. Será importante, inclusive, para reativar o comércio — conclui.

Não está descartada a redução do IPTU na Piedade, para incentivar a reabertura do comércio local.

As boas notícias que irão impactar no futuro da Gama Filho, na verdade, começaram no mês passado. Sem muito alarde, o campus passou para a massa falida. A pedido do juízo da 7ª Vara Empresarial, peritos judiciais avaliaram, na última semana, o valor do imóvel em R$ 308 milhões. Ao longo destes sete anos, o campus sofreu pelas ações de vandalismo e furtos. Houve até um incêndio no prédio principal da Rua Manoel Vitorino, em novembro do ano passado.

O campus tem 57.300 metros quadrados de área construída e capacidade para 40 mil estudantes. Mas, quando fechou, havia cerca de 9 mil alunos, muitos até hoje não conseguiram ter o diploma, porque a universidade foi descredenciada pelo MEC, antes de ser decretada a falência do Grupo Galileo, responsável, na época, pela Gama Filho e UniverCidade.

O advogado Gustavo Licks, um dos três administradores judiciais da massa falida, explica que a indenização pela desapropriação do imóvel pagará os ex-funcionários e os ex-alunos que ganharam o direito a reparação por terem sofrido danos morais e financeiros.

— Como carioca, vejo como muito positiva a ideia de se criar um centro de conhecimento, uma vocação local. Já como administrador da massa falida, será importante pagar os 3 mil trabalhadores e as indenizações para os ex-alunos. Foram tantos postos de trabalhos fechados tanto na universidade como no comércio local. A região deve ser revitalizada pela prefeitura — imagina Licks.

A Fecomércio informou ao município que há interesse de criar uma unidade do Sesc, do Senac e também do Sebrae no prédio.

Já o presidente da Câmara Comunitária da Piedade, Paulo Maciel, comemora a decisão de desapropriar o campus:

— O bairro perdeu muito nestes anos. Estamos em campanha para manter o nome de Gama Filho no prédio. É a marca da Piedade.

As reportagens sob o selo “Reage, Rio!” têm apoio institucional de Rio de Mãos Dadas, uma iniciativa da Fecomércio-RJ.





Fonte: G1