Artista de Belford Roxo, Reginho Dançy se divide entre sucesso no passinho e o trabalho como barbeiro


Cria do Barro Vermelho, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o barbeiro Reginho Dançy manda bem no corte na régua, mas é mesmo famoso pela dança. Reginaldo dos Santos tem 22 anos e sonha em ser dançarino profissional de passinho. Ele dança desde os 9 anos e tem o funk como um estilo de vida.

— Gosto de cortar cabelo, mas a minha paixão mesmo é dançar. Eu amo! Quando estou dançando, me sinto livre de tudo, esqueço dos problemas. A dor de cabeça e o estresse passam, esqueço até o meu nome — brinca o barbeiro e dançarino.

Reginho trabalha como barbeiro desde 2017 num espaço que divide com um amigo, no bairro Heliópolis. A clientela chega até ele por causa da fama com o passinho.

— Ao mesmo tempo que fiquei conhecido na dança, fiquei conhecido como barbeiro, então isso me ajudou muito. O pessoal até fala: “Reginho agora está cortando cabelo, não é mais Dançy, é Reginho do Corte” — conta o jovem, que nega que tenha intenção de trocar o apelido que lhe deu a fama.

O barbeiro dançarino, que já participou de batalhas de passinho, diz que Belford Roxo, São João de Meriti e o bairro de Madureira, na Zona Norte do Rio, eram os melhores lugares para os eventos de disputa da dança, mas que houve uma queda. Ele notou que muitos desistiram de continuar no passinho:

— Acho que os dançarinos viram que não há muita oportunidade. Muitos são barbeiros ou têm outra profissão, porque desistiram. Mas eu penso que a gente tem um talento, é um dom.

Reginho faz o passinho no salão onde trabalha, em Belford Roxo.
Reginho faz o passinho no salão onde trabalha, em Belford Roxo. Foto: Domingos Peixoto

E foi numa batalha de passinho no Parque Madureira, seis anos atrás, que o cineasta Luiz Guilherme Guerreiro conheceu Reginho. Eles desenvolveram, juntos, o documentário “O corte da dancinha”, que estará disponível na plataforma do Festival Panorama Raft, hoje, às 20h. O filme conta a história de Reginho e de outro barbeiro que também é dançarino, Gabriel Lopes, do Rio. A ideia de misturar os dois foi uma proposta de pesquisa do diretor.

— Achei muito peculiar o fato de conhecer pessoas que dançavam e que cortavam cabelo ao mesmo tempo. O fato de conhecê-los a fundo e saber tanto do que eles gostam de fazer na vida, e na parte profissional, me permitiu fazer essa associação, de que talvez esses temas pudessem se relacionar, e o festival nos possibilitou pesquisar isso — diz o cineasta.

Reginho gosta de reafirmar sua identidade como morador de favela, seu estilo e sua comunidade, e acredita que as pessoas deveriam entender mais sobre as favelas para verem a potência do lugar.

— Eu mostro que sou de favela mesmo, e nada nem ninguém vai mudar isso. Tudo que eu faço tem a ver com a comunidade. Eu quero levantar onde eu moro, quero que seja visto — diz o dançarino:

— As pessoas acham que todo mundo que mora em comunidade tem algum envolvimento com uma parada errada. Acho que as pessoas deveriam pesquisar mais sobre quem mora em comunidade. Só assim vão entender. Vão ver que realmente existem talentos lá dentro, que tem trabalhador de verdade. Muitos estão lá dentro com medo de se expor aqui fora por falta de oportunidade.

E, para quem quer trilhar o sonho da dança, como ele, o barbeiro dançarino, que já participa de clipes e compartilha palcos com MCs, dá uma dica:

— O sonho é correr atrás, se esforçar mais um pouco, superar as críticas, que tem muitas. Deixar de lado as pessoas que não querem seu bem e mostrar mais sua imagem. Nem que seja um videozinho, posta. O que é importa é o que você está sentindo no seu coração, asua vontade de dançar. Divulgue seu trabalho.





Fonte: G1