Uma ondulação no asfalto da São Clemente, nas proximidades do Colégio Santo Inácio, por pouco não provocou um tombo na presidente da Associação de Moradores de Botafogo, Regina Chiarádia, quando ela atravessava a rua. A via, que tem desníveis e ralos afundados, decorrentes de remendos no pavimento, e está com a sinalização horizontal apagada, foi incluída entre as 11 que, segundo a secretária municipal de Conservação, Anna Laura Valente Secco, vão deflagrar a volta do Asfalto Liso, a partir de 2 de fevereiro. Orçado em R$ 585 milhões, o programa vai contemplar, até 2024, pelo menos 290 corredores de tráfego e logradouros muito movimentados que somam 426,3 quilômetros de extensão.
— O projeto precisaria ser ampliado para ruas internas de Botafogo, que estão um terror. Todos os dias aparecem buracos novos. A operação tapa-buraco cobre, mas se formam caroços nas pistas. Os carros pulam, e os pedestres tropeçam — conta Regina Chiarádia.
Anna Laura explica que, embora tenham sido escolhidas as 290 vias a serem beneficiadas, algumas poderão ser substituídas em função de emergências. E a possibilidade de ampliação não está descartada, diz a secretária:
— Chegamos aos 290 logradouros conversando com as subprefeituras e levando em conta a importância delas em termos de tráfego e as condições delas. Se conseguirmos correr, faremos mais. Dependemos muito do tempo. Se chove, precisamos parar o serviço. Mas faremos uma rua atrás da outra. Não podemos fazer tudo ao mesmo tempo, porque daria um nó no trânsito da cidade.
Bloqueio noturno, parcial ou total
Os preparativos para deflagrar o serviço iniciaram. Técnicos começaram o levantamento topográfico da Rua Mário Ribeiro, um das 11 vias por onde o projeto vai começar (as outras são Autoestrada Lagoa-Barra, Avenida Padre Leonel Franca, Avenida Borges de Medeiros e ruas São Clemente, Real Grandeza, Visconde Silva e Pinheiro Guimarães, na Zona Sul; além do Boulevard 28 de Setembro e das ruas Felipe Camarão e São Francisco Xavier, na Zona Norte).
A CET-Rio também está organizando o esquema de tráfego. Em algumas vias, o trabalho será feito à noite, e haverá interdições parciais e totais.
Executado nas gestões anteriores do prefeito Eduardo Paes, o Asfalto Liso prevê fresagem (raspagem do asfalto antigo), recapeamento e pintura horizontal. Conforme a prefeitura serão utilizadas soluções tecnológicas de primeiro mundo, como o asfalto-borracha e o asfalto modificado com polímero. Esse material, informa o município, melhora o atrito do pneu com o pavimento, diminuindo os acidentes e também a poluição sonora, já que abafa mais os ruídos.
Das 290 vias, 225 — localizadas no Centro e nas zonas Sul, Norte e Oeste — já tem empresas encarregadas das obras. O edital das outras 65, de Barra, Jacarepaguá e adjacências, será lançado em breve.
— O Asfalto Liso é fundamental para a cidade, e nunca deveria ter sido suspenso. Vamos torcer para que seja ampliado com urgência para vias internas. Eu me preocupo de o programa ser usado num ano eleitoral, em que seriam asfaltadas na frente as ruas dos candidatos apoiados pelo prefeito. Espero e torço para que isso não aconteça — avalia a vereadora Teresa Bergher (Cidadania), que faz acompanhamento sistemático do orçamento e de gastos com conservação.
‘Parece que estamos na praia’
Professor do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Ronaldo Balassiano é outro a defender a implantação de asfalto de padrão internacional em toda a cidade e não apenas em corredores:
— Se a gente pensar na segurança das pessoas, na qualidade de vida de uma cidade que se diz maravilhosa, isso é algo bastante importante. As pistas do Rio estão horríveis para quem anda de carro, ônibus, caminhão e a pé. Esquecem que o Rio é muito quente. Fazem tapa-buraco e recapeamento, e, pouco tempo depois, se começa a ver uma série de ondas na pista. Parece que estamos na praia.
Na Zona Sul, em Copacabana, constam da lista do Asfalto Liso ruas internas (Santa Clara, Siqueira Campos, Figueiredo Magalhães, Constante Ramos), além de corredores (Barata Ribeiro, Raul Pompeia, Nossa Senhora de Copacabana, Francisco Sá, Rainha Elizabeth e Princesa Isabel).
— Seria necessário incluir outras transversais, como República do Peru e Domingos Ferreira, que são verdadeiras colchas de retalhos. É remendo em cima de remendo — propõe Horácio Magalhães, presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães.
Já do Centro foram incluídas na lista vias como Presidente Vargas, Rio Branco, Primeiro de Março, Henrique Valadares, Frei Caneca, Mem de Sá e Salvador de Sá.
A Rua do Riachuelo não está incluída? Nem a Avenida Nossa Senhora de Fátima? Será que não podem incluir essas vias? Elas têm muito buraco reivindica Berenaldo Lopes, presidente da Associação de Moradores do Centro, que reúne 45 ruas.
Fonte: G1