Em dezembro passado, escrevi aqui que a pior forma de solidão não é apenas a companhia de um paulista, como disse Nelson Rodrigues, mas a companhia de um paulista na São Silvestre. O sujeito passa o ano todo fervendo o coco na capital e ainda tem a má ideia de seguir por aqui no Réveillon.
Melhor manter distância.
Mas, já que se livrou dos congestionamentos na estrada, decide enfrentar um na avenida Paulista, com outras 55 mil pessoas, à espera da largada para a São Silvestre.
Bem, bastante gente, paulistanos e forasteiros, paga para estar nessa portentosa muvuca –e muitos pagaram com mais vontade neste ano, que marca o centenário da prova.
Os problemas no dia das inscrições, no fim de setembro, com gente mofando e mofando e mofando em filas digitais sem fim, já entraram para a história dos “dos e don’ts” da organização de eventos de massa do Brasil. Menos mau que foram abertas outras 5.000 vagas, a ser sorteadas nesta semana, o que indica o provável novo mecanismo a ser adotado nesses eventos para multidões, como a própria SS e a Mara do Rio.
Mas, se você não conseguiu se inscrever na SS, bateu na trave no sorteio e decidiu não ir para o “marketplace” dos infernos de inscrições de segunda mão, trago boas notícias: mais de uma dúzia de provas noturnas de 10 km alusivas a são Silvestre acontecem até o fim do ano em Portugal.
E, melhor ainda, para fechar com chave de ouro, um outro 10 km no próprio 31 de dezembro abre as celebrações de Réveillon na sempre festiva Madri, na Espanha.
Em 27 de dezembro, um sábado, Lisboa organiza uma SS com muvuca em escala humana –14 mil pessoas no ano passado.
Essa SS possivelmente mais natalina que de Réveillon passa pelos cenários de sonho de Lisboa, o Rocio e o Cais do Sodré, por exemplo, para terminar no lindo Terreiro do Paço. A inscrição pode ser feita pela mesma Ticket Sports das inscrições da SS paulistana. Outra boa notícia: é bem mais barato que a prova daqui; custa a partir de R$ 154 ou € 16 (sem impostos).
Outras 17 provas de São Silvestre ocorrem em Portugal do fim de novembro até o próximo Dia de Reis –6 de janeiro– em diversas cidades da Terrinha. Pertinho do Porto são logo duas, em Santo Tirso e Ermesinde, respectivamente a 30 km e a 10 km da vistosa Torre dos Clérigos e da igreja da Lapa, onde repousa o coração do nosso dom Pedro 1º –o dom Pedro 4º deles.
Mas, se o amigue acha que São Silvestre é necessariamente um programa de Réveillon, o lugar a estar é Madri –eu me pergunto quando não se é para estar em Madri. Com largada pouco antes das oito da noite, esse festivo 10 km termina no estádio de Las Vallecas, o simpaticíssimo campo do Rayo Vallecano. Para quem consegue correr a distância abaixo de 39 minutos (homens) e abaixo de 45 minutos (mulheres), há uma prova dentro da prova, com vagas limitadas.
Por ter vivido cinquenta anos e fumaça nesta ex-terra da garoa, folgo com São Paulo, mas também desfruto dela. É na primavera que as ruas da cidade se enchem da flor amarela da sibipiruna, espécie frondosa muito utilizada na arborização pública de décadas atrás e que tende a desaparecer com os eventos climáticos extremos que nos esperam. Junto com as pitangueiras, cujo fruto também dá agora, elas são uma razão a mais para correr pela cidade. Aproveite.
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Folha de S.Paulo


