O diretor do famoso templo Shaolin, considerado o berço do kung fu na China, será destituído por suas ações “extremamente” inapropriadas após ser investigado por peculato, disse a principal autoridade budista do país nesta segunda-feira (28).
O mosteiro de fama mundial anunciou no domingo que suspeita que o abade Shi Yongxin, apelidado de “monge CEO” porque fundou muitas empresas no exterior, havia “desviado fundos destinados a projetos e bens do templo”.
Também teria “descumprido gravemente os preceitos budistas” e mantido “relações inapropriadas com várias mulheres, com as quais supostamente teve filhos ilegítimos”, indicou um comunicado.
Vários órgãos estão realizando uma investigação conjunta, segundo o templo.
A Associação Budista da China, supervisionada pelo Partido Comunista, disse na segunda-feira que iria cancelar o certificado de ordenação do monge.
“As ações de Shi Yongxin são de natureza extremamente prejudicial e danificam gravemente a reputação da comunidade budista e a imagem dos monges”, indicou em um comunicado.
Ele também expressou seu “firme apoio” às iniciativas que visam puni-lo “de acordo com a lei”.
“A mente é pura”
Vários ex-monges já acusaram Shi Yongxin de levar uma vida luxuosa, alegando que ele possuía uma frota de carros de luxo e acusando-o de desviar dinheiro de uma empresa administrada pelo templo.
Na China, as autoridades controlam diretamente a nomeação de líderes religiosos e seu comportamento considerado “inapropriado” pode levar à sua destituição.
“Quando a mente é pura, a Terra Pura está lá, no momento presente”, escreveu Shi Yongxin na semana passada em sua última postagem na plataforma de mídia social Weibo.
O caso gera alvoroço nas redes sociais chinesas e no Weibo uma palavra-chave vinculada ao escândalo tinha mais de 560 milhões de visualizações.
Em 2015, o templo negou as acusações da mídia estatal chinesa, qualificando-as como “calúnias maliciosas”.
Shi Yongxin, de 59 anos, assumiu o cargo de abade em 1999 e nas décadas seguintes contribuiu para a expansão internacional dos estudos Shaolin, que combinam o aprendizado do zen budismo e a prática de artes marciais.
Também ajudou o templo a fundar numerosas empresas no exterior, embora tenha recebido críticas por sua abordagem considerada demasiadamente comercial.
Em 2002, ele foi eleito vice-presidente da Associação Budista da China e também atuou como membro da Assembleia Nacional Popular, o mais alto órgão legislativo do país
O templo Shaolin, fundado no ano 495 e situado nas montanhas de Henan, é considerado o berço do zen budismo e do kung fu chinês.
Folha de S.Paulo