Racismo na Euro faz inglesas abandonarem ato antirracismo – 21/07/2025 – O Mundo É uma Bola


O racismo é um daqueles males incrustados na sociedade para o qual não se acha solução.

No futebol, por mais que se divulguem e se condenem situações que constrangem e machucam atletas que não sejam brancos, os casos (vide o de Vini Jr., do Real Madrid, ofendido várias vezes, e o de Luighi, do Palmeiras, na Libertadores sub-20) não param de surgir.

O mais recente envolve a seleção inglesa feminina que disputa a Eurocopa de 2025, na Suíça, que nesta semana realizará as semifinais (Inglaterra x Itália e Alemanha x Espanha). A final é no domingo.

O alvo é Jessica Carter, 27. Devido a atuações consideradas ruins nas partidas diante da França (derrota) e da Suécia (vitória nos pênaltis), a zagueira recebeu ofensas racistas pelas redes sociais.

“Embora eu ache que todos os fãs tenham direito a opinar sobre o desempenho [das jogadoras], não concordo nem considero certo focar na aparência ou na raça de alguém”, afirmou no Instagram a atleta do Gotham FC (EUA). Carter é negra.

Como resultado das ofensas, que estão afetando sua saúde mental, ela decidiu afastar-se das redes sociais.

O episódio refletiu no English Team. As jogadoras, que declararam ter sentido “raiva” e “tristeza” com o ocorrido, prestando apoio total à colega, decidiram abandonar um gesto feito há anos: ajoelhar-se antes do apito inicial das partidas.

Essa atitude teve início no futebol depois da morte do negro George Floyd por um policial branco em Minneapolis (EUA), em 2020. Floyd foi estrangulado ao ter seu pescoço pressionado pelo joelho do oficial.

Nos jogos, a atitude de flexionar o joelho, em solidariedade ao movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), passou a ser vista como um protesto contra o racismo, e também contra a violência policial. Porém perdeu força com o passar do tempo.

Em um comunicado, as Leoas (como são apelidadas as jogadoras do English Team) declararam que “nós e o futebol precisamos encontrar outro jeito de combater o racismo”.

“Nos questionamos: a mensagem [ajoelhar-se] é tão forte como costumava ser? Pois essas coisas ainda acontecem com os jogadores nos maiores torneios de suas vidas”, disse a lateral direita Lucy Bronze, 33, uma das líderes da seleção inglesa. “É preciso fazer mais no futebol, é preciso fazer mais na sociedade.”

A Fifa, órgão máximo do futebol, na figura de seu presidente, Gianni Infantino (“Estamos com a Jess. Estamos com cada jogador e com cada indivíduo que sofreu abusos racistas”), e a Uefa, entidade que rege o esporte na Europa, via X (“O abuso e a discriminação nunca devem ser tolerados, pessoalmente ou online. Estamos com Jess”) se solidarizaram com Carter.

São falas corretas, porém ineficazes. Assim como o ato de se ajoelhar mostra-se hoje ineficaz, é necessário bem mais que frases de suporte aos agredidos.

A organização antidiscriminação Kick It Out (chute para longe) que existe desde 1997 e atua no combate ao racismo, demandou das empresas que controlam as redes sociais atuação mais incisiva para impedir a disseminação de mensagens de ódio.

É por aí. Só que essas empresas não estão preocupadas com isso. E muita gente no mundo também, alegando que “o direito de liberdade de expressão” está acima de tudo, inclusive de discursos hediondos.

Desse modo, e já que as big techs não se manisfestam a respeito, cabe às autoridades (as governamentais) criarem mecanismos/leis que obriguem as empresas a agir contra essas pessoas (no mínimo, excluir a conta, o que não resolve, mas pode desestimular) que surram e humilham outras com palavras sórdidas –não só no esporte.

Pessoas que me fazem questionar se o ser humano está evoluindo ou involuindo.

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Folha de S.Paulo