Os dois representantes brasileiros nas quartas de final da Copa do Mundo de Clubes, contra Chelsea e Al Hilal, respectivamente, Palmeiras e Fluminense têm em comum o fato de terem vencido, no início dos anos 1950, as duas edições da Copa Rio.
A competição sediada em São Paulo e no Rio de Janeiro reuniu equipes da América do Sul e da Europa e é tratada pelos dois clubes como um título mundial. A dupla pleiteia há anos junto à Fifa (Federação Internacional de Futebol) o reconhecimento oficial da disputa.
A entidade máxima do futebol chegou a causar certo alvoroço entre as torcidas das duas equipes antes do início da competição nos Estados Unidos, ao divulgar documento que gerou interpretações equivocadas sobre o reconhecimento dos mundiais.
Organizada pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos), a primeira edição da Copa Rio foi em 1951, e contou com oito times convidados, campeões ou vice estaduais ou nacionais.
Além de Palmeiras e Vasco, campeões paulista e carioca no ano anterior, vieram Juventus, da Itália, Nice, da França, Estrela Vermelha, da Iugoslávia, Sporting, de Portugal, Áustria Viena, da Áustria, e Nacional, do Uruguai.
A final no Maracanã em duas partidas teve a vitória do Palmeiras contra a Juventus de Turim por 3 a 2 no placar agregado. Os relatos dão conta de que representantes da Fifa estiveram presentes para acompanhar as disputas.
A segunda edição aconteceria em 1953, mas acabou antecipada em um ano a pedido do Fluminense, para coincidir com as comemorações de 50 anos do clube. O tricolor e o Corinthians foram os representantes brasileiros e tiveram a companhia de Peñarol, do Uruguai, Sporting, Grasshopper, da Suíça, Áustria Viena, Saarbrücken, da Alemanha, e Libertad, do Paraguai.
A final foi protagonizada pelos dois brasileiros, com a vitória do Fluminense por 4 a 2 no agregado.
A Copa Rio teve apenas duas edições e foi sucedida em meados dos anos 1960 pela Copa Intercontinental, que passou a reunir os campeões sul-americano e europeu.
“A história não pode ser apagada. Para nós, e para todos que conhecem a história do futebol, o Palmeiras é, sim, campeão mundial”, afirmou a presidente do clube, Leila Pereira, em recente entrevista ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
Em 2017, o alviverde passou a usar acima do emblema uma estrela vermelha, em referência à conquista.
“A estrela representa o orgulho da nossa história, e o fato de termos sido os pioneiros que colocaram o nome do futebol brasileiro no topo do mundo”, disse a mandatária.
O Fluminense trata a conquista da mesma forma, com a alusão ao “título mundial” na sala de troféus.
Em 2012, antes de partida pelo Campeonato Brasileiro, os capitães Marcos Assunção e Fred trocaram faixas com referências à Copa Rio como um título mundial.
Apesar dos pedidos, a Fifa nunca oficializou a conquista como um mundial de clubes reconhecido pela entidade.
Por conta da Copa de Clubes, a entidade preparou uma espécie de guia aos torcedores que gerou dúvidas sobre o status dos títulos da Copa Rio.
No documento, ela listou os troféus de todas as equipes e, ao fazer referência aos dois títulos, incluiu as competições na classificação “Copa Inter-Confederações”. O mesmo termo foi usado para designar a Copa Intercontinental e o Mundial de Clubes, com seus campeões reconhecidos como campeões mundiais.
A partir daí, muitos passaram a acreditar que os torneios vencidos por Palmeiras e Fluminense também teriam esse status. Mas isso não aconteceu. O Wydad Casablanca, de Marrocos, também aparece no guia com um título de “Copa Inter-Confederações” por ter conquistado o Campeonato Afro-Asiático de 1993, mas nem por isso é reconhecido como campeão do mundo.
A Fifa reconheceu que houve um erro na produção do guia e retirou o material do ar.
Para ter um mundial reconhecido pela entidade, o Palmeiras de Abel Ferreira encara o Chelsea —atual campeão da Conference League— em uma revanche do Mundial de 2021, quando perdeu por 2 a 1, com um gol de pênalti no fim do segundo tempo da prorrogação.
Tendo eliminado o Botafogo na fase anterior, o alviverde tem três desfalques importantes para a partida decisiva contra os ingleses —o capitão Gustavo Gómez e o lateral-esquerdo Piquerez, suspensos por cartões, e o zagueiro Murilo, que sofreu lesão na última partida da fase de grupos, contra o Inter Miami.
Da linha defensiva titular, apenas o lateral-direito Giay estará à disposição. A zaga deve ser formada por Bruno Fuchs e Micael, dupla que chegou ao clube no início do ano, enquanto a cria da base Vanderlan assume a lateral-esquerda.
No ataque, Paulinho, autor do gol contra o Botafogo e ainda longe das melhores condições físicas, deve seguir como opção no banco, com as esperanças na frente depositadas em Estevão, eleito o melhor do jogo duas vezes —contra Porto e Al Ahly— e que segue para o Chelsea ao fim da competição.
Já o Fluminense do técnico Renato Gaúcho aposta na experiência de jogadores tarimbados para passar pelo Al Hilal, que também surpreendeu ao deixar pelo caminho o Manchester City.
Com 44 e 40 anos, Fábio e Thiago Silva —eleito para a seleção das oitavas de final da competição— são os dois jogadores mais velhos no mundial.
A equipe conta ainda com o artilheiro Germán Cano, de 37, autor do primeiro gol na vitória contra a Inter de Milão, e Jhon Arias, 27, eleito o melhor da partida três vezes —contra Borussia, Ulsan e Internazionale.
O único desfalque será do lateral-esquerdo Renê, que recebeu o segundo amarelo contra os italianos e cumpre suspensão. Titular contra o Ulsan, o colombiano Fuentes deve assumir a posição.
A equipe pode ainda contar com o reforço de Soteldo, que chegou do Santos com uma lesão na coxa esquerda, mas já tem treinado com o grupo.
Segundo as projeções da Opta Analyst, empresa de estatísticas esportivas, o Fluminense tem 40,2% de probabilidade de avançar às semifinais. O Palmeiras sai vitorioso do confronto contra o Chelsea em apenas 25,2% das simulações.
Folha de S.Paulo