Barreira sanitária entre Niterói e São Gonçalo gera congestionamentos e debates


A barreira sanitária instalada por Niterói para controlar a entrada de pessoas de municípios vizinhos começou com engarrafamento. Nesta quarta-feira, uma fila de carros se formou na Alameda Boa Ventura.

Agora, a temperatura de quem chega a Niterói é aferida. É mais uma iniciativa para conter a Covid-19. Lá, apenas serviços essenciais funcionam nas últimas três semanas. Nos mercados, gôndolas que não sejam de alimentos estão lacradas.

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Já em São Gonçalo, por exemplo, centros comerciais, barbearias e salões funcionam das 12h às 20h. O horário permitido a bares e restaurantes é das 11h às 21h. A estratégia de saúde discrepante dos dois municípios já se reflete nas ruas. Em uma, lojas fechadas e calçadas vazias, em outra, movimento intenso. Na Estrada Caetano Monteiro, no Trevo de Maria Paula, em Niterói, os moradores dos condomínios Aldeia Grande e Village Pendotiba podem só atravessar a rua para consumir sob regras do vizinho.

— No mercado, está tudo liberado — disse Maurício Soares.

Guarda municipal afere temperatura de homem em caminhão em Niterói
Guarda municipal afere temperatura de homem em caminhão em Niterói Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Diferenças em números

Desde março, o prefeito de São Gonçalo, Capitão Nelson (Avante), amenizou as regras. Na pandemia, a cidade teve 1.885 óbitos contra 1.365 de Niterói. Uma diferença de 30%. Desde a flexibilização do vizinho, Niterói teve 92 óbitos e São Gonçalo, 200, ou 117% a mais.

Em live na segunda-feira, o prefeito de Niterói, Axel Grael, citou as aglomerações em municípios vizinhos para justificar o uso de barreiras sanitárias:

— Hoje, 30% dos internados em Niterói são de cidades vizinhas. Desse total, dois terços são de São Gonçalo.

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São Gonçalo tem 1 milhão de habitantes contra 515 mil de Niterói, segundo projeção do IBGE. Porém, Niterói concentra mais idosos, um grupo de risco maior. Assim, a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes é de 257,2 em Niterói, e a de São Gonçalo, 164,4.

A pesquisadora da UFRJ Ligia Bahia concorda com o posicionamento de Niterói, mas alerta:

— A preocupação é pertinente quanto à disseminação da pandemia. Mas, como Niterói sempre foi polo de internações para municípios vizinhos, por ter rede de saúde maior, as barreiras sanitárias não podem ser usadas para impedir que outras pessoas tenham acesso a atendimento hospitalar na cidade.

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Segundo Charbel Tauil, presidente do Sindilojas de Niterói, 60% dos funcionários do setor são de São Gonçalo. Já no Mercado de Peixe São Pedro, 80% dos 500 empregados são do município vizinho.





Fonte: G1