Onde é melhor correr: Rio ou São Paulo? – 05/06/2025 – No Corre


Os leitores de fora do Rio e de São Paulo que me perdoem, mas eu precisava começar por algum lugar. E se esta coluna toca na velha rivalidade Rio x São Paulo, e isso pode parecer um tanto beligerante, essa não era a intenção.

Ou era? Já me perdi.

Bem, fiquemos com a solução salomônica: é legal, é maneiro correr nessas duas cidades, seja você iniciante, iniciado, veterano, viciado ou virgem (só que morou no Rio). Veja os pontos fortes de cada cidade.

Visuais – Comparar os cenários das duas cidades, mesmo aqueles não criados pelo Grande Arquiteto, é covardia. O Rio é, como se diz agora, ridículo, dá de lavada em Essepê, como daria de lavada provavelmente em qualquer outra cidade do Brasil.

É ocioso cotejar aqui a orla carioca com, vá lá, o Alto de Pinheiros ou a Brás Leme; a Lagoa com a Vila Nova Conceição ou a Vila Formosa; o Aterro com o Minhocão, ainda que os grafites dos prédios lindeiros até valham o corre no fim de semana. O caminho do Cristo, o Pão de Açúcar contra… não, para.

Parques – Aqui São Paulo leva a melhor, uma vez que o Rio desconhece esse tipo de logradouro. Não há um Ibirapuera, com sua trilha de 5 km; um Villa-Lobos, com o anel de 4 km; um Ceret. No Rio, parque é em geral a entrada de uma mata copiosa, mal você ingressa e já está num singletrack subindo rumo à Floresta da Tijuca ou, como no caso do Parque Lage, ao Cristo. E por falar em Floresta da Tijuca, é meritória a iniciativa da deputada estadual Dani Monteiro (Psol-RJ), que apresentou projeto de lei para homenagear 11 pessoas escravizadas que replantaram todo o Parque Nacional da Tijuca no século 19, transformando aquela terra cansada pelo café na floresta densa que é hoje. O projeto de lei virou lei.

Clima – São Paulo volta nesta categoria a performar, com um clima bem mais civilizado e propício para a corrida, ao menos de abril a setembro.

Provas – Há alguns circuitos de distâncias curtas comuns às duas capitais, mas o Rio é exuberante na hora do grande —expertise para isso, como sabemos, não lhe falta. A Mara do Rio, a propósito, é organizada por um braço da promotora do Rock in Rio.

A espetacularização da Mara do Rio é notável. Neste Corpus Christi, pela primeira vez, o evento vai se desdobrar em quatro dias de provas, uma a cada dia do feriadão. Fora isso, a Expo é gigante, a loja da Adidas idem, o palco à beira da baía de Guanabara é quase ostentação, quase música incidental.

Certo, tem as duzentas chicanas no Aterro, o metrô fechado, o espaço sofrível e apertado das tendas das assessorias, mas a cidade vive a corrida. Já São Paulo… São Paulo tem o clone do Elvis na frente da Galeria do Rock. Ok, os dois pórticos de largada, novidade recente da SP City, mataram a pau.

Indulgências – Alguém já disse, talvez moi-même, que corre para beber, e embora eu tenha deixado a Cité Maravillé há exatos 54 anos, não consigo imaginar um lugar em que esse princípio seja mais bem aplicável. A imortal Adega Pérola já foi cenário de algumas libações pouco recomendáveis para quem estava às vésperas de meias e maras, mas pergunta se eu me arrependo.

São Paulo ganha pontos por conta da feijoada também às quartas-feiras –talvez a melhor providência já tomada na história da metrópole. Perdeu no sábado? Não é preciso esperar uma semana inteira.

Coisa estranha: começo a escrever sobre corrida, acabo falando de boteco.

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Folha de S.Paulo