‘Trabalhamos por amor, mas chegamos ao extremo’, diz médico de hospital de Santo Antônio de Pádua, no RJ | Norte Fluminense


Médicos plantonistas do único hospital público de Santo Antônio de Pádua, no Noroeste Fluminense, o Hélio Montezano, anunciaram, nesta quarta-feira (16), uma paralisação da categoria devido a atrasos no pagamento de salários e a condições precárias de trabalho. Além dos atendimentos de urgência e emergência, a unidade é referência para pacientes com a Covid-19.

“A situação está muito precária aqui no hospital. Trabalhamos mesmo por amor, mas chegamos a um ponto extremo. Não tem mais como ficar esperando. Decidimos paralisar os plantões e só voltar depois que efetuarem nosso pagamento. Também somos pessoas comuns e temos nossos compromissos para cumprir”, afirmou um dos médicos plantonistas da unidade em áudio divulgado nesta quarta.

De acordo com a categoria, os médicos estão com pagamentos atrasados desde agosto e temem não receber o salário deste mês.

“A verba que vem para a Saúde de Pádua não está chegando para os profissionais da Saúde e nem para os médicos”, denunciou o médico.

Os atrasos no pagamento também afetam os profissionais da enfermagem, segundo denúncias.

“Trabalhei [no hospital] num período de três anos e peguei a linha de frente da Covid-19. Fui demitida em agosto por cobrar o salário atrasado, que infelizmente ainda não pagaram. O técnico de enfermagem ganha mil reais por mês e ainda tem que cobrar o salário atrasado”, afirmou uma técnica de enfermagem que, por segurança, preferiu não se identificar.

De acordo com profissionais da unidade, por causa da paralisação, não havia médico para atender nenhuma das alas do hospital, incluindo a de Covid-19, durante toda a manhã desta quarta.

Além dos atrasos no pagamento, os médicos também denunciam a falta de insumos e medicamentos básicos no Hospital Hélio Montezano.

“Tem dias que chegamos pra trabalhar e não temos luva, não temos seringa, não temos soro, não temos equipo. Não temos, às vezes, nem dipirona, nem antibiótico, nem anti-inflamatório. Muita vezes, ou os pacientes compram do próprio bolso ou nós, médicos e enfermeiros, tiramos do nosso bolso para poder comprar”, disse o médico em áudio.

De acordo com outra denúncia enviada ao G1, as Unidade de Pacientes Graves (UPG) de Covid-19 e paliativos ficaram sem oxigênio no último domingo (13). O motivo seriam os atrasos no pagamento de um fornecedor do hospital. “Tivemos que pedir emprestado ao hospital de Aperibé, Miracema, Cambuci e Itaocara”, afirmou um profissional da unidade.

“Trabalhamos em situação precária de medicamento e de suporte para trabalho, mas mesmo assim, ao longo de todos esses meses, temos dado o nosso melhor. A Saúde de Pádua do jeito que está não pode continuar: com falta de medicamento, sem suporte nenhum para os médicos, e para o pessoal do Pronto Socorro e da Covid-19”, desabafou o médico que anunciou a paralisação.

O que diz a direção do hospital

Em nota enviada ao G1 no início da noite desta quarta-feira, a direção do Hospital Hélio Montezano confirmou o atraso no pagamento dos salários dos médicos e afirmou que está aguardando uma ajuda da Câmara de Vereadores para quitar o valor total da dívida médica, orçada em R$ 500 mil, segundo a unidade. A direção não informou, no entanto, o motivo do atraso.

A direção do hospital também não se pronunciou sobre a paralisação anunciada pela categoria.

Sobre as medicações e insumos básicos, a direção afirmou que o material é fornecido de acordo com a demanda e pedido da farmácia. “E todos estão sendo medicados até hoje [quarta] às 16:58”, declarou.

Já sobre a falta de oxigênio na unidade, a direção do Hélio Montezano afirmou apenas que teve dificuldade de comprar o item, mas que o oxigênio já foi fornecido.

“Estamos tentando passar a direção para a próxima da forma mais cordial possível, deixando todos a par da situação do hospital. Da saúde”, finalizou a direção da unidade em nota.



Fonte: G1