Um ano de Filipe Luís: marca de Jorge Jesus, conflitos e 3 taças

A química entre Flamengo e Filipe Luís é inegável. Mesmo assim, muitos não esperavam que o ex-lateral se adaptaria de maneira tão natural à uma função tão traiçoeira. Com status de unanimidade, ele alcançou uma marca rara nesta terça-feira (30): um ano no comando da equipe.

“Sobre esse aniversário de um ano como técnico, me deixa muito orgulhoso. Mas eu não sei se vou ganhar alguma coisa ou não. O que eu vivo desde o primeiro dia que pisei nesta cidade e trabalho nesse clube é especial. Só Deus pode explicar. Vivo muito feliz por ter completado esse tempo aqui, quero ficar mais”, comemorou após a vitória sobre o Corinthians.

O último à atingir este feito foi Jorge Jesus, que ficou entre junho de 2019 e julho de 2020. Desde então, oito treinadores não conseguiram completar os 365 dias no cargo. 

Tempo que os treinadores ficaram entre Jesus e Filipe 

1. Domenec Torrent: 101 dias
2. Rogério Ceni: 242 dias
3. Renato Gaúcho: 142 dias
4. Paulo Souza: 162 dias
5. Dorival Jr: 168 dias
6. Vítor Pereira: 119 dias
7. Sampaoli: 167 dias
8. Tite: 355 dias

Improviso que virou solução

O ídolo do rubro-negro teve uma ascensão meteórica dentro do Ninho, muito pelas necessidades apresentadas no caminho. Aposentado do campos em 2023, foi contratado no ano seguinte para comandar o sub-17 e logo foi promovido ao sub-20, por conta da saída de Mário Jorge.

Pouco ficou na categoria — cerca de três meses — até ser convocado para o grande desafio. Com a demissão de Tite na parte final da última temporada, a diretoria resolveu deixar todo processo pensado para Filipe Luís de lado e dar um “all in” no ano, o promovendo precocemente para treinar o profissional.

Apesar do evidente potencial, era difícil esperar grandes coisas dentro do contexto apresentado. Mesmo diante da pressão pelos resultados imediatos, com pouco tempo para trabalhar, Filipe conseguiu implementar sua filosofia na equipe, desde a primeira partida.

Três troféus como treinador profissional em 12 meses

Ele cumpriu a missão de conquistar a Copa do Brasil com absoluta propriedade e já dava claras demonstrações de ser diferente.

As altas expectativas criadas com o que foi apresentado nos primeiros meses seguiu sendo correspondida nesta temporada. Além de ficar com os títulos da Supercopa e Carioca, é o atual líder isolado do Brasileiro e está na semifinal da Libertadores.

Números de Filipe Luís no comando do Flamengo

• Jogos: 70
• Aproveitamento: 74% (46V – 17E – 7D)
• Gols marcados: 123
• Gols sofridos: 40
• Títulos: 3

Coragem para tomar decisões

Ex-companheiro de equipe de diversos atletas que passaria a comandar, Filipe Luís sempre deixou muito claro saber que ia tomar decisões que incomodariam alguns atletas e garantiu que faria de tudo para separar a imagem de amigo do papel de técnico. E as palavras dele não foram da boca para fora.

“As minhas decisões vão agradar alguns, outros não. As cobranças e elogios vão existir para todos quando for necessário. Não vou ter especial cuidado com nenhum deles. Sempre colocando o Flamengo em primeiro lugar”, disse na coletiva de apresentação.

Teve peito para substituir Gabigol no intervalo do jogo decisivo da Copa do Brasil — ele havia feito dois gols na ida —, mexida fundamental para o título da Copa do Brasil, já que Bruno Henrique entrou muito bem. Mas o grande teste de fogo viria nesta temporada.

O treinador detonou o comportamento de Pedro nos treinos — chamou seu desempenho de “lamentável”, disse que beirou o “ridículo”— em coletiva. O centroavante chegou a não ser relacionado para jogos como punição. Com o tempo, porém, se redimiu do mau comportamento, reagiu em campo e declarou que a situação estava “totalmente encerrada”.

A forma como ele lidou com este teste de fogo confirmou que, além de estar preparado para ser treinador de grandes times, conhece o Flamengo com a palma das mãos, artefato raríssimo e que soube utilizar à seu favor.

Próximo de entrar para um seleto grupo

Após se tornar um “peixe fora d’água” no cenário recente de treinadores do clube, Filipe Luís está próximo de um feito que poucos podem dizer que alcançaram: de iniciar e terminar a mesma temporada no comando.

O último que conseguiu foi Vanderlei Luxemburgo, há 14 anos. Junto ao “profexô”, somente outros nove técnicos estão nesta seletíssima lista da história do rubro-negro. Só uma tragédia traria alguma possibilidade de fazer com que o ex-lateral não se torne o décimo nome dela.

• Luxemburgo – 1
• Carlinhos Violino – 1
• Carpegiani – 1 
• Lazaroni – 1
• Cláudio Coutinho – 1
• Flávio Costa – 12
• Fleitas Solich – 4
• José de Almeida Neto – 1
• Charles Williams – 1
• Armando Renganeschi – 1

Filipe espera marcar ainda mais seu nome nas páginas do Clube de Regatas do Flamengo, seu time do coração, já nesta temporada. No entanto, também pensa no futuro.

Com todos os olhares voltados para o Brasileiro e Libertadores, o treinador está com conversas avançadas para renovar o contrato com o rubro-negro até o fim de 2026.