Um lance certeiro: o acordo da Prevent com o Comitê Olímpico Brasileiro


O esporte olímpico vive um momento de turbulência. No Japão, com os efeitos da pandemia do coronavírus ainda presentes, autoridades batem cabeça sobre a possibilidade de realizar com segurança os Jogos de Tóquio a partir de julho. No Brasil, federações e atletas se ajustam a uma nova realidade, coma redução drástica dos investimentos em relação à Olimpíada de 2016, no Rio. Nesse cenário, ao menos uma boa iniciativa começa a sair do papel, unindo esporte e medicina. A Prevent Senior, uma das maiores empresas de planos de saúde do país, lançará em breve um programa esportivo ao qual VEJA teve acesso com exclusividade. A companhia fechou parceria com a Federação Paulista de Futebol e seus cerca de 13 000 atletas de diversas divisões, além do time feminino de vôlei do São Paulo/Barueri e da equipe Black Dragons, de e-sports. O carro-chefe do projeto é um acordo com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), que beneficiará 3 000 esportistas de todas as modalidades. O contrato será assinado na próxima semana, com validade até os Jogos de Paris-2024.

Um centro de medicina esportiva de alta tecnologia será inaugurado em São Paulo, onde atletas passarão por exames e terão acompanhamento com profissionais de diversas especialidades, além de nutricionistas e psicólogos. Segundo a Prevent, o objetivo é contribuir para o melhor rendimento dos competidores e reduzir o risco de lesões. Não seria tão inovador se não fosse por uma cláusula: o patrocínio não envolve um real sequer de injeção direta de recursos.

arte Esporte

A parceria, na verdade, funciona como uma permuta. Nela, a Prevent Senior oferece sua expertise em troca de estampar a marca em uniformes e outras ações publicitárias, além de montar um banco de dados que será útil para seus mais de 500 000 associados. A empresa já investiu em patrocínios convencionais — pagou 16 milhões de reais anuais para aparecer na camisa do São Paulo —, e, após conversas informais com ídolos como o ex-nadador Thiago Pereira, decidiu implementar um modelo inédito. Há, claro, contrapartidas. Caberá à empresa bancar os custos com atendimento, cirurgias e até traslado aéreo de atletas lesionados. Em um cálculo aproximado, o projeto equivale a um desembolso de cerca de 200 milhões de reais. “É um investimento, uma troca de conhecimentos benéfica para toda a população”, diz o CEO Fernando Parrillo.

O automobilismo — que também deve entrar no portfólio em breve — é constantemente usado como referência. Escuderias de Fórmula 1 como Ferrari e Mercedes costumam testar nas pistas de corrida as tecnologias que, se aprovadas, serão usadas em carros de passeio. A intenção é fazer o mesmo com os novos protocolos do projeto (veja o quadro). “Vamos pôr o know-­how da medicina esportiva a serviço de um envelhecimento mais saudável para todos”, diz o diretor executivo Álvaro Razuk.

PSICOLOGIA SALVA VIDAS - Com depressão, o maratonista Daniel Chaves pagou terapia do próprio bolso: hoje em dia, recebe atendimento profissional e, curado, deve disputar a sua primeira Olimpíada em Tóquio -
PSICOLOGIA SALVA VIDAS – Com depressão, o maratonista Daniel Chaves pagou terapia do próprio bolso: hoje em dia, recebe atendimento profissional e, curado, deve disputar a sua primeira Olimpíada em Tóquio – Buda Mendes/Getty Images

Igualmente relevante, o legado esportivo recebeu elogios do Comitê Olímpico Internacional (COI), que, em carta, não só chancelou a parceria como a tratou como um exemplo a ser seguido. O consagrado técnico José Roberto Guimarães comanda a equipe de vôlei São Paulo/Barueri e se diz entusiasmado com o apoio, que inclui a cobertura em caso de cirurgias que podem custar até 30 000 reais e a presença de uma ginecologista: “É fundamental ter uma profissional para acompanhar a atleta e auxiliá-la, por exemplo, sobre os efeitos da pílula anticoncepcional ou da gravidez”. Guimarães diz que o apoio médico completo é raro em clubes e traz resultados em quadra: “Nosso time tem três ou quatro meninas que certamente estarão nos Jogos de 2024 e 2028. Esse programa antecipa o desenvolvimento delas e de outras que virão”.

Outro aspecto que pode contribuir para a conquista de medalhas é o acompanhamento psicológico, vital diante da pressão por resultados imposta aos atletas. “A preparação emocional é tão importante quanto a física”, diz Daniel Chaves, maratonista número 1 do Brasil e classificado para os Jogos de Tóquio. O carioca, de 31 anos, enfrentou uma depressão profunda após ficar fora da Rio-2016 e chegou a tentar o suicídio. Foi salvo pela terapia, paga do próprio bolso por dois anos. “Quebrei esse tabu por necessidade extrema, tive de passar por um processo de depressão para ver a importância da psicologia e como ela influencia no meu rendimento”, diz, agora plenamente recuperado. Que venham mais pódios para o Brasil — e saúde para todos.

Publicado em VEJA de 10 de fevereiro de 2021, edição nº 2724

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Fonte: Veja Esportes