Começo a ter meu colega desta Folha Bruno Gualano como oráculo. Em coluna pregressa intitulada “As verdades inconvenientes do dr. Bruno”, abri alguns “teasers” da aula que ele gravou para o curso “Fitness: o que funciona para uma mudança verdadeira”, disponível na Casa Folha.
Não repetirei o que disse lá, quero sublinhar o que ele falou sobre hidratação recentemente. E isso porque na corrida isso é quase mandamento bíblico: beber bastante água durante a atividade, às vezes ultrapassando a medida da sede, é salutar.
Diz Bruno, que é doutor em educação física pela USP e professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP:
“É consenso que atividades moderadas e com duração inferior a 60 minutos dispensam o consumo de isotônicos. E, exceto em condições excepcionalmente quentes e úmidas —e contanto que você seja jovem e saudável—, água também.”
Bruno questionava principalmente a indústria do isotônico (um nome mais palatável e conveniente —conveniente para a indústria— do que sua versão em inglês: sports drink), mas vou ficar no que falou sobre a água.
O consenso talvez seja entre os cientistas. Nas assessorias esportivas, é bem outro: deve-se tomar água a cada 15 ou 20 minutos.
Mesmo o grande treinador Mario Sergio Andrade Silva, fundador da longeva assessoria RunFun, citando o American College of Sports Medicine, repassa a recomendação acima em seu livro “Corra” – versão tropical, bem mais moderna, do “Guia Completo de Corrida”, do estadunidense James Fixx.
“Corra” já tem 15 ou 16 anos e, justiça seja feita, nele Mario Sergio aponta um risco que Bruno também indica, o da hiponatremia, em que, em provas longas, muita água pode agravar o quadro decorrente da natural perda de sódio.
Escreve Bruno: “Um estudo feito com corredores da Maratona de Boston de 2002 mostrou que 13% deles apresentaram hiponatremia (baixa concentração de sódio no sangue), condição que pode levar a convulsões, edema cerebral, parada respiratória e morte. Sua causa principal é o excesso de líquido ingerido (…)”.
Nos meus longões, que em geral não passam de duas horas, não tomo água, até por não portar cantis; na meia maratona, abro os trabalhos lá pelo quilômetro 15. Tudo pode variar de acordo com a temperatura ambiente.
Não digo para você fazer o que eu faço. Melhor ir no que Bruno sugere, recomendação que parece coisa de vó: “(…) o melhor seria respeitar a sede —um mecanismo evolutivo finamente governado pelo hipotálamo para nos lembrar exatamente quando e quanto beber”.
Entendo que muitos treinadores têm dificuldades para lidar com as especificidades de seus alunos e que, por isso, evitem falar em jejum ou redução na hidratação. Além disso, os riscos da hiponatremia são aparentemente circunscritos a maratonistas e triatletas, um grupo menor e que, em geral, conhece bem suas próprias necessidades.
Deveria ser o meu caso, mas na minha primeira e até aqui única mara na gringa, em Napier, na Nova Zelândia, enchi a cara com o isotônico fartamente oferecido durante a prova. Foi uma das minhas piores maratonas.
Só pra gente manter a coesão da narrativa e o vilão da história, você não me ouviu aqui a dizer que o vento contrário era dureza e que fiz uma viagem interminável, desembarcando em Napier 19 horas antes da largada.
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