O mercado da suplementação esportiva foi impactado no início deste mês por um laudo formulado pela Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri). O documento em questão aponta adulteração em produtos de 48 empresas, que, por sua vez, questionam a validade desses estudos e acionaram a Justiça para que não houvesse suspensão dos itens citados.
CEO do Grupo Supley (detentor de empresas como a Probiotica e a Max Titanium, uma das marcas citadas pelo laudo da Abenutri), Mariane Machioni Morelli alega que há uma série de inconsistências no documento: “aqueles laudos são de 2022 (…) o primeiro erro é metodológico, pois o laboratório onde os testes foram feitos não foi autorizado a elaborar esse tipo de laudo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O segundo erro é o fato de que nós não sabemos como os itens (utilizados nos testes) foram coletados. Existe uma metodologia para se adquirir os produtos testados.”
Ainda de acordo com a empresária, parte significativa dos produtos acusados de adulteração sofreram com a prática de “Amino Spiking”, que consiste em inserir aminoácidos em determinadas fórmulas para que não seja preciso adicionar tanta proteína, uma matéria-prima cara. “Nesse caso, um laudo que leva em consideração apenas o valor nutricional do suplemento vai dar ‘ok’, mas o erro, aí, é não alertar o consumidor a respeito dessa adição”, explica Mariane.
“Esse laudo foi feito para pegar algum indício de ‘Amino Spiking’, mas não utilizou as metodologias necessárias nem levou em consideração a cadeia correta de aminoácidos de cada produto. Nós fomos à Justiça para falar que essa análise estava errada. Onde ele (o laudo) informou que havia indícios dessa prática, na verdade não existia. Todos os aminoácidos presentes nos suplementos ‘denunciados’ eram provenientes da própria matéria-prima utilizada na formulação dos produtos (…) não existe nada de errado com os nossos produtos”, afirma a CEO do Grupo Supley.
Diante dos desdobramentos desse caso e da quantidade de informações contrastantes que há nas redes sociais, os consumidores podem ficar confusos. Em quem deve-se confiar? Para Bruno Busquet, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri), essa crise de confiança só pode ser solucionada com a ciência.
“Saúde se faz com ciência, não com opinião. Vamos dar voz aos cientistas, aos nutricionistas, aos médicos. Eles que vão falar para o consumidor o que é bom e o que não é. Essa é a profissão dele. Sendo assim, não haverá dúvidas sobre nada”, destaca Busquet.
O palestrante também reforçou a padronização e o rigor que quaisquer estudos devem seguir: “a gente pede toda a documentação de laudos (…) Existem padrões. Existe uma norma por parte do nosso órgão regulador, que é um dos melhores do mundo.”
“Não é qualquer um que pode se associar à Brasnutri. Tem que mandar toda a documentação que a Anvisa pede”, completa o presidente da associação. Para ele, o objetivo da colaboração é “defender um setor mais organizado e melhor para todo mundo”.
É necessário reforçar que esse texto não se trata de uma propaganda para qualquer empresa ou associação. A reportagem buscou contato com a Abenutri, mas não obteve retorno.
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Folha de S.Paulo