Administradores não confirmam venda do Roxy, e moradores de Copacabana pedem preservação do cinema à prefeitura


Ainda menino, num dia qualquer da década de 1970, Horácio Magalhães foi barrado do Cine Roxy, em Copacabana. Os órgãos de censura impediam que crianças daquela idade assistissem a filmes como o que estreava naquela noite: uma sequência de “007”, estrelada por Roger Moore. Hoje, as portas do Roxy estão trancadas para Horácio — e para qualquer outro carioca que busca diversão — por outro motivo. Fechado desde o início da pandemia, salvo por uma reabertura de 21 dias entre outubro e novembro do ano passado, o último remanescente dos tradicionais cinemas do bairro, fundado em 1938 na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Bolívar, pode encerrar suas atividades definitivamente, como antecipou o colunista Ancelmo Gois.

— O possível fechamento do Roxy é uma facada na vida cultural do bairro — afirma Horácio, hoje diretor da Sociedade Amigos de Copacabana. — Com minha mãe, que tem 94 anos, assisti aqui ao “King Kong” original, o das Torres Gêmeas. A sessão estava tão lotada que vimos em pé, minha mãe até quis ir embora. Nasci e cresci no bairro, e o Roxy faz parte da minha história.

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Rumores no mercado imobiliário dão conta de que o espaço, que tem 2.500 metros quadrados, estaria à venda por R$ 30 milhões. Ao GLOBO, a Kinoplex, administradora do Cine Roxy, disse ainda não ter posicionamento nem sobre a possível venda do imóvel, nem sobre seu fechamento definitivo.

O Cine Roxy na década de 30, antes de ser dividido em salas
O Cine Roxy na década de 30, antes de ser dividido em salas Foto: Luiz Fernando Bastos/Arquivo

Precedente: Fiorentina

Mas moradores do bairro ainda não estão prontos para o último capítulo do Roxy. Horácio disse que a associação vai pedir à prefeitura a inclusão do cinema no cadastro de estabelecimentos tradicionais e notáveis do município, o que impediria a mudança de uso do imóvel. O La Fiorentina, antigo restaurante do Leme, também vítima da pandemia, entrou para a lista no mês passado. Procurado, o prefeito Eduardo Paes não respondeu se tem a intenção preservar o Roxy.

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Mas uma coisa é certa: se o imóvel for vendido, não poderá sofrer intervenções ou obras sem a autorização do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, porque a construção é tombada desde 2003.

Hoje, quem passa em frente ao cinema sente falta de sua antiga efervescência: as luzes e os holofotes estão desligados, não há mais cartazes coloridos nas paredes e, para arrematar o cenário de abandono, uma tela de obra, usada por operários que trabalham no imóvel, cobre parte do característico letreiro vermelho. Na década de 80, o espaço promovia o famoso “Corujão”, sessões à meia-noite, sempre lotadas.

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O Roxy está fechado desde o dia 22 de novembro. E, enquanto ele agoniza, moradores de Copacabana lamentam a perspectiva de nunca mais visitá-lo. É o caso de Elvira Pimentel, de 62 anos, síndica de um prédio bem em frente:

— Não importa o que venha no lugar: igreja, farmácia, loja… Se deixar de ser cinema, perdemos um local histórico.





Fonte: G1