Investidores de Campos, RJ, entram na Justiça contra empresa do ‘faraó dos bitcoins’ pedindo devolução de valores | Norte Fluminense


Uma série de clientes de Campos, no Norte Fluminense, que investiram na G.A.S Consultoria Bitcoin entraram na Justiça contra a empresa, pedindo a rescisão do contrato e a devolução dos valores investidos. A G.A.S tinha como dono Glaidson Acácio dos Santos, preso em agosto por crimes contra o sistema financeiro.

O advogado Jefferson Almeida representa dez antigos clientes da G.A.S. Todos eles buscam a rescisão contratual com a empresa, após não receberem o retorno financeiro prometido. Os clientes de Jefferson investiram valores considerados de pequeno a médio porte, indo dos R$ 5 mil aos R$ 20 mil.

Glaidson Acácio dos Santos, preso na Operação Kryptos — Foto: Reprodução/TV Globo

“Vamos supor que você investisse R$ 10 mil, você teria 10% daqueles 10 mil reais mensalmente. A partir do momento que aqueles 10% não é cumprido, isso gera o direito de rescisão unilateral do contrato, ou seja, gera ao cliente o dinheiro de volta. Até no contrato tem uma cláusula por parte da G.A.S que fala sobre isso, que se você não cumprir o contrato, você gera a rescisão. Foi isso o que aconteceu”, explica Jefferson Almeida.

Dos dez clientes que entraram na Justiça, quatro já conseguiram liminares favoráveis para garantir a devolução do dinheiro. De acordo com os investidores, a empresa suspendeu os pagamentos após os desdobramentos da Operação Kryptos, realizada pela Polícia Federal em agosto e que culminou na prisão de Glaidson, suspeito de chefiar um esquema ilegal, conhecido como pirâmide financeira.

Glaidson é investigado por crimes contra o sistema financeiro, além de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Dinheiro apreendido na casa de Glaidson sendo contabilizado — Foto: Reprodução

A procura por escritórios como o do Jefferson tem sido cada vez maior, todos contando a mesma história.

“As pessoas continuam nos procurando. Hoje mesmo, mais cedo, eu estava aqui conversando com alguns clientes na perspectiva de entrar com mais ações”, disse Jefferson.

Outro advogado, José Paes Neto, calcula que, em todo o estado, já são 240 processos contra a empresa.

José também representa um investidor, que deixou R$ 100 mil na G.A.S. Ele também conseguiu uma liminar para garantir que o dinheiro seja devolvido.

“Diante do número de investidores que se tem conhecimento, dos valores envolvidos, há um risco bastante significativo de que não haja recurso suficiente para que todos os investidores sejam ressarcidos. Então, por isso, esse pedido liminar de arresto não só das contas da empresa, como também de reserva dos valores eventualmente bloqueados no processo criminal na Justiça Federal, como uma tentativa de resguardar os direitos desse investidor ao final do processo”, disse o advogado.

‘Pirâmide financeira do mundo moderno’

Para o professor de economia, Saulo Jardim, esquemas como o que a G.A.S. está sendo investigada não podem ser considerados investimentos de fato. “Não é considerado um investimento porque o recurso captado não é aplicado em nenhuma atividade financeira específica, nenhuma atividade produtiva”.

“A clássica pirâmide financeira vem com outra cara, aparece pra gente nesse mundo moderno com outra cara, porque, na verdade, quem garante a alta rentabilidade que o suposto investimento oferece são os novos entrantes no esquema. Eles garantem a alta rentabilidade das pessoas que entraram anteriormente no esquema”, alerta o professor.

Uma dica para saber se o investimento é confiável é pesquisar na internet. O site da Comissão de Valores Mobiliários, autarquia vinculada ao Ministério da Economia do Brasil, tem um espaço em que é possível buscar o nome da empresa que está oferecendo o investimento. Se o cadastro for encontrado, a chance da proposta ser confiável é maior do que se ele não aparecer na busca.

Por isso, antes de investir qualquer dinheiro, além de estudar a empresa, é importante também saber quais as condições que ela oferece.

“A primeira coisa, pra quem entende um pouco, assusta, né? Como assim 10% ao mês? Que ativo é esse que garante, com risco zero, uma rentabilidade de 10% ao mês? Eu não conheço nenhum, que chegue nem perto disso. Inclusive, hoje, um que chegue aos 10% ao ano é um ativo que paga muito bem em termos de retorno”, explica o professor.

“Pessoas próximas já me procuraram algumas vezes dizendo que tinham recebido oferta que rende 10% ao mês e perguntando se é confiável ou não, e eu falo: ‘Se garantiu 10% ao mês, não precisa nem me contar a história. Não é confiável!'”.



Fonte: G1