Cachorros mortos em Magé receberam insulina, confirma Secretaria Estadual de Saúde


Os onze cachorros mortos no último sábado após vacinação antirrábica no posto USF Britador, em Magé, receberam, na verdade, insulina. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Saúde nesta quarta-feira.

Segundo a Prefeitura de Magé, 20 animais precisaram de atendimento veterinário, 11 morreram e um está internado. A prefeitura já tinha dito que o imunizante poderia ter sido substituído por insulina de uso humano equivocadamente.

Tutores dos cachorros mortos relataram que os animais começaram a convulsionar menos de uma hora depois da aplicação da substância e morreram no mesmo dia.

Segundo a prefeitura, seis funcionários foram afastados dos cargos na clínica de saúde e o município vai arcar com os custos das clínicas veterinárias que realizaram o atendimento aos animais.

Nesta quarta-feira foi realizada uma reunião entre a Secretaria de Estado de Saúde com integrantes do Ministério da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde de Magé e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro para tratar do assunto. Investigações das vigilâncias ambientais estadual e municipal concluíram que os cachorros receberam insulina no lugar da vacina contra a raiva. Assim, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que não é necessária a suspensão da vacinação dos pets no estado, nem a interdição dos lotes de vacina. Os cachorros que morreram ainda vão passar por necropsia. O inquérito policial sobre o caso está com 65ª DP (Magé), que realiza diligências.

Tutores sofrem com perda dos pets e buscam justiça

Todo dia 11h da manhã, a pensionista Maria Helena Teixeira, de 72 anos, colocava o almoço da Tigresa. A cachorrinha de 16 anos estava com ela e o marido, o aposentado Mario Silva, de 66, há quase 10, e era uma “herança” do pai dela desde que ele morreu, já que a Tigresa vivia com ele. O hábito de colocar a comida para a cachorrinha é uma memória que dói para o casal, que perdeu a Tigresa no sábado depois de levá-la para vacinar no posto em Santo Aleixo.

— Era uma cachorra muito maravilhosa. Todas as crianças aqui da rua brincavam com ela — lembra o aposentado.

Mario Silva viveu momentos de desespero quando, depois de retornar do posto de saúde, viu a Tigresa passando mal.

— Sábado eu levei a Tigresa no PSF Britador, dei a vacina e voltei com ela para casa. Quando botava a coleira, ela se sentia uma donzela. Botei ela no quintal e sentei na varanda. E minha esposa veio depois falando que ela estava passando mal. Ela se batia, espumava e gritava. Aquilo me deixou nervoso — conta.

O aposentado voltou ao posto de saúde, onde diz ter sido orientado a oferecer leite para o animal, mas não surtiu efeito, e poucos minutos depois a Tigresa morreu.

— Era uma filha para nós, era tudo — lamenta.

Tigresa estava na família há 16 anos
Tigresa estava na família há 16 anos Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Mais uma vez ele voltou ao posto de saúde, mas para avisar que a cachorrinha tinha morrido, e viu outra mulher relatando ter perdido dois de três cachorros que ela cuidava.

O casal diz que foi procurado na manhã desta quarta-feira por funcionários da prefeitura, que afirma que uma psicóloga e uma assistente social estão realizando visitas psicossociais às famílias que perderam seus animais.

— Me perguntaram se eu queria outro cachorrinho. A gente com essa idade, passando pelo que estamos passando e perguntar se a gente quer outro cachorrinho é demais! — diz indignada a pensionista.

Um grupo de cerca de dez tutores dos cachorros que morreram após a aplicação da insulina se articulam para buscar providências na justiça. Como o inquérito policial ainda não foi concluído, eles ainda não sabem quem será processado pelo erro, mas buscam reparações.

— Estamos com uma advogada que está ajudando. A gente não pode deixar barato, porque perdemos um membro da família. É como um filho. Quando a gente ama realmente o animal, cuida — diz o auxiliar de pedreiro, Wesley Rapouzo, de 23 anos, que perdeu dois dos três cachorros que ele cuidava.

Pimpão não sobreviveu
Pimpão não sobreviveu Foto: Reprodução/Acervo pessoal

O único que sobreviveu foi vacinado depois e tomou, de fato, a antirrábica. Pimpão e Lupin chegaram a ser levados para uma clínica veterinária, mas não sobreviveram. Wesley conta que na clínica havia outros cachorros com os mesmos sintomas.

— No desespero vendo um tendo convulsão atrás do outro, levei na veterinária. E já tinha cinco cachorros lá com as mesmas reações que os meus. Foi uma coisa de louco ver tanto cachorro passando mal. Foi horrível de se ver — lembra o jovem.

O auxiliar de serviços gerais Daniel Lopes, de 43 anos, também tem sofrido com a ausência de Beethoven, que tinha um ano e seis meses, e chegou na família ainda filhote. Ele também foi levado para vacinar no sábado e morreu no mesmo dia. Os enteados de Daniel, uma criança de 5 anos e outra de 9 anos estão inconsoláveis.

Beethoven recebeu insulina no lugar da vacina antirrábica
Beethoven recebeu insulina no lugar da vacina antirrábica

— Era um cachorro muito dócil. As crianças choraram e estão sentindo falta dele. A gente estava começando a fazer uma casinha do cachorro, ele nem aproveitou. É um membro da família. A gente cria desde pequenininho. Até agora parece que a ficha não caiu. Eu chego em casa e vejo o quintal vazio… é triste. Ele estava com saúde, estava bonzinho — diz.





Fonte: G1