Deixando a patriotada do lado, o fato é que, com o fim da era Messi-Cristiano Ronaldo, o posto de melhor jogador do mundo continua aberto.
Parte da ira da torcida brasileira com o resultado da Bola de Ouro tem a ver com o vazamento de uma “fake news”, a do triunfo antecipado de Vinicius Junior. Até a divulgação dessa “barriga”, como se diz no jargão jornalístico, a coroa estava entre cinco nomes –além de Vini e Rodri, o inglês Jude Bellingham, do Real Madrid, o espanhol Dani Carvajal, também do Real, e o norueguês Erling Haaland, do Manchester City.
Carvajal e Rodri tinham contra si a posição recuada em campo –prêmios individuais tendem a recompensar a visibilidade maior dos atacantes–, mas a seu favor o retrospecto impressionante durante a temporada, empilhando taças em seus clubes e na seleção espanhola, campeã da Eurocopa, realizada em solo alemão. Rodri foi eleito pela Uefa (União das Associações Europeias de Futebol), a confederação europeia, o maior jogador do torneio.
Vinicius Junior e a seleção brasileira, por sua vez, naufragaram diante do Uruguai nas quartas de final da Copa América, disputada nos Estados Unidos. Mesmo que o Brasil tivesse sido campeão, porém, isso não mudaria o fato de que a Eurocopa pesa mais na Bola de Ouro do que o torneio equivalente sul-americano.
Um prêmio para Carvajal, 32, seria certamente criticado: trata-se de jogador competente, mas apenas esforçado. Rodri, por sua vez, alia a eficiência à “classe”, um dos critérios explicitamente comunicados pela revista France Football, responsável pelo prêmio, ao júri de cem jornalistas.
Outro quesito, o de “fair play”, é ainda mais subjetivo. No futebol, o termo costuma ser usado em referência à disciplina dentro de campo. Se o critério são os cartões, a diferença entre Vini e Rodri é insignificante: considerando campeonato nacional e Champions League, o brasileiro levou dez amarelos e nenhum vermelho em 36 jogos; Rodri, dez amarelos e um vermelho em 42 partidas.
Uma hipótese é que a louvável batalha de Vinicius Junior contra o racismo nos estádios possa, por mais que soe injusto, ter pesado contra ele. Sua cólera ostensiva diante dos constantes episódios de racismo pode ter feito alguns eleitores lhe tirarem pontos no critério “fair play”.
Os defensores de Vini brandiram estatísticas, mas comparações numéricas entre atacantes e meio-campistas defensivos, com funções muito diferentes em campo, são quase impossíveis. No mercado do futebol, o brasileiro vale bem mais que o espanhol: € 200 milhões (R$ 1,23 bilhão), contra € 130 milhões (R$ 801 milhões) do espanhol, segundo o site especializado alemão Transfermarkt.
Vinicius foi brilhante na temporada 2023/24, mas Rodri também foi –assim como Bellingham, Haaland e Carvajal, sem falar em nomes como o jovem espanhol Lamine Yamal, 17, que talvez seja o jogador mais vistoso do momento.
Talvez o problema real seja a obsessão inócua com honrarias individuais em um esporte coletivo. Com ou sem a Bola de Ouro, Vinicius Junior será lembrado pelos títulos que conquistar. Já tem duas Champions League, ambas com gol na final, mas só a Copa do Mundo vai colocá-lo de vez no panteão dos maiores craques brasileiros.