Um atirador que abriu fogo em um edifício de escritórios em Midtown Manhattan na segunda-feira (28) acreditava sofrer de uma lesão cerebral que ele atribuía à NFL (National Football League), disse o prefeito de Nova York, Eric Adams, trazendo a questão da ETC (encefalopatia traumática crônica) de volta às manchetes esta semana.
Segundo a polícia, Shane Tamura, um ex-jogador de futebol americano no ensino médio de 27 anos com histórico de doença mental, matou quatro pessoas com um rifle de assalto em uma torre de escritórios na Park Avenue que abriga a sede da NFL antes de atirar contra o próprio peito.
A seguir, uma explicação sobre o que é ETC e sua relação com esportes de contato.
O que é ETC?
A ETC é uma doença degenerativa causada por impactos repetidos na cabeça, incluindo concussões e impactos assintomáticos não concussivos. Os médicos só conseguem confirmar o diagnóstico após a morte, embora sintomas comuns, como agressividade e demência, possam surgir enquanto o paciente ainda está vivo.
Qual a relação entre NFL e ETC?
Pesquisas encontraram uma conexão entre ETC e atletas que competiram no futebol americano tanto em nível profissional quanto amador.
A NFL reconheceu uma ligação entre concussões relacionadas ao futebol americano e ETC. Em 2015, a liga concordou com um acordo de aproximadamente US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) para processos relacionados a concussões com milhares de atletas aposentados após as mortes de alguns jogadores de alto perfil.
O Centro de ETC da Universidade de Boston diagnosticou 345 ex-jogadores da NFL com ETC de um total de 376 estudados, até 2023.
“Se eles foram expostos ao futebol americano por muito tempo, isso aumenta o risco”, disse à Reuters a Dra. Ann McKee, diretora do Centro de ETC.
Tamura jogou na NFL?
Tamura não competiu na NFL, o mais alto nível do futebol americano profissional, mas jogou em uma escola particular de Los Angeles até se formar, em 2016.
Quais são alguns exemplos de ETC entre ex-jogadores?
Junior Seau, linebacker 12 vezes eleito para o Pro Bowl e membro do Hall da Fama, cometeu suicídio em 2012. Um estudo de seu cérebro posteriormente mostrou que ele sofria de ETC, um caso que acelerou o debate nacional sobre lesões cerebrais na NFL.
O ex-jogador do New England Patriots Aaron Hernandez, que foi considerado culpado de homicídio em primeiro grau em 2015 e morreu por suicídio na prisão em 2017, apresentava sinais pronunciados da doença, de acordo com descobertas da Universidade de Boston.
O ex-jogador da NFL Phillip Adams matou a tiros seis pessoas e a si mesmo em 2021. McKee descobriu que ele sofria de ETC Estágio 2 após examinar seu cérebro.
O que a NFL fez para mitigar lesões cerebrais?
As concussões caíram para um nível recorde durante a temporada mais recente da NFL, com a liga atribuindo esse declínio às melhorias na tecnologia dos capacetes, bem como às mudanças nas regras.
Protocolos aprimorados de concussão foram implementados em 2022 depois que a NFL enfrentou críticas intensas sobre lesões na cabeça sofridas pelo quarterback do Miami Dolphins, Tua Tagovailoa.
A liga anteriormente proibiu os perigosos impactos de capacete contra capacete.
Mas alguns pesquisadores, incluindo McKee, disseram que as medidas são insuficientes.
“Eles abordaram a concussão, mas isso é apenas a ponta do iceberg. A verdadeira questão são os golpes assintomáticos na cabeça que não causam concussão, e muito pouco foi feito para abordar isso”, disse McKee.
E quanto a outros esportes?
Pesquisadores identificaram uma conexão entre ETC e outros esportes, incluindo rugby, hóquei no gelo e futebol.
Uma ação coletiva no Reino Unido envolve mais de mil jogadores, principalmente ex-jogadores de rugby, incluindo muitos jogadores internacionais de alto nível, que afirmam que os órgãos reguladores do esporte não fizeram o suficiente para protegê-los de potenciais lesões cerebrais, apesar de estarem cientes dos riscos.
A World Rugby, o órgão dirigente do esporte, introduziu uma série de medidas de bem-estar do jogador nos últimos anos em uma tentativa de minimizar concussões e lesões na cabeça no esporte.
Folha de S.Paulo