atleta da seleção masculina de handebol, João Pedro começou carreira em projeto da escola e treinava no quintal


Nascido e criado em Comendador Soares, Nova Iguaçu, o jogador da seleção brasileira de handebol João Pedro da Silva, de 27 anos, começou a carreira em um projeto do Colégio Estadual Antônio da Silva (Ceas), no mesmo barirro, e hoje brilha em Tóquio, em sua segunda Olimpíada. Ele entra em quadra nesta quarta-feira, 27 de julho, às 7h30 da manhã (horário de Brasília), contra a Espanha. A torcida é grande, claro, principalmente na Baixada Fluminense, onde os pais do atleta acompanham orgulhosos cada jogada do filho.

— A gente sempre gostou de acompanhar os Jogos Olímpicos, só não imaginamos que íamos ver nosso filho lá — conta a mãe de João, a professora Noemi Francisco da Silva, de 54 anos.

O contato com o handebol começou na adolescência, graças ao projeto do Ceas, que incentiva os jovens a mandarem bem nos estudos e os leva para campeonatos da modalidade com o Nova Iguaçu Handebol Clube, time dos alunos. Mas a estrada da Baixada até a Europa, onde João Pedro já atuou em diversos clubes, e, Tóquio, no Japão, para esta Olimpíada, não foi um caminho fácil, como lembra a mãe do atleta.

— O início foi bem difícil. As coisas eram muito complicadas. Os tênis eram muito caros, as quadras eram muito ruins. A gente vivia de rifa. Era muito engraçado, era uma coisa divertida — lembra Noemi, que chegou a achar que o interesse de João pelo esporte era apenas coisa de adolescente.

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No quintal de casa, Noemi e Ivair exibem as medalhas de João e seus irmãos
No quintal de casa, Noemi e Ivair exibem as medalhas de João e seus irmãos Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

A família, humilde, se organizava para vender rifas e comidas para custear as passagens para os campeonatos. João Pedro tinha 12 anos quando começou a jogar handebol na escola, até que um clube de São Paulo entrou em contato com a direção com interesse em levá-lo para treinar. Ele tinha 15 quando se mudou para São Paulo para jogar no Pinheiros.

O interesse pelo esporte foi positivo também para a família, diz o pai, o ferroviário Ivair da Silva, de 56 anos:

— O esporte busca a disciplina, então foi bom para a gente o interesse dele. Não importava aonde ele ia chegar, o que ele ia ser, pelo menos o esporte naquele momento ia direcionando o João para ser um homem com responsabilidade.

No quarto de infância do atleta, os brinquedos foram trocados pelas medalhas que ele e seus dois irmãos colecionam. O mais velho, Marcos Antônio, de 29 anos, também jogava handebol na época da escola, mas não seguiu na carreira. Já o mais novo, Matheus, de 24, acompanhou o irmão e também faz parte da seleção brasileira, mas não foi convocado para a Olimpíada. João e Matheus, aliás, defendem equipes da Espanha e já rivalizaram em quadra.

Os pais posam no quarto onde João e seus irmãos guardam prêmios e recordações do esporte
Os pais posam no quarto onde João e seus irmãos guardam prêmios e recordações do esporte Foto: Domingos Peixoto

— Eles sempre gostaram de esportes, e o quintal sempre foi muito grande. Então era um campo aqui. Era futebol, muita bola… Depois virou um campo de handebol. Como essas paredes já levaram bolada! Às vezes o gol era a porta da sala da minha mãe — lembra, sorrindo, a mãe orgulhosa, Noemi.

A família investiu duro para que João pudesse seguir seu sonho como atleta, e ele conseguiu convencer os pais de que havia futuro no esporte como profissão.

— Nós tivemos que ter uma visão junto com ele. A gente vê história de pais que não ajudam, porque às vezes é mais fácil dizer: “Filho, você precisa trabalhar”. A gente viu muitos meninos tendo que fazer essa escolha do trabalho. A gente optou por se virar, e graças a Deus nunca faltou nada. Eu olhava o futuro no esporte e não via nada, mas ele conversando com a gente mostrava que tinha, sim. Foi muito bom a gente ter confiado nele e ter deixado as coisas tomarem o rumo que tomou — vibra a mãe.

Nos Jogos de Tóquio, após a Espanha, o Brasil ainda pega a Argentina (quinta-feira, 29, às 21h) e a Alemanha (domingo, 1º de agosto, às 7h30) pelas fases de grupo para tentar uma vaga nas quartas de final. O handebol masculino perdeu as duas primeiras partidas, contra a Noruega e contra a França.





Fonte: G1