Parece incrível, mas faltando dois meses para seu início a primeira edição do novo Mundial da Fifa, o chamado Supermundial, tem uma vaga em aberto.
O mais incrível é que essa vaga esteve definida por meses e, súbito, o órgão máximo do futebol, tendo como base regulamento que ele mesmo redigiu, decidiu “desdefini-la”.
Diz o artigo 10º do regulamento da competição nos Estados Unidos, que terá 32 times e começará no dia 14 de junho, que “nenhum clube participante poderá, direta ou indiretamente”, estar sob controle do mesmo dono.
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Esse regulamento existe desde outubro do ano passado e, naquele momento, já era sabido que os mexicanos Pachuca e León estavam classificados para o Supermundial, com duas das quatro vagas oferecidas para a Concacaf, região que inclui Américas do Norte e Central e Caribe.
Ambos se classificaram pelo critério estabelecido: vencer a Copa dos Campeões da Concacaf. O León ganhou a de 2023, e o Pachuca, a de 2024.
Também já era sabido que esses dois clubes pertencem ao Grupo Pachuca, que é comandado pelo empresário Jesús Martínez Patiño.
Para bom entendedor, concordando-se ou não com a regra, isso basta. Tire-se, imediatamente, um deles do campeonato.
Sabe-se lá por quê, isso não aconteceu. Veio o sorteio dos grupos do Supermundial, em dezembro, e lá estavam Pachuca e León, que caiu na chave do Flamengo.
Passa-se o tempo. Somente no dia 21 de março, três semanas atrás, a Fifa avisou que, por descumprimento de regra, os dois clubes não podem estar simultaneamente na competição. E o León foi excluído.
Por que o León e não o Pachuca? A Fifa não disse. Especula-se que, dentro do grupo controlador, o Pachuca é o “carro-chefe”, tendo sido mantido por esse motivo.
Patiño e companhia discordaram. Mesmo aparentemente sem ter razão, decidiram recorrer, e o caso parou no TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), na Suíça.
Essa disputa judicial poderia ter sido adiantada em meses, e possivelmente já estar resolvida, não fosse a longa demora da Fifa em cumprir o regulamento do Supermundial.
Há alguns dias, o TAS emitiu um comunicado no qual informa que as partes discordantes enviarão por escrito seus argumentos e que eles serão analisados na semana que começa no dia 5 de maio.
Antes disso, no próximo dia 23, o tribunal afirma que dará o veredito acerca de outro recurso, da Liga Deportiva Alajuelense, que se diz no direito de entrar no lugar do León porque, este sendo excluído, o regulamento do Supermundial estabelece que o substituto de quem ficar fora deve ser definido pelo ranking da Fifa de times da Concacaf.
O costarriquenho Alajuelense é apenas o 15º colocado, mas argumenta que as equipes acima dele, todas de EUA e México, não podem ser escolhidas devido a um limite de vagas por país estabelecido no artigo 11 do regulamento –cuja leitura é interpretativa.
Se o Alajuelense obtiver a vaga no TAS, pode perdê-la duas semanas depois, caso o León, hoje com a vaga perdida, a recupere no mesmo TAS.
Se o Alajuelense não obtiver a vaga, a Fifa estuda realizar um jogo entre o América (México), atual líder do citado ranking, e o Los Angeles FC (EUA), que perdeu a Champions da Concacaf de 2023 para o León.
Seria, em tese, descumprir o regulamento que a própria Fifa fez, pois o substituto deve vir do ranking e não de um jogo “inventado”, quiçá para dar ao país-sede a chance de emplacar mais um time na competição.
Uma confusão gigante. Que tem como única responsável a “organizada” Fifa. Entidade solene que deixa para a história um caso de grosseira inaptidão.
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Folha de S.Paulo