As histórias das famílias que esperam pelo auxílio anunciado pela Prefeitura do Rio


“Meu sonho é que isso acabe logo para eu conseguir um trabalho. É muito triste não ter comida dentro do armário. Hoje, vamos comer o arroz, feijão e uma sobra de frango”. Preparando o pouco que consegue de doações para alimentar a família, a cuidadora de idosos desempregada Vanilza Maria da Silva Rodrigues, de 42 anos, divide um barraco de três cômodos com outras 12 pessoas, em Senador Vasconcelos, na Zona Oeste. Segundo ela, a situação se agravou com o fim do auxílio emergencial do governo federal, que recebeu até dezembro. Sem ter dinheiro até mesmo para comprar gás, ela conseguiu um forno elétrico no lixo, no qual prepara as refeições.

— Infelizmente, muitas empresas não estão contratando. Fazemos um bico aqui ou ali, mas não é o suficiente para comprar comida — disse a cuidadora.

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O alívio para a família de Vanilza e de outras 900 mil pessoas poderá vir dos cofres municipais. O prefeito Eduardo Paes anunciou ontem, durante o “Reage, Rio!”, evento realizado pelos jornais O GLOBO e Extra, com o apoio do Rio de Mãos Dadas e da Fecomércio RJ, o programa Auxílio Carioca, que garantirá a distribuição de cerca de R$ 100 milhões para quem está sendo afetado pela pandemia. Os benefícios serão concedidos a cerca de 14% da população carioca ainda em março.

Vanilza Maria da Silva Rodrigues, de 42 anos, cozinha em um forno elétrico improvisado
Vanilza Maria da Silva Rodrigues, de 42 anos, cozinha em um forno elétrico improvisado Foto: Fabiano Rocha

Os valores vão variar de acordo com diferentes grupos. Cada uma das 50 mil pessoas cadastradas no Cartão Família Carioca receberá R$ 240, em média, totalizando R$ 12 milhões, a partir da próxima quarta-feira. Esse valor já estava previsto em orçamento e se refere a pagamentos atrasados do programa que já existe e à antecipação da parcela de abril.

Parcela adiantada

Já os responsáveis por 643 mil alunos da rede municipal que têm o Cartão Alimentação — benefício mensal — receberão R$ 108,50, por criança. Metade do custo de R$ 70 milhões será para antecipar o mês de abril e o restante será um complemento. A primeira parte será liberada até este sábado, e o restante até 2 de abril.

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Outras 23 mil famílias carentes inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal, que não são atendidas por benefícios como o Bolsa Família e o Cartão Carioca, terão direito a R$ 200. Elas devem procurar os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) ou os Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas), para buscar orientações sobre como ter acesso ao benefício.

— A ideia é que a gente ente fazer uma busca ativa dessas famílias — informou a secretária de Assistência Social, Laura Carneiro.

Elaine Moura Ribeiro, de 64 anos, foi buscar comida na casa de um parente
Elaine Moura Ribeiro, de 64 anos, foi buscar comida na casa de um parente Foto: Fabiano Rocha

O Auxílio Carioca vai atingir ainda cerca de 13 mil ambulantes cadastrados na prefeitura, que terão uma parcela única de R$ 500, cada. O objetivo, segundo o prefeito, é diminuir o impacto do feriado de dez dias que começa amanhã.

— Sei que essas restrições impactam brutalmente na vida das pessoas, que têm suas atividades econômicas interrompidas. Muita gente está passando necessidade, desempregada e sem condições de levar comida para casa. Esse drama, obviamente, quando tem paralisação, aumenta — afirmou Paes, destacando que, para viabilizar os pagamentos, conta com uma doação de R$ 30 milhões da Câmara Municipal.

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O governo do estado também se prepara para conceder um auxílio emergencial, o Supera Rio, a partir de abril. Estava previsto o pagamento de até R$ 300 para 400 mil fluminenses carentes, mas ainda não saiu a definição.

Na Região Metropolitana do Rio, um outro exemplo de ajuda aos necessitados vem de Niterói que, desde abril, transfere R$ 500 por mês a cerca de 50 mil famílias, microempresários individuais (MEI), taxistas e motoristas de aplicativo. Além disso, também paga um salário mínimo até nove empregados de empresas registradas na cidade. São Gonçalo, Caxias e Nova Iguaçu pagam auxílio alimentação aos alunos. Já o auxílio emergencial do governo federal deve voltar a ser pago no mês que vem.

Josilene Maria de Lira, de 36 anos, está desempregada e mora em um cômodo no bairro da Cidade Nova
Josilene Maria de Lira, de 36 anos, está desempregada e mora em um cômodo no bairro da Cidade Nova Foto: Fabiano Rocha

Enquanto isso, a aposentada Dagmar Zair de Araújo, de 66 anos, vizinha de Vanilza, se vira para sustentar três filhos e quatro netos com um salário mínimo. Só uma neta estuda na rede municipal, mas, por falta de documentação, não tem Cartão Alimentação.

— Estamos sobrevivendo com o material reciclável que uma filha cata nas ruas. Hoje, meu filho comprou um pacote de arroz. Ontem, minha filha ganhou um pacote de macarrão, que vou guardar. O almoço será arroz, feijão e salsicha — disse.

Tassiane Soares, de 26 anos, mostra o pouco de arroz que tem para comer
Tassiane Soares, de 26 anos, mostra o pouco de arroz que tem para comer Foto: Fabiano Rocha





Fonte: G1