Tite ganha apostas com Neymar e titulares descansados — e até dança | Placar


DOHA – A “dança do pombo” junto aos atletas para celebrar o gol de Richarlison é a cena do dia, o instante que dará volta ao mundo e possivelmente dividirá opiniões sobre se um técnico de seleção brasileira deveria se prestar a esse papel. Mas não é pelos movimentos duros e desajeitados que Tite foi protagonista da goleada por 4 a 1 do Brasil sobre a Coreia do Sul pelas oitavas de final da Copa do Mundo, nesta segunda-feira, 5, no Estádio 974. O treinador gaúcho passou dias de evidente tensão, mas no fim as suas duas controvertidas apostas — escalar reservas diante de Camarões e mandar Neymar a campo de início nesta noite — se mostraram certeiras.

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Foi um baile, daqueles de colocar em dúvida como a Coreia do Sul conseguiu chegar a esta fase. A resposta é simples: o limitado, porém valente time asiático deixara até a última gota de suor para bater Portugal e eliminar o Uruguai na primeira fase. O choro incontido de seu craque, Heung-Min Son, artilheiro da última Premier League, dava a medida da façanha. Era de se esperar que a equipe chegaria extenuada para um duelo decisivo apenas três dias depois. Quando a bola rolou, as diferenças técnicas que já eram enormes acabaram se tornando constrangedoras.

É aí que entra o plano de Tite e sua comissão. A escolha de poupar os titulares contra Camarões tinha o objetivo de descansar os atletas para o duelo realmente decisivo que ocorreria dentro de 72 horas. Ainda que frustrasse boa parte da torcida, especialmente os que pagaram pequenas fortunas para ir ao Catar e ver todas as estrelas de perto, não se tratava de algo surpreendente ou revolucionário, tanto que as outras equipes que podiam fizeram o mesmo — curiosamente, todas elas (Brasil, França e Portugal) se deram mal na última rodada.

Eis que a inesperada derrota por 1 a 0 para os camaroneses, a primeira diante de um africano na história da seleção pentacampeã, atingiu em cheio a moral do grupo. Graças a um chute para fora da Suíça na outra partida, o Brasil não terminou na segunda colocação do grupo G. Na zona mista, Bruno Guimarães, que em poucos minutos foi de xodó da torcida à vilão por uma partida apagada, passou mudo, cabisbaixo. Os cortes de Gabriel Jesus e Alex Telles e a grave condição de saúde do maior dos brasileiros, Pelé, jogaram para baixo o ânimo da equipe. Até mesma a tolice sobre a carne folheada a ouro comida pelos atletas virou motivo de questionamento por parte de um influencer bajulador (que acusou a imprensa de tentar criar crises). Em suma, o clima não era o ideal para iniciar a fase decisiva. Mas, ainda que demonstrando certo receio em seu semblante e tom de voz, Tite garantiu que tinha um plano, do qual Neymar era um dos protagonistas.

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Mesmo depois de ficar dez dias afastado do campo, se recuperando de uma lesão no tornozelo, e de ter feito apenas dois treinos com bola antes do duelo, Neymar foi escalado entre os titulares. Os próprios colegas já vinham pedindo pelo retorno do craque. “Deu para ver a falta que ele fez nesses dois jogos. Quero que ele volte, porque vai chegar mais bola para mim”, disse, o supersincero Richarlison, numa frase que poderia causar ciúmes no elenco, não fosse Neymar uma figura tão querida e admirada pelo grupo, uma condição quase inversamente proporcional a que conquistou junto à opinião pública.

O debate estava posto: não seria precipitado colocar Neymar, voltando de uma lesão incômoda, em um duelo teoricamente tranquilo? Todos os olhares se voltavam a ele já no aquecimento e o craque, com os fios devidamente retocados de loiro, aparentava normalidade. Acertou uma série de chutes no cantinho ou no ângulo do goleiro reserva Weverton, acenou para a torcida e cumprimentou um fã cadeirante na entrada do vestiário. Neymar exalava confiança, algo que pareceu contagiar o time.

Tirou o pé de uma dividida no primeiro lance, tocou mais de primeira do que de costume, e não quis bater uma falta desenhada para ele, mas não demonstrou qualquer limitação de movimentos. Driblou até o juiz, em um lance que levantou a torcida. E deixou o seu de pênalti, em sua tradicional cobrança que ridiculariza os goleiros —o da Coreia até tentou desconcentrá-lo, mas foi enganado como quase todos os outros.

O abraço apertado de Tite em seu braço-direito Cleber Xavier foi o retrato do mais puro alívio. E o desafogo absoluto veio no gol do carismático Richarlison, que chamou a todos para a sua dança do pombo, em um gesto que edtava ensaiado. Tite entrou na onda e será julgado por isso — é possível que rivais fiquem incomodados e até retruquem a falta de decoro em uma eventual vitória sobre o Brasil. Neste momento, porém, o gaúcho ganhou suas apostas, que incluíram até mandar a campo o terceiro goleiro Weverton, em mais uma tentativa de unir e levantar o astral do grupo. O Brasil segue no caminho do hexa.

Brazil
Pablo Porciuncula/AFP
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