O futebol, como a vida, é rico em histórias. Feliz é quem tem amigos para compartilhar memórias e relatar acontecimentos recentes, ou nem tanto, que trazem algum sentimento.
Não sou uma enciclopédia do futebol –assim era chamado Nilton Santos, lateral bicampeão mundial com o Brasil (1958 e 1962), devido ao seu vasto conhecimento futebolístico–, mas gosto de dividir causos quando há oportunidade.
Conto aqui um, ocorrido no dia 4 de outubro de 1975, em Lima. Eu tinha 2 anos, então este relato não é de minha memória e sim de conteúdo registrado por fontes diversas, incluindo esta Folha.
Chegou a mim por acaso, quando eu pesquisava sobre fatos relevantes do futebol ocorridos 50 anos atrás. Eu não sabia, gostei de saber e talvez você aprecie.
Era disputada naquele ano a 30ª edição da Copa América, reunindo dez seleções sul-americanas, a primeira de três sem uma sede única. Durava alguns meses, com jogos de ida e volta entre os participantes.
A competição era dominada por Argentina (12 títulos) e Uruguai (11). Os brasileiros tentavam o quarto troféu (ganharam em 1919, 1922 e 1949, sempre no Brasil) e os peruanos, o segundo (venceram em 1939, como anfitrião).
Campeões de seus grupos, Brasil e Peru foram emparelhados em uma das semifinais. No jogo de ida, no Mineirão, os visitantes, liderados pelo craque Teófilo Cubillas, ganharam por 3 a 1.
Na partida de volta, em um fim de tarde de sábado na capital peruana no estádio do Alianza, o Brasil foi escalado assim por Osvaldo Brandão: Waldir Peres, Nelinho, Vantuir, Piazza e Getúlio; Vanderlei, Zé Carlos e Geraldo (Palhinha); Roberto Batata, Campos (Roberto Dinamite) e Romeu Cambalhota.
Com um gol contra, de Meléndez, e outro de Campos, o Brasil ganhou por 2 a 0. Uma vitória para cada lado, saldo de gols zero. O regulamento não previa disputa de pênaltis para o desempate, mas um sorteio. Realizado, segundo consta, depois do jogo na sede da Federação Peruana de Futebol.
Papéis com as inscrições “Brasil” e “Peru” colocados em um recipiente, a escolhida para retirar um deles foi uma garota de 14 anos, Verónica, filha de Teófilo Salinas, peruano que chefiava a Conmebol (confederação sul-americana) à época.
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Deu Peru, e a seleção brasileira suspeitou de maracutaia. Os jogadores queriam que a definição tivesse sido em campo, num “cara ou coroa”.
Difundiu-se que Verónica pegou uma bolinha vermelha e branca com a letra P (de Peru), e não um pedaço de papel –sorteios com bolinhas podem ser manipulados com uma que esteja gelada, instruindo-se o sorteador a escolhê-la. Essa versão nunca foi comprovada.
Na final da competição, os peruanos superaram os colombianos.
Oito anos depois, em 1983, foi a vez de o Brasil vencer um sorteio na Copa América, também na semifinal, contra o Paraguai. Depois de empate por 1 a 1 em Assunção e 0 a 0 em Uberlândia, a moedinha favoreceu a equipe do técnico Carlos Alberto Parreira, que posteriormente, na decisão, perdeu do Uruguai.
Casos de outros tempos, citados pelas especificidades e por não estarem mais na memória ou serem desconhecidos.
Lembranças do futebol… A minha primeira grandiosa é a eliminação do Brasil pela Itália na Copa do Mundo de 1982 (eu adorava aquela seleção). Qual é a sua?
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Folha de S.Paulo