Palmeiras; Abel Ferreira admite mágoa com parte da torcida – 31/10/2025 – Esporte


Abel Ferreira prometeu “uma noite mágica” aos torcedores do Palmeiras, cumpriu o compromisso e chorou. Em demonstração de emoção atípica para seus padrões, o português de 46 anos se ajoelhou no gramado do Allianz Parque após a classificação à final da Copa Libertadores, na noite de quinta-feira (30), e viveu um momento de catarse.

As lágrimas voltaram a aparecer minutos depois, durante sua entrevista coletiva. Concluída a reviravolta nas semifinais da competição –derrotado por 3 a 0 em Quito, o time fez 4 a 0 na LDU em São Paulo–, o treinador se mostrou sensibilizado ao mencionar sua família e admitiu que a demonstração era também resultado de mágoa.

“Eu fiquei muito magoado com aquilo que ouvi de uma parte da torcida, não estava à espera”, afirmou, referindo-se aos xingamentos recebidos no próprio Allianz, em agosto, na eliminação da Copa do Brasil diante do arquirrival Corinthians –que já havia castigado a formação alviverde na decisão do Campeonato Paulista deste ano.

É por causa desse episódio que a renovação de seu contrato ainda não está assinada. Assediado por agremiações de diversos países, Ferreira tem compromisso com o Palmeiras apenas até dezembro. Está em sua mesa um novo acordo, com duração até dezembro de 2027, e ele se mostra relutante em usar a caneta.

“Eu disse a Leila: ‘Não vale assinar, porque não vou continuar se não houver condições de assinar’. Há clubes que me ligam de todos os lados. É duro estar no Brasil. Não pelo clube. Mas porque vocês jornalistas são exigentes, duros, alguns passam do ponto, e às vezes questiono a mim mesmo se é isso o que quero”, afirmou.

Apesar dessa frase, Abel deu seguidas indicações de que pretende continuar. A entrevista chegou a ser interrompida pela presidente da agremiação, Leila Pereira, que tomou o microfone e, dedo em riste, apontou o português como “o maior técnico da história do Palmeiras, absolutamente sem dúvida nenhuma”.

Ferreira, que já havia elogiado a dirigente antes dessa intervenção, respondeu que “o Palmeiras é um oásis”. O que o incomoda no Brasil não é a estrutura interna do clube, mas a pressão externa e a birra de parte da torcida –sobretudo a organizada–, aquela que o xingou no fracasso contra o Corinthians.

Não houve xingamentos a Ferreira na noite de quarta, na maior virada da história das semifinais da Copa Libertadores. Uma desvantagem de três gols foi revertida pela primeira vez nessa fase da competição, o que assegurou uma final brasileira e o 25º título de um clube do Brasil, que vai igualar a recordista Argentina.

A decisão contra o Flamengo está marcada para 29 de novembro, no estádio Monumental de Lima, no Peru. Enquanto a data não chega, o Palmeiras briga com o próprio Flamengo pelo troféu do Campeonato Brasileiro. E Abel procura deixar para trás a mágoa que carrega desde as ofensas de agosto.

Ele repetiu a metáfora do “casamento perfeito, com uma mulher imperfeita e um homem imperfeito que fazem tudo para não desistir um do outro”. “Não sei se vamos ganhar títulos ou não, mas a Leila sabe o que quero, os jogadores sabem que gosto de os treinar. Já tenho aqui cinco anos que eu pensei que seriam cinco meses. Eu gosto de estar aqui.”



Folha de S.Paulo