Caso Ana Paula Ramos: veja detalhes de cada depoimento do julgamento; cunhada foi condenada a 24 anos de prisão | Norte Fluminense


Na época, o caso gerou muita repercussão na cidade, que é a maior do interior do estado. Isso porque, a cunhada de Ana Paula, Luana Sales, foi apontada como mandante do crime. As duas se conheciam desde pequenas e, no dia do assassinato, tinham saído de casa para ver um vestido para a festa de casamento de Ana Paula, que aconteceria em poucos meses.

O G1 acompanhou, com exclusividade, as 21 horas de movimentação no Fórum de Campos, e traz os detalhes de cada um dos 14 depoimentos ouvidos.

O julgamento começou às 10 horas de segunda-feira (12) e terminou às 5h50 de terça (13).

Ana Paula Ramos foi baleada em uma praça de Campos em 2017 — Foto: Reprodução

  • 9h30 – as primeiras testemunhas começam a ser levadas para um espaço reservado e têm os celulares recolhidos;
  • 11h18 – começa o sorteio do sete jurados que decidirão o futuro dos acusados;
  • 12h15 – é liberada a entrada da imprensa, de estudantes de direito e dos familiares dos envolvidos no tribunal;
  • 12h19 – tem início o primeiro depoimento do julgamento, do delegado Luís Maurício Armond, titular da 146ª Delegacia na época do crime.

Depoimento de Luís Maurício Armond – delegado

À promotoria do Ministério Público, Armond explicou a dinâmica do crime de acordo com o que foi apurado na DP. O delegado, durante seu depoimento, destacou que não se lembra de muitos detalhes da investigação, já que se passaram quatro anos e, no cotidiano da Polícia Civil, os agentes lidam com muitos casos.

Armond descreveu Luana como uma “pessoa fria e vaidosa”, e destacou que a acusada “nunca colaborou com a investigação […], sempre com conversas desconexas e sem relação com a investigação”. Mesmo sem a ajuda de Luana, ele garantiu que “na reprodução (do crime), ficou nítido que houve negociação”.

A reconstituição do crime aconteceu no dia 11 de outubro de 2017, cerca de dois meses após a morte de Ana Paula.

Ao ser indagado por mais de uma vez pelas defesas dos réus sobre detalhes da investigação, o delegado reforçou que se lembra “de fatos notórios, coisas de procedimento do cotidiano não me recordo”.

  • 12h56 – começa o depoimento da inspetora Carolina Barbosa, da 146ª DP, que liderou as investigações do caso.

Depoimento de Carolina Barbosa – inspetora policial

O depoimento de Carolina foi o mais detalhado do julgamento. Primeiro, a policial contou como Luana foi identificada por eles como mandante do crime e a dinâmica inicial.

De acordo com ela, Luana pediu ajuda à uma amiga de escola para “dar um susto” em uma mulher que estaria ameaçando uma criança de três anos, que seria filha de uma tia de Luana. Essa amiga, então, pediu ajuda ao namorado, Marcello Henrique, que foi quem indicou Igor e Wermison para executarem o serviço.

Ainda de acordo com a investigadora, os quatro réus se reuniram no dia anterior ao crime na Praça de Custodópolis, onde Luana contou novamente a história de que uma criança estaria sendo ameaçada pelo alvo da execução. No dia, ela teria deixado claro aos cúmplices que a intenção era matar a vítima, e não apenas dar um susto, segundo Carolina. O encontro foi testemunhado por uma mulher, que foi até a delegacia prestar depoimento.

Carolina disse, ainda, que os cúmplices não sabiam que a história contada por Luana era falsa, e que foi a partir do momento em que descobriram a farsa que contaram a verdade sobre o crime.

A policial explicou que, pelo fato de Ana Paula ser uma pessoa muito querida e não ter envolvimento com nenhum crime, os executores se sentiram prejudicados por Luana, já que o caso gerou muita revolta na comunidade de Guarus.

Ela também informou que, de acordo com a investigação, os executores receberiam R$ 2.500 pela morte de Ana Paula. Carolina também contou que advogados responsáveis pela defesa de Luana teriam procurado os executores e oferecido dinheiro para que os mesmos inocentassem Luana. A presença dos advogados teria sido confirmada tanto no presídio onde Igor e Wermison estavam detidos quanto no presídio onde Luana estava, de acordo com o livro de visitas.

Questionada sobre a possível motivação do crime – fato que até hoje não ficou claro -, Carolina disse que, na investigação, surgiram algumas possibilidades.

Uma delas seria porque Ana Paula teria visto o carro de Luana parado na frente do banco, onde a acusada trabalhava, fora do expediente, o que levantou suspeitas. Luana era cunhada de Ana Paula, que teria levado a suspeita ao seu irmão, que à época trabalhava embarcado.

Outra hipótese levantada por Carolina envolvia um empréstimo que o marido de Luana teria feito à Ana Paula, para ajudar a jovem em seu casamento, que aconteceria dois meses após o crime.

Ainda de acordo com a inspetora, os depoimentos dos acusados e a reconstituição do crime confirmaram fatos que também foram comprovados por outros meios, como a localização dos celulares dos envolvidos no momento do crime e nos dias anteriores, além de câmeras de segurança de uma sorveteria onde Ana Paula e Luana estiveram antes do assassinato.

Sobre os depoimentos, a inspetora disse que a “única versão confrontante é da Luana”.

Os advogados de defesa questionaram Carolina quanto à identificação de Marcelo, que foi quem fez o contato entre Luana e os executores. A inspetora explicou, mais de uma vez, que o sistema de identificação de pessoas da Polícia Civil, aliado ao interrogatório dos envolvidos, fez com que os agentes chegassem até Marcelo.

  • 14h52 – é encerrado o depoimento da inspetora Carolina Barbosa e o tribunal entra em recesso para que os jurados almocem;
  • 15h38 – termina o recesso;
  • 15h39 – começa a ser exibido um depoimento em vídeo, da testemunha Layana Ribeiro.

Depoimento de Layana Ribeiro – amiga de Luana

Em seu depoimento, Layana, que era amiga de Luana, contoi que foi procurada pela acusada dias antes do crime. De acordo com Layana, Luana teria pedido ajuda à amiga para “dar um susto em uma mulher que estava ameaçando uma criança”.

Ainda segundo ela, em uma chamada telefônica, Luana contou a mesma história descrita pelos executores. Layana, então, sugeriu que a amiga procurasse a polícia e disse ter um tio que trabalhava como policial.

Depois disso, Luana não teria entrado mais em contato com a amiga.

  • 15h55 – os réus são retirados do tribunal e começa o depoimento de Patrícia Dutra, ex-namorada de Marcello Henrique e colega de Luana.

Depoimento de Patrícia Dutra – ex-namorada de um dos acusados

Patrícia contou durante o depoimento que Luana a procurou, por meio de mensagens em uma rede social, para saber se a colega conhecia alguém para “dar um susto numa mulher que tinha um caso com o marido da tia e estava ameaçando uma criança de quatro anos”.

O assistente de acusação questionou Patrícia sobre 10 contatos feitos entre telefones registrados no nome da depoente e de Luana, na semana do crime. Patrícia disse que não foi quem fez contato, mas esclareceu que seu namorado tinha acesso livre ao seu telefone.

Ao fim do depoimento, foi solicitado ao juiz que Patrícia ficasse até o final do julgamento, no caso de ser necessário realizar uma acareação entre a testemunha e os réus.

  • 16h15 – começa o depoimento de Ana Carolina Prates, que viu os quatro acusados um dia antes do crime em Custodópolis.

Depoimento de Ana Carolina Prates – testemunha

No depoimento, Ana Carolina disse que estava na Praça de Custodópolis na noite do dia 18 de agosto, véspera do homicídio, para um encontro de uma igreja, quando viu uma mulher loira saindo de um carro prata e encontrando com um homem. A movimentação chamou a atenção da jovem, que posteriormente viu os dois se reunindo com outros dois rapazes. Depois de um tempo, a mulher voltou ao carro junto do primeiro homem e entregou a ele o que parecia um pacote de cor branca e foi embora, segundo depoimento.

A defesa dos acusados, ao longo do depoimento de Ana Carolina, questionou a testemunha sobre as características que a fizeram identificar a mulher da praça como Luana. Ela disse que ela era branca e loira, e que a reconheceu após ver, em grupos de WhatsApp, a foto de Luana como sendo a mandante da execução de Ana Paula.

Quando percebeu que o encontro na praça poderia ter conexão com o homicídio, Ana Carolina foi até a 146ª DP, onde indicou aos policiais que procurassem imagens de câmeras de segurança da localidade.

  • 16h30 – começa o depoimento de Paulo Roberto Ramos Filho, irmão da vítima e ex-marido de Luana.

Depoimento de Paulo Roberto Ramos Filho – irmão da vítima

Paulo Roberto contou que, semanas antes do crime, sua irmã o alertou sobre ter visto o carro de Luana em frente à agência bancária onde a acusada trabalhava, fora do expediente do banco. Ele garantiu, também, que Luana foi confrontada por Ana Paula sobre o fato, sem saber dizer o que aconteceu depois.

Ele também relatou que entregava todo o dinheiro que recebia à Luana, em espécie, e que, caso ela precisasse dos R$ 2.500 pagos aos executores, não haveria a necessidade de realizar um saque bancário.

Depois, Paulo Roberto disse que a irmã pediu dinheiro emprestado para ajudar em sua festa de casamento, o que o irmão fez prontamente. Indagado pelos promotores, ele destacou que “Luana não gostava de emprestar dinheiro […], (uma vez) surtou porque o pai dela me pediu dinheiro”.

Ele também relatou que, no momento em que o primeiro executor foi preso, Luana não queria ir até a delegacia realizar o reconhecimento, mas que foi convencida pelo marido a ir.

Paulo Roberto se emocionou em diversos momentos do depoimento, em especial ao falar da irmã.

Quando questionado sobre o dia do crime, Paulo Roberto relatou que, minutos antes da irmã ser baleada, ele estava com o pai e com seu cunhado, marido de Ana Paula, quando a irmã contou ao marido que estaria na Praça do Rio Branco com Luana, aguardando uma amiga da cunhada.

Ao saber onde as duas estavam, Paulo Roberto e o cunhado passaram a ligar para as duas, com o intuito de alertá-las sobre o local, que de acordo com ele seria perigoso. Porém, os dois não conseguiram contato, nem com Ana Paula, nem com Luana.

De acordo com ele, Luana atendeu o telefone apenas às 17h57, quando contou do suposto assalto e disse que Ana Paula tinha sido baleada.

Ao fim do depoimento, Paulo foi questionado sobre supostas brigas que Luana teria tido com Ana Paula na igreja em que ambas frequentavam. Segundo a testemunha, ele só soube dos fatos após a morte da irmã.

  • 17h – começa o depoimento de Marcos Rafael Bessa, viúvo de Ana Paula.

Depoimento de Marcos Rafael Bessa – viúvo da vítima

Marcos Rafael se casou com Luana em abril de 2017, no cartório, mas o casamento no religioso e a festa aconteceriam apenas em outubro do mesmo ano. Ele contou que, no dia do crime, Luana insistiu que Ana Paula a acompanhasse enquanto a acusada experimentava um vestido, que seria usado no casamento da vítima, no qual Luana seria uma das madrinhas.

Emocionado, o viúvo afirmou que Ana Paula era uma pessoa “que fazia de tudo pros outros, era uma pessoa muito boa”, sem entender o que motivou o crime.

Ele contou, também, que o último contato que fez com a esposa foi às 17h41, minutos antes do crime.

Marcos também relatou que Ana Paula estranhou ver o carro da cunhada no banco quando ia para a faculdade, entre 18h30 e 19h. Segundo ele, isso aconteceu repetidas vezes.

  • 17h24 – começa o depoimento de Fabiana dos Santos, amiga de Ana Paula e Luana.

Depoimento de Fabiana dos Santos – amiga de Ana Paula e Luana

O depoimento de Fabiana foi um dos mais emocionantes do dia. Ao ser questionada sobre a relação com Luana, ela disse que as duas cresceram juntas, viveram muitas coisas lado a lado. Mas, ao ser questionada sobre Ana Paula, a jovem não conseguiu segurar as lágrimas ao dizer que “ela me completava […]. Era como uma irmã pra mim”.

Fabiana disse que sentia que Luana tinha ficado magoada pois Ana Paula teria um chá de lingerie antes da festa de casamento, evento que não foi realizado para Luana quando ela se casou com Paulo Roberto. Ela contou, também, que o chá aconteceria semanas antes do crime, mas que Luana sugeriu que a data fosse trocada para o dia seguinte ao crime. Ainda sobre o chá, Fabiana contou que Luana ignorava as mensagens sobre o evento e que tentou conversar com a amiga sobre o assunto, mas que ela negou estar chateada.

Quanto à relação entre as cunhadas, Fabiana disse que era uma “relação de respeito […], não era uma amizade tão forte”. Ela contou, também, que Luana teria causado problemas na igreja ao longo da adolescência, como o sumiço da roupa em que Ana Paula foi batizada, mas que isso foi tratado como um problema espiritual pelos membros da igreja.

Sobre o dia do crime, ela contou que Ana Paula não tinha interesse em ir, pois já tinha compromisso naquele dia, mas que Luana insistiu mais de uma vez e ela acabou aceitando.

Antes de encontrar com Ana Paula, Luana foi até a casa de Fabiana deixar o dinheiro que seria usado para comprar o presente da vítima para o chá de lingerie. A amiga da vítima contou que estranhou o fato de que Luana deixou o dinheiro com seu marido e disse que precisava ir embora, mas ficou dentro do carro por mais de cinco minutos falando ao telefone.

A quebra de sigilo telefônico de Luana comprovou, posteriormente, que Luana estava conversando com Igor na ocasião.

Após o suposto assalto, Fabiana disse que convidou Luana para dormir em sua casa, e que a acusada disse que precisava ir para sua residência tomar um banho. A amiga deixou Luana em casa e foi buscar sua filha na casa dos avós, mas quando voltou para buscar Luana, ela ainda não tinha tomado banho e estava em uma ligação telefônica.

Após Luana se arrumar, a amiga contou que estranhou “ela se arrumar e se maquiar depois de tudo ter acontecido”.

Dois dias depois do crime, Ana Paula faleceu e Luana foi presa. Ao saber do possível envolvimento da amiga, Fabiana foi visitá-la na delegacia, pois “eu era muito amiga das duas, da vida toda. Queria falar com ela porque, pra mim, ela não ia mentir”.

Ao conversar com Luana, a testemunha disse que se assustou porque “ela oscilava algumas emoções, falava que não teria coragem de fazer isso, mas não parecia ela”. Outro fato que chamou a atenção de Fabiana foi que Luana pediu que ela procurasse uma colega de trabalho da acusada e dissesse que “conforme nós combinamos, precisei te entregar o dinheiro do banco”.

Sobre o que poderia ter motivado o crime, Fabiana disse que ficou sabendo que Ana Paula precisava de dinheiro, mas que Luana não queria que Paulo Roberto emprestasse.

  • 18h23 – começa a ser exibido mais um depoimento em vídeo, da testemunha Laryssa Pinto, colega de trabalho de Luana.

Depoimento de Laryssa Pinto – colega de trabalho de Luana

Em depoimento, Laryssa contou que Luana enviou uma mensagem de voz logo após Ana Paula ser baleada. No áudio, Luana pede que a colega confirme a Paulo Roberto que ela precisava entregar R$ 500 a Laryssa, referente à uma diferença no caixa de Luana.

De acordo com o áudio, Luana teria feito um consórcio com uma prima e seu marido não sabia, e por isso precisou inventar a história. Na mesma mensagem, ela pede que a colega não a responda mais.

Na segunda-feira, dois dias depois do suposto assalto, Luana chegou ao trabalho, contou a história sobre o ocorrido e deu a ela os R$ 500 referentes à diferença do caixa, segundo Laryssa.

Ao ser questionada pelos policiais sobre o horário de saída do banco, Laryssa contou que era normal fazer hora extra e que ela e Luana saíam em horários próximos.

  • 18h55 – começa o depoimento de Ana Márcia Rocha, mãe da vítima.

Depoimento de Ana Márcia Rocha – mãe da vítima

Ana Márcia contou que, na segunda-feira após o crime, foi até a casa de Luana, que a fez esperar por cerca de trinta minutos na sala enquanto a então nora se arrumava para ir trabalhar. Cansada de esperar, a sogra entrou no quarto de Luana e perguntou “o que você fez com a minha filha?”.

Segundo Ana Márcia, Luana se limitou a dizer que não fez nada e pediu licença à sogra pois precisava ir trabalhar.

Ela também contou, de forma emocionada, que a filha estava prestes a realizar o sonho de se formar na faculdade e que convidou a mãe para ir junto no dia em que foi assassinada, mas que a mãe recusou. Muito emocionada, ela disse que “deveria ter ido, pois entraria na frente e poderia salvar a vida dela”.

Ao fim do depoimento, Ana Márcia contou que “não fazia gosto” do casamento entre o filho e Luana, que não era feliz com a união, mas que respeitou a decisão de Paulo Roberto.

  • 20h04 – começa o interrogatório de Igor Magalhães.

Interrogatório de Igor Magalhães – acusado

No início de seu depoimento, Igor confirmou sua participação na execução de Ana Paula. Ele também confirmou a participação de Wermison e garantiu que os dois estavam armados. Ao ser questionado sobre quantos disparos efetuou, ele disse que atirou “uma ou duas vezes, acidentalmente”.

Sobre o crime, ele disse que Luana entrou em contato com ele e Wermison, contando que uma criança de três anos estaria em cárcere privado e recebendo ameaças. Segundo ele, Luana deixou claro que a intenção era matar a vítima e foi acertado o valor de R$ 2.500 para a realização do crime.

Igor também confirmou que Marcello Henrique foi quem fez o contato entre os executores e Luana, mas disse que o mesmo não estava presente no encontro na praça de Custodópolis no dia anterior ao crime, informação que diverge de todos os depoimentos prestados pelo réu antes do julgamento. Sobre a mudança, ele disse que “[era] muita pressão na mente pela repercussão, mas só estava eu e Wermison”.

Sobre o dia do crime, Igor contou que chegou à praça do Rio Branco de bicicleta e viu as duas sentadas em um banco. Ele e o cúmplice abordaram as duas, momento em que sua arma teria disparado acidentalmente. Igor também confirmou que foi o primeiro a efetuar disparos.

De acordo com ele, a intenção não era matar Ana Paula, e sim aplicar um golpe em Luana e fugir com o dinheiro. “Minha intenção era dar um susto, pegar o que ela tinha e ir embora […]. Aceitei na intenção de dar um golpe, queria pegar o dinheiro e fugir sem matar”, contou Igor. Depois do crime, ele teria corrido para dentro de uma região de mata.

A arma usada no crime, segundo ele, foi vendida logo depois – outra mudança com relação aos depoimentos anteriores, em que o acusado alegou ter jogado o revólver no mato. Ele alegou ter se confundido nos depoimentos que prestou antes.

Ainda de acordo com o réu, ele começou a colaborar com a polícia no momento em que descobriu que a história contada por Luana não era verdadeira.

Igor contou, ainda, que depois de ser levado para o sistema prisional, recebeu uma visita de advogados que se identificaram como defensores de Luana. Eles teriam ofertado uma quantia em dinheiro para assumir toda a culpa do crime, sem envolver a mandante.

  • 20h48 – começa o interrogatório do Wermison Carlos Ribeiro.

Interrogatório do Wermison Carlos Ribeiro – acusado

Assim como Igor, Wermison confirmou a participação no crime e assumiu ter atirado em Ana Paula. Segundo o réu, ele efetuou apenas um disparo. Ele também afirma que Luana encomendou o crime e contou aos dois a história de que uma criança estaria sendo ameaçada pelo alvo da execução.

Ele conta que, no dia do crime, tinha ficado acertado de executar Ana Paula na Lagoa do Vigário, também em Guarus, mas que os dois passaram pelo local e estava muito cheio. Então, ambos entraram em contato com Luana, que insistiu que a execução acontecesse no dia e sugeriu a praça do Rio Branco, onde o crime aconteceu.

Wermison alegou ter atirado em Ana Paula com a vítima já no chão, com a cabeça para baixo.

Ana Paula foi executada com quatro tiros, três na região peitoral e um na parte de trás da cabeça.

Ele também informou aos advogados que Luana entregou a ele o envelope com dinheiro enquanto Igor abordava a vítima. “Ela correu em direção ao Igor. Ele se assustou e atirou, enquanto eu pegava o envelope”, contou o réu.

Wermison, assim como Igor, também mudou sua versão quanto à participação de Marcello Henrique no crime. Segundo ele, Marcello comentou que uma pessoa precisava “dar um susto em uma mulher” enquanto os três jogavam futebol em uma quadra.

Os dois executores, então, se colocaram à disposição para fazer o serviço e Marcello passou o contato de Luana. Com relação à presença de Marcello no encontro no dia anterior ao crime, Wermison também disse que o acusado não estava, mesmo tendo dado depoimentos anteriores dizendo o contrário.

Questionado pelo assistente de acusação sobre a mudança no depoimento, Wermison alegou: “não me lembro de dizer que o Marcello estava presente”.

  • 21h18 – começa o interrogatório de Marcello Henrique Damasceno.

Interrogatório de Marcello Henrique Damasceno – acusado

Em juízo, Marcello confirmou ter feito o contato entre Luana e os executores. Ele contou que ela entrou em contato por uma ligação via Facebook para encontrar alguém que “desse um susto” em uma mulher que teria acorrentado uma criança em casa. “Eu falei que ia ver e dei fim à conversa, sem ir atrás. Dois dias depois, ela ligou de novo”.

Marcello garantiu em todo o depoimento que não sabia da intenção de Luana em matar Ana Paula, dizendo que ela só “falou em susto, ameaçar e assustar”.

Assim como os dois executores, Marcello disse que não estava presente no encontro no dia anterior ao crime, e que não se lembra da acareação realizada entre os acusados após o homicídio. Marcello também alegou ter assinado o depoimento sem ler pois estava nervoso.

O réu também confirmou ter sido procurado por advogados de Luana, que “chegaram lá, me chamaram para conversar e pediram pra inocentar a Luana […]. Ofereceu dinheiro, acho que R$ 15 mil”.

Sobre as supostas ligações entre Marcello e Luana, ele negou ter feito contato com a acusada. Pelo fato de Marcello e Patrícia serem as únicas pessoas com acesso aos telefones que realizaram as chamadas, Patrícia foi chamada de volta ao tribunal para uma acareação.

Ambos negaram ter falado com Luana após o crime, mesmo com os registros telefônicos. Ao fim da acareação, Marcello se recusou a responder.

  • 22h11– Luana Barreto de Sales entra e a advogada diz que ela só responderá a perguntas do juiz, e não da promotoria, assistência de acusação ou defesa.

Interrogatório de Luana Barreto de Sales – acusada

O depoimento da principal peça do julgamento foi o mais curto. Assim que Luana se sentou diante do juiz, sua advogada já anunciou que ela não responderia a perguntas da promotoria, da assistência de acusação ou da própria defesa. Durante os vinte minutos de depoimento, a moça negou qualquer envolvimento com o crime.

Ela disse, também, que não teria motivos para encomendar a morte da cunhada e que Ana Paula “reagiu e por isso levou tiros”. Luana também disse que, durante a reconstituição, o delegado falou por ela.

Depois de uma série de perguntas da promotoria, todas sem resposta, a defesa pediu que Luana pudesse falar livremente. A ré, então, contou que ela e Ana Paula iriam ver o vestido no dia do crime, mas que a vítima almoçou fora e ficou tarde, e que por isso elas foram tomar sorvete.

Ela contou que o envelope com R$ 500, que estava com ela no momento da abordagem dos executores, era para pagar o aluguel do vestido. Luana também fez uma acusação grave ao delegado Luís Armond. A acusada garantiu que o delegado disse não ter tempo de investigar o crime e ameaçou acabar com a reputação de Luana.

Ao fim do breve discurso, ela fez um pedido: “que a Justiça faça jus à palavra”.

  • 22h35 – termina o depoimento de Luana e o tribunal entra em novo recesso.
  • 22h58 – a promotoria do Ministério Público começa a apresentar ao júri os fatos que comprovariam a culpa dos réus.

É apresentado o áudio enviado por Luana para Laryssa no dia do crime, em que a acusada pede que a colega minta sobre a procedência dos R$ 500 que estavam com ela quando Ana Paula foi baleada. Na mensagem, ela conta sobre os disparos contra a cunhada e termina pedindo que Laryssa não responda mais e não atenda possíveis ligações de Luana, a não ser que ela insista muito.

  • 0h16 – começa a fala do assistente de acusação, apresentando as qualificadoras que poderiam aumentar a pena dos réus e relembrando momentos importantes dos depoimentos.

O advogado reforça que há a qualificadora da paga e promessa de recompensa sobre os réus, assim como a emboscada, o que impossibilita a vítima de se defender.

  • 1h03 – é anunciado pelo juiz que Marcello Henrique não será julgado junto dos outros réus por “questões técnicas”.

Segundo o assistente de acusação, um dos jurados teria ouvido uma conversa sobre Marcello quando foi ao banheiro, o que fez com que a dissolução do julgamento do acusado fosse necessária.

  • 1h08 – começa a ser apresentada a defesa de Luana.

Em sua fala, a defesa pública garante que Luana está sendo vítima de uma investigação mal conduzida e sem fatos concretos. Ela reforçou que nenhum motivo plausível foi comprovado e garantiu que Luana está sendo julgada apenas por ser trabalhadora e vaidosa, e que isso é reflexo da sociedade machista em que a acusada está inserida.

  • 2h25 – começam a ser apresentadas as defesas de Igor e Wermison.

Defesas de Igor e Wermison

O defensor dos réus pede que as penas dos dois sejam reduzidas porque ambos colaboraram com a investigação e que, de acordo com ele, o crime foi cometido em função de uma razão social de força maior, que seria a história inventada por Luana sobre a criança sofrendo maus tratos.

O advogado também reforçou que o disparo inicial de Igor foi acidental e disse que não houve impossibilidade da vítima se defender, o que segundo ele foi comprovado “já que a vítima consegue correr e havia pessoas para socorrê-la”.

  • 3h09 – começa a réplica da promotoria.

Os promotores reforçaram que não se justifica o crime em função de razão social já que os acusados aceitaram o serviço em troca de pagamento em dinheiro e que houve sim emboscada, já que, segundo eles, foi feito todo um esquema para que o crime acontecesse e que a vítima, ao tentar fugir, foi baleada quatro vezes.

  • 3h33 – começa a réplica do assistente de acusação

O advogado reforçou que não há a possibilidade de Igor ter atirado acidentalmente em Ana Paula, já que o mesmo portava um revólver calibre 32, e não uma arma automática. O assistente de acusação explicou brevemente o funcionamento de armas de fogo para corroborar com sua fala.

  • 3h44 – começa a tréplica das defesas de Igor e Wermison.

Tréplica das defesas de Igor e Wermison

O defensor reforçou que os réus colaboraram com a investigação e pediu que ambos tivessem a pena reduzida. O advogado também voltou a alegar que o tiro inicial teria sido acidental.

  • 3h55 – começa a tréplica da defesa de Luana.

Tréplica da defesa de Luana

A advogada, por mais uma vez, levantou dúvida sobre o trabalho de investigação, mencionando o delegado Luís Armond e a inspetora Carolina Barbosa. Ela pediu que Luana fosse absolvida pelos jurados e reforçou que não há motivos claros para que ela se envolvesse no crime.

  • 4h20 – o júri fica a sós com o juiz para que sejam votadas as sentenças.
  • 5h50 – são anunciadas as penas dos réus.

Luana Barreto foi condenada, em primeira fase, a 18 anos de reclusão. A pena da Luana foi majorada por culpabilidade, consequências e circunstâncias do crime. Ao fim, ela foi sentenciada a 24 anos em regime fechado, quatro deles que já foram cumpridos.

Igor Magalhães e Wermison Carlos Ribeiro foram condenados, em primeira fase, a 16 anos de reclusão. Ambos tiveram as penas aumentadas pelas circunstâncias e consequências, mas as penas foram reduzidas por terem colaborado com as investigações, terem confessado e por serem menores de 21 anos à época do crime. Com isso, ambos tiveram pena de 13 anos de reclusão, quatro já cumpridos.



Fonte: G1