Talento de Yamal vai além da habilidade e das estatísticas – 17/05/2025 – Tostão


Temos treinador na seleção, mas não temos presidente da CBF. Está ruim, porém há sempre o risco de ficar pior.

Um leitor, a minha consciência crítica, questiona-me por valorizar muito a presença de muitos meio-campistas que se aproximam para trocar passes e ter o domínio da bola, do jogo, e por dar menos destaque para o meia de ligação centralizado. Não é bem assim. Todos são importantes. Meio-campista que marca, cria e avança é também atacante, assim como atacante que recua e dá ótimos passes é também meio-campista. Os dois setores precisam estar agrupados.

O mesmo leitor, a minha consciência crítica, diz que, diferentemente do que eu escrevo, quase todos os times brasileiros marcam por pressão a saída de bola desde o goleiro. Ele confunde marcação por pressão na saída de bola com a marcação por pressão em todo o campo para tentar recuperá-la rapidamente. Assim tem ocorrido um número enorme de gols em todo o mundo. O Flamengo fez isso mais uma vez, contra a LDU, mas faltou novamente inspiração para chegar ao gol. O elenco do Flamengo, do meio para a frente, não é tão bom quanto dizem. O do Palmeiras é superior.

Uma das evoluções do time do Palmeiras é a capacidade de alternar a maneira de marcar, por pressão ou recuando para contra-atacar em um mesmo jogo, de acordo com o momento e o adversário. A maioria dos times brasileiros, quando avança a marcação, deixa grandes espaços entre o meio-campo e a defesa porque os zagueiros continuam colados à grande área.

O mesmo leitor, a minha consciência crítica, questiona se não dou um valor excessivo às incertezas e ao imponderável no futebol. Sou fascinado pela ciência, pela qualidade dos atletas e pelas estratégias dos treinadores, mas ignorar o acaso, especialmente no futebol, é uma visão científica soberba. Acaso não é sorte. São detalhes comuns, frequentes, que sempre acontecem, como o erro de um árbitro, uma expulsão, uma bola desviada e tantos outros, mas que não sabemos quando e onde vão ocorrer.

Existe um enorme exagero em muitas e rápidas avaliações de treinadores e jogadores. É o mundo imediatista em que vivemos. Basta um belo gol, como o de Arthur, do Botafogo, para ele ser tratado como o grande protagonista da equipe, o que nunca foi. Tomara que um dia seja. Por causa da mesma pressa, treinadores são dispensados, como se fossem os únicos culpados pelas derrotas. Santos, Grêmio e Vasco, três gigantes do futebol brasileiro, já trocaram vários treinadores sem resultados, pois os elencos são fracos.

Confundem muito habilidade com técnica. Há vários jogadores hábeis, rápidos e dribladores que são endeusados desde as categorias de base, mas sem boa técnica, que pode ser aprendida e desenvolvida. O talento é a união, a síntese, da habilidade, da técnica, da criatividade e das condições físicas e emocionais.

Na quinta-feira, o Barcelona, melhor time do mundo mesmo tendo sido eliminado da Liga dos Campeões pela excelente equipe da Inter de Milão, conquistou o título espanhol com mais uma grande atuação e um gol magistral do jovem Lamine Yamal, 17 anos. Seu talento vai muito além da habilidade, da técnica e das estatísticas. Ele é indefinível. Ele é antes de ser.

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Folha de S.Paulo