Quarentena de maratonista aquática Ana Marcela Cunha teve ‘nado no seco’


Com calendário olímpico incerto, brasileira eleita seis vezes como a melhor do mundo se prepara para competições na Europa

Divulgação/COBAna Marcela Cunha faturou a primeira medalha brasileira pan-americana em águas abertas

Com a vaga garantida para as Olimpíadas de Tóquio, Ana Marcela Cunha, brasileira de 27 anos eleita como a melhor atleta de maratona aquática do mundo seis vezes – uma delas, em fevereiro deste ano – viu a expectativa pela viagem ao Japão crescer com o adiamento dos Jogos. A atleta enfrentou uma mudança brusca de treinamento que incluiu até mesmo “nado no seco”, e se prepara para uma série de competições na Europa que darão novo ritmo a sua temporada visando o ainda incerto 2021.  Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, a atleta, que está em Portugal com o Time Brasil, conta como foi o período de quarentena e a mudança de planos causada pela pandemia. “Tivemos muita paciência refazendo o planejamento apenas com aquilo que era possível ser feito. Conseguimos um equipamento chamado ‘vaza’, como se fosse um ‘nado no seco’, e adaptamos muito do que a gente vinha fazendo na água, e isso deu muito resultado. Lógico que houve um pouco de perda nos treinamentos, mas nada absurdo com relação ao tempo fora da água, o que, na natação, é algo essencial”, conta.

Os atletas também usaram da tecnologia para facilitar a rotina de treinos em casa. “Fizemos a parte física em conjunto com o pessoal do Time Brasil, sempre ligando um para o outro, tentando fazer o máximo juntos – porém separados – através da câmera e das ligações. A gente conseguiu de certa forma manter isso. Foi muito importante para o retorno”. Em julho, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) enviou atletas de seis modalidades – boxe, ginástica artística, ginástica rítmica, judô, nado artístico e natação – para Portugal, após um acordo com o governo do país, na tentativa de mitigar os efeitos da paralisação dos treinamentos no Brasil e dar início a preparação para os Jogos Olímpicos. Lá, eles ficam acomodados em um centro de treinamento a 75km de Lisboa. A ida para a Europa viabilizou a participação de Ana Marcela em quatro provas até o fim de 2020.

“Tenho provas que vão me dar nível de competição até o fim do ano. Não consigo falar de 2021 ainda, mas pensando a curto prazo, tenho a Capri Napoli, de 36km, logo depois vou a Ilha da Madeira, para uma prova de 10km, e cinco dias depois, nado uma prova de 10km e uma de 5km na França. A última vai ser a mais forte, estou animada”, conta. Sem um calendário definido para o próximo ano, ela comemora já poder entrar na disputa:”Só de poder voltar a ter essa sensação de competição, ter um objetivo mais claro, ajuda muito. Estou muito feliz de ir para essas provas”.

Com o sonho olímpico adiado, Ana diz que esse é um momento de reinvenção no esporte. “Todos sofrem na reta final dos Jogos Olímpicos, mas todo mundo terá que se readaptar. Acaba sendo uma sensação bem parecida para o mundo inteiro. Não tem como cruzar os braços e achar que do nada, tudo vai ficar bem. A gente vai fazendo o que pode”, diz. Ela revela ter dado importância também ao lado psicológico, e tenta ver a situação de uma forma positiva. “Conversei com minha psicóloga sobre a preparação mental que a gente tem diariamente. Gosto de ver o lado positivo das coisas. Eu tenho a vaga, para mim foi até bom. Mais um ano para treinar. Tem atleta que ainda não tem”, lembra.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) e os organizadores locais asseguram que os Jogos Olímpicos vão acontecer, porém, não dizem como será feito. A ideia é que ocorram de 23 de julho a 8 de agosto de 2021, mas, por ora, faltam certezas e sobram questionamentos sobre a presença do público, a necessidade da quarentena e a logística para reunir quase 16 mil atletas olímpicos e paralímpicos, além de treinadores, dirigentes e a imprensa, em meio a uma pandemia em estágios bem diferentes nos países e territórios dos 206 comitês olímpicos nacionais que integram a entidade.





Fonte: Jovem Pan