O ideal quando se escreve ou se fala de um jogo decisivo em determinada competição às vésperas de ele acontecer é destacar os jogadores que devem ser as atrações, as estratégias dos treinadores, o entusiasmo e a rivalidade dos torcedores.
Só que antes deste Flamengo x Palmeiras, neste domingo (19) no Maracanã, que opõe o vice-líder (58 pontos) e o líder (61 pontos), tidos como os principais candidatos ao título do Campeonato Brasileiro, as atenções se voltam para o cidadão de nome Caio Max Augusto Vieira.
Esse potiguar de Parnamirim não estará em campo. Assistirá à partida de uma cabine, com telas de TV diante de si. Caio Max é o VAR (árbitro assistente de vídeo) da vez e será escrutinado a partir das 16 horas, aproximadamente até as 18 horas, como jamais foi em seus 43 anos de vida.
Em grupos de conversa dos quais participo e que contêm torcedores de clubes diversos, os termos VARmengo e VARmeiras aparecem muito. A percepção é que o rubro-negro carioca e o alviverde paulistano têm sido neste Brasileiro favorecidos com frequência pelo VAR.
Será mesmo?
Teimo em acreditar que não há má intenção da arbitragem, seja do apitador no campo (que neste domingo será o goiano Wilton Pereira Sampaio, com Copa do Mundo no currículo), seja do árbitro de vídeo, que tem a missão de acionar o colega quando há dúvida em lances cruciais (pênaltis e impedimentos, principalmente).
Creio que ainda está muito forte na cabeça de quem acompanha o Brasileiro a não marcação de um pênalti que pareceu claríssimo contra o Palmeiras. O São Paulo ganhava por 2 a 0 no Morumbi e teria a chance de ampliar a vantagem. Acabou levando a virada, e a desconfiança sobre uma “arbitragem palmeirense” cresceu.
Eu desacredito em favorecimento para X ou Y. Há, sim, ruindade dos árbitros, com alguns desconhecendo o que determinada regra diz, e uma completa falta de critério.
Quantas vezes vi um pênalti ser marcado quando a bola bateu na mão de um defensor e não ser marcado quando bateu, de forma idêntica, na mão de outro defensor? Várias e várias.
Colunas
Receba no seu email uma seleção de colunas da Folha
A credibilidade da arbitragem anda tão baixa que Caio Max não tem direito de errar. Wilton Sampaio estará em posição confortável, assim como os bandeirinhas xarás Bruno Raphael Pires e Bruno Boschilia. A pressão maior é no VAR, cujos olhos precisam ver tudo, cujas intervenções precisam ser certeiras.
Caio Max leva uma vida de VAR. Trabalhou na função em 25 das 28 rodadas da Serie A deste Brasileiro. Houve duas reclamações em relação a ele recentes, neste mês, uma do Vitória, uma do Fluminense.
Em Vasco 4 x 3 Vitória, no Rio, Caio Max recomendou ao árbitro Fernando Nascimento Filho ver um lance em que a bola tocou no braço de um atleta do time baiano, em jogada aérea. O pênalti foi marcado após a ida ao monitor.
Minha opinião: erro. O VAR considerou o movimento de Cáceres com o braço como “antinatural”. A meu ver, não tinha como o lateral evitar a abertura do braço.
Em Mirassol 2 x 1 Fluminense, em SP, gol da equipe carioca acabou anulado porque Caio Max pediu ao árbitro Rodrigo Pereira de Lima a verificação de uma falta cometida sobre jogador do time paulista na origem da jogada.
Minha opinião: erro. Não vi infração do tricolor Canobbio.
Há nos dois casos margem para interpretação? Sim. E, assim sendo, quando o lance é subjetivo, a marcação de campo deveria prevalecer. Não acontece.
Não há, na verdade, muita escapatória para Caio Max. Se não acionar o árbitro de campo, será chamado de omisso. Se acionar, será chamado de intrometido. De um modo ou de outro, será chamado de partidário. Será VARmengo ou VARmeiras?
Resta a ele contar com a sorte: não haver jogadas que exijam sua interferência. É cada vez mais raro, mas pode acontecer. Será sua salvação. Do contrário, depois do escrutínio, restará a sentença, de um lado ou de outro: VARladrão.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Folha de S.Paulo