Poucas vezes vi uma seleção brasileira tão fraca, confusa coletivamente. A única estratégia ofensiva do Brasil no empate por 1 a 1 com a Venezuela consistia em congestionar o lado esquerdo com dois pontas e o meio-campo entregar a bola para Neymar. Ele recuava demais para recebê-la, às vezes fazia uma linda jogada individual sem completá-la e outras vezes perdia a bola ou errava o passe.
O Brasil não pode depender de tantos lances individuais de Neymar. O jogo coletivo é que tem de dar a ele condições para brilhar, da intermediaria do adversário para o gol. Neymar não é um meio-campista. É um meia-atacante.
Vinicius Junior ficou sem espaço com tantos jogadores próximos a ele. No Real Madrid, a principal jogada da equipe é virar a bola rapidamente para a esquerda, para Vinicius recebê-la e driblar o marcador, o que não ocorreu contra a Venezuela.
De vez em quando a seleção vai dar show individual, golear, receber muitos elogios, criar uma enorme expectativa, para depois fracassar contra fortes adversários, como nas eliminações nos últimos Mundiais.
Achar que Fernando Diniz é o técnico ideal para recuperar as origens, o futebol-arte dos anos 60, é uma visão simplista e ultrapassada. A seleção precisa jogar o futebol moderno. Diniz, no Fluminense e em outros times, destacou-se com um jogo de aproximações, trocas de passes, domínio da bola, virtudes das principais equipes do mundo.
A aglomeração de jogadores no mesmo espaço com dois pontas pela esquerda, em todos os momentos e contra todos os adversários, é um fator negativo entre as boas ideias de Fernando Diniz. Funciona bem apenas em algumas situações especiais.
Na terça-feira, contra o Uruguai, será outro dia, uma nova história. Quem sabe o Brasil faça uma ótima partida contra a renovada seleção uruguaia, dirigida pelo Loco Bielsa.
A atuação coletiva do Brasil foi tão ruim, assustadora, que tive saudades da seleção organizada sob o comando de Tite, e também do titês, do verbo “oportunizar”, dos “extremos desconcertantes”, como Tite chamou os pontas hábeis, rápidos e dribladores.
Tite é o novo técnico do Flamengo. Ele se caracteriza pela seriedade profissional, pelo pragmatismo, pelo conhecimento científico e pela maneira respeitosa com que trata a todos, jornalistas, árbitros e auxiliares, sem agitação e sem histerismo durante as partidas.
Talvez falte a Tite e a vários outros treinadores apaixonados pela estratégia, pelo planejamento, a capacidade de, diante do inesperado, tomar, rapidamente, decisões diferentes que não foram ensaiadas. Isso é para pouquíssimos.
Tite deve sonhar ate hoje com De Bruyne, da Bélgica, e com Modric, da Croácia, dois fatores decisivos e inesperados que foram importantes nas eliminações do Brasil nas duas últimas Copas do Mundo.
Treinadores como Fernando Diniz, Tite, Ancelotti, Abel Ferreira e outros são importantes, mas as pessoas não deveriam criar expectativas exageradas, fora da realidade.
Cem anos
Dias atrás, o escritor, jornalista e cronista Fernando Sabino completaria cem anos. Tenho orgulho de ter sido entrevistado por ele, no hotel do Rio de Janeiro onde a seleção campeã do mundo de 70 se hospedou por um dia imediatamente após a chegada do México. Nesta ocasião, Fernando Sabino já tinha escrito “Encontro Marcado”, um dos livros mais impactantes que li. A entrevista foi assunto de uma de suas crônicas. Os muitos livros de Fernando Sabino humanizaram a minha alma. São misturas de ironia, beleza, filosofia e angústia existencial.
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