Yago e Italo disputam título no surfe com meditação e ódio – 27/08/2025 – Esporte


Dois brasileiros estão na briga pelo título mundial de surfe, a ser decidido nos próximos dias em Fiji. Em sua tentativa de buscar o troféu, eles partem de lugares muito diferentes, tanto na tabela do campeonato como no estado mental.

Yago Dora, 29, é o líder do ranking e aguarda seu adversário na decisão. Italo Ferreira, 31, é o quinto e precisa bater o quarto (o australiano Jack Robinson), o terceiro (o norte-americano Griffin Colapinto) e o segundo (o sul-africano Jordy Smith) pelo direito de enfrentar Yago.

O comportamento de cada um às vésperas da etapa decisiva parece refletir esse cenário. O calmo paranaense, primeiro colocado, medita. O elétrico potiguar, que tem uma ladeira a escalar, alimenta sua notória energia revivendo velhas batalhas.

Sua equipe de comunicação publicou na semana passada um vídeo com disputas anteriores contra Jack Robinson, seu primeiro rival em Fiji. As imagens sustentavam a percepção de que o australiano pode ser desleal no mar –em 2024, na etapa decisiva do campeonato, uma remada de Robinson acertou o ombro de Ferreira.

“Não é um jogo que eu supostamente faria para vencer uma bateria, mas, sim, surfar de fato”, disse Italo, que, questionado sobre a publicação nas redes sociais, citou ainda os juízes, com os quais tem histórico bélico.

“Tranquilo… É bom, porque dá um pouco mais de ódio para conquistar o que você quer. Os caras se esquecem de que, quanto mais tentam fazer alguma coisa comigo, pior fica”, acrescentou o potiguar, com um currículo que inclui um título mundial (2019), uma medalha de ouro olímpica (2021) e, com o resultado deste ano, seis Mundiais no top 5.

Yago Dora jamais havia ficado entre os cinco melhores. E o caminho que construiu para evoluir no surfe, um crescimento paulatino sem as glórias de vários compatriotas, parece ter lhe dado paciência. A meditação também ajudou.

“Eu tenho feito ioga já há algum tempo. Faço bastante respiração, visualização. Isso contribui para que eu tenha a cabeça no lugar, fique calmo”, contou o atleta, que separa 20 minutos para esse ritual “antes de começar o dia”. “O surfe já é um lugar que traz esse foco, né, essa paz, um momento em que a mente foca só aquilo. A gente está ali, surfando, só pensando no momento presente.”

Conter a ansiedade é importante à espera da jornada derradeira, chamada de WSL Finals –WSL é a sigla em inglês para Liga Mundial de Surfe. A janela para a disputa está aberta desde a manhã de terça (27) em Fiji –tarde de segunda (26) no Brasil–, mas a organização aguarda o dia de melhores ondas para realizar o campeonato.

A janela se estende até a quinta-feira da próxima semana, dia 4. A previsão aponta um bom “swell” a partir do dia 2, quando aparecerão ondas mais potentes –e tubulares– naquela região do oceano Pacífico.

Enquanto não vem o chamado, Yago medita. E Italo alimenta o ódio.



Folha de S.Paulo