Rio Open avalia troca de piso para atrair elite do tênis – 24/02/2025 – Esporte


Com a vitória do argentino Sebastián Báez na final do Rio Open no domingo (23), a Argentina empatou com a Espanha como os dois países com mais títulos no saibro do Jockey Club, com três cada.

O domínio das duas escolas de tênis em que o saibro é tradicionalmente o piso preferido de seus tenistas pode, contudo, estar com os dias contados no Rio de Janeiro.

Os organizadores do evento não descartam a troca da superfície de terra batida, passando a adotar o modelo de quadra rápida nas próximas edições.

Aumentar o apelo e atrair mais tenistas da elite é a principal razão por trás da troca considerada, mas uma eventual mudança no local do evento é vista com ressalvas pelos jogadores.

Na decisão deste ano, o campeão Báez ocupava o posto de 31º do mundo, enquanto Alexandre Müller era o 58º.

O Rio Open é o único da América do Sul de nível ATP 500, enquanto outros torneios da mesma categoria são disputados em quadra dura no mês de fevereiro. É o caso dos ATP 500 de Doha (Qatar), Dallas (Estados Unidos), Roterdã (Holanda) e Acapulco (México).

Os torneios nível ATP são divididos em três categorias principais —250, 500 e Masters 1000— e ficam abaixo em nível de importância apenas dos quatro Grand Slam —Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open.

Os Grand Slam na Austrália e nos Estados Unidos também são disputados em quadra rápida, e Wimbledon, na grama, enquanto Roland Garros é jogado no saibro, piso que proporciona um ritmo de jogo mais lento.

Os jogadores da elite tendem a privilegiar a quadra dura no início do ano pela disputa do Australian Open, em janeiro, e dos Masters 1000 de Indian Wells e Miami, em março.

O torneio no Qatar, por exemplo, teve como campeão o russo Andrey Rublev, número 9 do mundo —eliminado por João Fonseca no Australian Open—, e contou com as participações do espanhol Carlos Alcaraz (3º) e do sérvio Novak Djokovic (7º).

Na edição deste ano do Rio Open, o principal nome era do alemão Alexander Zverev, vice-líder do ranking, que acabou eliminado nas quartas de final. O dinamarquês Holger Rune (13º) e o italiano Lorenzo Musetti (17º) acabaram desistindo de participar por conta de lesões.

“A quadra dura ofereceria um cartel de opções maior de jogadores para trazermos. Não que a gente viraria uma chave igual a Doha, mas acho que teriam mais opções interessantes”, afirmou Lui Carvalho, diretor do Rio Open, em entrevista a jornalistas.

“É uma decisão que envolve vários fatores, mas estamos o tempo inteiro em discussão para poder fazer isso acontecer”, acrescentou o executivo.

A troca do piso divide as opiniões no meio. Campeão no torneio de duplas na edição deste ano ao lado de Rafael Matos, Marcelo Melo diz que a mudança de superfície contribuiria para uma renovação no quadro de atletas.

“Acredito que uma possível mudança de piso traria jogadores diferentes. Penso que não é pelo fato de o Brasil ser longe que o jogador deixaria de vir. Quando escolhemos o torneio, tem um planejamento pensando na sequência. O fato de ser saibro quebra essa sequência”, afirmou Melo à Folha.

Ele disse ainda que prefere até jogar em piso duro do que no saibro, onde conquistou a maioria dos 39 títulos da carreira.

“Não sei como seria possível ter só o Rio de Janeiro na América do Sul na quadra dura, mas a chance de atrair jogadores de alto nível é muito maior. Daqui a pouco começa Acapulco, Indian Wells, Miami, e a quadra do torneio é importante para definir a vinda de jogadores diferentes”, acrescentou Melo.

Ex-número 1 do Brasil em simples, Thomaz Bellucci também apoia a mudança para a quadra rápida. Mas entende que é preciso que outros torneios vizinhos, como Buenos Aires e Santiago, também adotem o modelo. Dessa forma, os tenistas ganhariam um incentivo adicional para se deslocar à região, podendo disputar dois ou três torneios no mesmo piso.

“O Rio Open tem uma estrutura boa, todos que frequentam gostam. Mas realmente, se quiserem avançar, precisam de grandes nomes. Esse ano tiveram dificuldades para trazer nomes de fora”, afirmou Bellucci.

Tendo alcançado o posto de 21º do mundo em simples, Bellucci acrescenta que, a depender da evolução de João Fonseca no circuito, sua própria presença no evento pode se tornar uma dúvida no futuro.

“Se ele virar top 20 ou top 10, será que vai querer jogar no saibro voltando da Austrália, indo para Indian Wells e Miami? Isso tudo leva a crer que o caminho seja uma mudança inevitável de piso. E com o João, a decisão de jogar ou não, pode pesar para isso.”

Já o ex-duplista Bruno Soares vê com menos entusiasmo a troca. “Falam que a manobra implicaria em trazer mais jogadores, e tenho dúvidas se influenciaria. Creio que não vai impactar tanto. O maior desafio do Rio Open é logístico. Por que os europeus virão para o Rio se podem jogar perto? Sempre haverá esse problema”, afirmou Soares.

Ele acrescentou que, no passado, com a alta quantidade e qualidade de tenistas sul-americanos, como Gustavo Kuerten, David Nalbandian, Fernando González e Gastón Gaudio, a demanda por nomes de fora era menor.

“Ninguém estava nem aí para os europeus. Agora não é assim, por isso se discute. Mas se o João [Fonseca] e os argentinos seguirem subindo no ranking, talvez isso também baste”, disse Soares.

Seja como for, diante da possibilidade de mudança no piso, os organizadores não descartam também a troca da própria sede do evento, que acontece desde a primeira edição no Jockey Club, cujo contrato vai até 2027. Uma alternativa no radar seria a estrutura do Parque Olímpico, na zona oeste, que recebeu os jogos de tênis na Rio-2016.

Soares assinala que a troca de sede, em vez de ajudar, pode atrapalhar no envolvimento do público com o torneio.

“Acho que o torneio perderia muito. O público carioca, que é boa parte dele da zona sul, termina de trabalhar e em 10, 15 minutos se desloca. Da Barra, a galera vai levar uma hora e meia até o Parque Olímpico. Não vejo tração nisso”, disse o ex-tenista.

“O Jockey tem um encanto fundamental no torneio, é um local espetacular”, afirmou Melo. “Realmente é um prazer para nós jogadores estar ali próximos ao Cristo.”

Atual número 95 do mundo em duplas, Marcelo Demoliner também não vê com bons olhos a mudança da sede do Rio Open para o Parque Olímpico. “Lá está há vários anos abandonado, precisa de reestruturação tanto para comportar pessoas, como os jogadores. Não tem nada, os banheiros eram ruins. Na Olimpíada, isso foi um caos para os jogadores. É um ponto muito sensível”, disse ele.

Demoliner reconhece, no entanto, que diante do crescimento do evento e do apelo trazido pela sensação João Fonseca, novas alternativas são necessárias. “Como jogador é muito legal estar lá [no Jockey]. Mas para o torneio poderia ter muito mais crescimento em quadra dura trazendo mais jogadores, saindo da zona de conforto”, afirmou o tenista.



Folha de S.Paulo