O patriotismo na independência do futebol do Brasil – 04/07/2025 – PVC


O 4 de julho de 31 anos atrás foi brasileiro. Lembro-me bem de meu mestre e amigo, Juca, dizer-me no pontapé inicial de Brasil x Estados Unidos. “Isto vai ser um massacre.” Havíamos debatido na véspera, no quarto de hotel, com os brilhantes repórteres fotográficos Pedro Martinelli e Nelson Coelho.

Eu dizia que o jogo ia ser duro. Eles, ia ser fácil. O Brasil venceu por 1 x 0, os americanos cantaram USA e todo o resto a história nos conta.

Este 4 de julho vai ser muito mais difícil. Porque os Estados Unidos atacaram o Irã, porque o mundo está em constante conflito, porque o Fluminense não é tão forte quanto o Al Hilal, da Arábia Saudita, e o Palmeiras está menor do que o Chelsea.

Curiosa comparação de tamanhos. O Palmeiras já era grande havia quarenta anos, quando o Brasil se tornou o maior no futebol, em 1958. O Chelsea só virou grande quando o russo Roman Abramovich comprou-o, em 2003.

O Palmeiras é um gigante de sempre, o Chelsea um grandão do século 21. Mas Estêvão, por exemplo, acha gigantesco trocar seu time atual pelos azuis de Londres, porque vai receber semanalmente em libras.
A situação atual não vai mudar nem sequer se o Fluminense vencer o Al Hilal e o Palmeiras, o Chelsea.

O Dia da Independência dos Estados Unidos deveria ser o dia da declaração de soberania do futebol do Brasil. Não será nem se Palmeiras e Fluminense, os dois, ganharem de Al Hilal e Chelsea.

Neste momento, deveriam todos os dirigentes do Brasil definirem que este velho país do futebol é grande demais para ter um campeonato tão irrelevante na Europa, Estados Unidos e Ásia. E, imediatamente, trabalhar para fazê-lo existir em maior nível de exposição e relevância.

Leila Pereira, logo ela, a mais expressiva presidente de clube brasileiro durante a Copa do Mundo, travou a negociação para a unificação das duas ligas brasileiras. Formar uma só, em que se olhe para a árvore, não para o tamanho dos galhos.

O Brasil sabe, neste 4 de julho, que não será fácil, como se achava que seria em 1994. Ninguém cantará USA, USA, no estádio, como aconteceu em São Francisco, naquele desafio Brasil 1 x 0 Estados Unidos, gol de Bebeto.

Romário construiu toda a jogada e correu para abraçar o autor da vitória. Bebeto retribuiu e aquela jogada entrou para a história como o “Eu te amo, Romário!” Nada mais lindo do que a declaração do amor platônico, amor pela parceria do gol.

O Brasil atual não está preparado para este tipo de declaração. Quer a vitória, e só. E ai de quem perder e tentar justificar. O Chelsea é melhor coisa nenhuma. O Al Hilal empatou com o Real Madrid e venceu o Manchester City. E daí?

A Copa do Mundo de Clubes só começou na versão mais recente e já despertará paixões de torcedores, jornalistas e até de jornalistas-torcedores, que fazem lives pós-jogo para ganhar dinheiro a partir de sua própria paixão —e dos outros, é claro.

O mundo mudou muito entre o 4 de julho de 1994 e o 4 de julho de 2025. Para mais da metade da população brasileira, Chelsea e Al Hilal são o Brasil na Copa do Mundo de Clubes. Danem-se Palmeiras e Fluminense.

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Folha de S.Paulo