Vitórias e derrotas moram também no ‘se’, no que não foi – 01/07/2025 – Tostão


Ao ver o ex-jogador francês Djorkaeff sentado ao lado do presidente da Fifa em um jogo da Copa do Mundo de Clubes, lembrei-me de que anos antes do Mundial de 1998, vencido pela França, passei a assistir aos jogos das principais seleções para conhecer melhor as equipes e os atletas. Antes de uma partida, todos falavam no Djorkaeff, o destaque do time francês. Quando a bola rolou, fiquei perplexo diante do talento de um jovem alto, elegante, que se tornaria um dos maiores da história do futebol, Zidane. Djorkaeff foi apenas um bom jogador.

Uma frase clássica do futebol, bastante repetida, aponta que “se” não ganha jogo. Obviamente, não ganha, mas ajuda a compreender os detalhes de uma partida, o que aconteceu, o que poderia ter acontecido e o que poderá ocorrer nas partidas seguintes.

Escutei nestes dias que, se o Flamengo tivesse marcado mais atrás, sem tentar trocar passes pelo centro, e usado bastante os lançamentos longos da defesa para o ataque –como fizeram o Fluminense e o Al Hilal nas vitórias, respectivamente, sobre Inter de Milão e Manchester City–, teria tido muito mais chances de vencer o Bayern de Munique.

Fluminense e Al Hilal marcaram com oito a nove jogadores perto da área, mas, quando recuperavam a bola, conseguiam trocar passes, avançar e criar chances de gol. Realizaram duas ótimas partidas. A estratégia do Fluminense com três zagueiros funcionou muito bem.

Alguns disseram que, se, com três minutos de jogo, a bola não tivesse batido no pé do defensor da Inter, ela não teria subido, não teria caído entre os dois zagueiros para Cano fazer o gol, e o jogo poderia ter sido diferente. Outros disseram que, se, no início do jogo do Flamengo, a bola vinda do escanteio não tivesse batido na cabeça do zagueiro, não teria acontecido o gol do Bayern de Munique e a história da partida poderia ter sido outra.

Alguns comentaristas e muitos torcedores do Botafogo disseram que, se o time tivesse avançado mais contra o Palmeiras, poderia ter vencido. O técnico Renato Paiva, que foi bastante elogiado, até pelo técnico do PSG, por ter organizado um ótimo sistema defensivo contra o time francês, foi duramente criticado e demitido depois da derrota para o Palmeiras por ter usado a mesma estratégia.

Se o Palmeiras não tivesse feito o gol da vitória na prorrogação contra o Botafogo, poderia ter sido eliminado nos pênaltis. Abel Ferreira, endeusado pela coragem nas substituições, teria sido muito criticado por ter tirado Estêvão durante a partida, pois ele era o único dos atacantes que criava chances de gol. A entrada de Paulinho foi providencial, mas ele e Estêvão poderiam ter continuado juntos no jogo.

Nas quartas de final, no jogo entre Fluminense e Al Hilal, qual será a estratégia das duas equipes? Vão marcar mais atrás para contra-atacar, como fizeram contra Inter e Manchester City, ou vão adiantar a marcação para ter o domínio da bola e do jogo?

Inter e Manchester City decepcionaram. O City possui vários jogadores novos e passa por reestruturação. Guardiola repetiu o erro frequente de vários técnicos brasileiros, ao aumentar o número de atacantes, esvaziar o meio-campo e deixar muitos espaços na defesa.

As vitórias e derrotas moram nos detalhes técnicos, táticos, físicos, emocionais, ambientais, nos imprevistos e nos “se”, no que não foi, mas que poderia ter sido.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



Folha de S.Paulo