O que uma camisa de futebol pode contar sobre geopolítica – 19/07/2025 – Esporte


Em 13 de julho, o Chelsea marcou três gols contra o Paris Saint-Germain para vencer a Copa do Mundo de Clubes. Além de garantir o título —o PSG era o favorito do torneio— e um troféu de ouro gigantesco, levou para casa cerca de R$ 640 milhões.

Os dirigentes do clube ficarão gratos pelo pagamento. Observadores atentos podem ter notado que a frente da camisa do Chelsea está em branco. Desde que um consórcio americano comprou o clube em 2022, os proprietários têm procurado um acordo de patrocínio lucrativo, com resultados variados. Os pares do Chelsea, enquanto isso, estão cheios de dinheiro: o PSG supostamente recebe cerca de US$ 70 milhões (R$ 390 milhões) por ano da Qatar Airways. (Tanto o clube quanto o patrocinador são de propriedade do governo do Qatar.)

Para Joey D’Urso, jornalista de The Times, esses detalhes importam. Em “More Than A Shirt”, ele argumenta que as camisas de futebol —e especialmente os nomes das marcas que aparecem nelas— podem dizer muito sobre economia e geopolítica. Os órgãos dirigentes do futebol se destacaram na comercialização do esporte, ele argumenta, mas falharam em protegê-lo de empreendimentos questionáveis.

Uma geração atrás, o patrocínio de camisas era mais simples do que a regra do impedimento. Empresas de bens de consumo pagavam aos clubes pela chance de alcançar torcedores locais. No início da era da Premier League em 1992, o Liverpool era patrocinado por uma marca de cerveja, e o Arsenal, por uma empresa de eletrônicos. Mas, à medida que o futebol se tornou mais popular globalmente, as camisas dos times mais bem-sucedidos atraíram uma variedade mais ampla de patrocinadores.

D’Urso descreve um acordo feito em 2006, quando um time alemão da primeira divisão, o Schalke 04, trocou seu patrocinador principal de uma seguradora local para a Gazprom, uma produtora de gás russa. Esse acordo lucrativo foi um desvio da norma. “Ninguém assistindo… vai sair e comprar um metro cúbico de gás da Gazprom”, observa o autor.

Em vez disso, um especialista em energia diz que a Gazprom procurou o Schalke para melhorar a imagem da Rússia como “o vizinho amigável”. Funcionou. Durante o curso do acordo, uma parcela crescente da matriz energética alemã foi destinada ao gás natural russo.

O material mais forte do livro mostra como alguns clubes líderes aceitaram dinheiro de patrocínio sem fazer a devida checagem. Em 2021, o Chelsea assinou um acordo com a Leyu Sports, uma empresa de apostas asiática. Os jogadores foram forçados a falar chinês em vídeos promocionais, e o logotipo da empresa foi exibido no estádio do time.

Mas, quando tentou rastrear a empresa que dizia ter intermediado o acordo, D’Urso não conseguiu provar sua existência. Fotos de seus funcionários eram imagens de banco de imagens. “Simplesmente, ninguém tem ideia de quem está administrando essas empresas”, diz. Sem essa informação, os times não sabem o que estão promovendo, mesmo que estejam praticando “ignorância em vez de engano intencional”.

O futebol abraçou esquemas de criptomoedas com um escrutínio semelhantemente deficiente. Em 2021/22, 19 dos 20 clubes da Premier League anunciaram um produto de criptomoeda para seus torcedores. Esses clubes colaboraram com “startups” de criptomoedas para criar “tokens” não fungíveis que deveriam ser colecionáveis.

D’Urso apontou que a indústria de criptomoedas se fixou no futebol porque percebeu que era “a maneira mais barata de fazer publicidade para homens jovens”, um grupo mais inclinado a assumir riscos financeiros. Os preços logo despencaram (embora as criptomoedas tenham se recuperado desde então).

D’Urso conversa com torcedores irritados e envergonhados. Na ausência de regulamentação suficiente, alguns acreditam que foram explorados por seus clubes. Outros ficam surpresos que jogadores que consideravam “legítimos” endossariam esquemas tão arriscados.

Alguns se sentem obrigados a criticar os patrocinadores. No início deste ano, torcedores do Arsenal pediram que o clube encerrasse seu acordo com o conselho de turismo de Ruanda, depois de um grupo rebelde apoiado pelo governo ter invadido o leste do Congo. (Os países assinaram desde então uma trégua frágil.)

D’Urso argumenta que poucos, se é que algum, torcedores querem “lidar com questões geopolíticas complexas”. No entanto, “More Than A Shirt” mostra por que a geopolítica continua invadindo o campo.

De The Economist, traduzido por Marcos Guedes, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com.



Folha de S.Paulo