Times do Brasil podem ir para Concacaf? Entenda – 11/03/2025 – Esporte


Leila Pereira, presidente do Palmeiras, pretende apresentar aos clubes brasileiros uma proposta para que todos deixem a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e se filiem à Concacaf (Confederação da América do Norte, Central e Caribe). O movimento seria uma resposta diante da falta de punições mais duras para os casos de racismo frequentemente registrados na América do Sul.

Embora a ideia também possa ser interpretada como uma forma de pressionar a entidade responsável por organizar torneios como a Libertadores e a Copa Sul-Americana, a possibilidade está prevista nos estatutos das confederações, inclusive da Fifa (Federação Internacional de Futebol), e tem jurisprudência.

Para um time se filiar a uma confederação continental fora de sua região geográfica o primeiro passo tem que ser dado pela federação nacional de seu país. No caso dos brasileiros, a transição teria que partir da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Nesse caso, não seriam somente os clubes que deixariam a Conmebol. A seleção brasileira também teria de deixar as Eliminatórias Sul-Americanas e passaria a brigar com as seleções da Concacaf por uma vaga nas Copas do Mundo.

Tudo isso, porém, precisa ser autorizado pela Fifa, conforme prevê o estatuto vigente da entidade. “A Fifa pode, em circunstâncias excepcionais, autorizar uma confederação a conceder filiação a uma associação que pertença geograficamente a outro continente e não seja afiliada à confederação naquele continente. A opinião da confederação geograficamente envolvida deve ser obtida.”

Existem uma série de critérios a serem levados em conta, sobretudo a motivação para o pedido. Há exemplos de propostas aceitas, como da Austrália e de Israel, cada uma delas por razões distintas.

Os israelenses disputam as Eliminatórias Europeias e seus clubes disputam as competições da Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) por causa dos conflitos no Oriente Médio.

No caso dos australianos, a federação do país pediu a mudança da OFC (Confederação de Futebol da Oceania) para a AFC (Confederação Asiática de Futebol) em busca de mais competitividade para a equipe.

Alternativamente, os clubes brasileiros poderiam deixar de disputar as competições da Conmebol e buscar convites para disputarem torneios organizados pela Concacaf, como a Copa dos Campeões.

Foi dessa maneira, por exemplo, que os clubes mexicanos disputaram a Libertadores de 1998 a 2016.

Mesmo por meio de convites, no entanto, os clubes ainda precisariam da autorização da Fifa, que já rejeitou pedidos semelhantes.

Com ou sem a desfiliação, Leila Pereira tem trabalhado nos bastidores para mudar as punições para os casos de racismo. Sua motivação começou após o atacante Luighi, da equipe sub-20 do Palmeiras, ser alvo de injúria racial durante partida contra o Cerro Porteño, no Paraguai, pela Libertadores da categoria.

Durante o confronto, torcedores do time rival fizeram gestos imitando macaco na direção do brasileiro. Um deles, próximo à grade que dividia o campo da arquibancada, segurava uma criança no colo. A partida, válida pelas quartas de final, não foi paralisada no momento do ocorrido.

O episódio uniu clubes brasileiros, inclusive rivais históricos do Palmeiras, como Corinthians e São Paulo, para pressionar a Conmebol por punições mais duras à equipe paraguaia, multada em US$ 50 mil (R$ 289 mil).

“Se você atrasa [para ir ao campo] são 100 mil dólares. São 78 mil se acender sinalizador. Vejam como a Conmebol encara o crime de racismo. É um absurdo”, criticou Leila Pereira, presidente do Palmeiras.

Foi diante dessa situação que Leila sugeriu deixar a Conmebol.

“Já que a Conmebol não consegue coibir esse tipo de crime [racismo], não consegue tratar os brasileiros com o tamanho que os clubes representam à Conmebol, por que não pensar em nos filiarmos à Concacaf? Só assim vão respeitar o futebol brasileiro. É uma coisa a se pensar”, afirmou.



Folha de S.Paulo