Kylian Mbappé, 26, é reconhecidamente o maior craque francês da atualidade. Atuou em duas Copas do Mundo e foi finalista nas duas.
Ganhou a de 2018, na Rússia, fazendo um gol no 4 a 2 contra a Croácia que rendeu o bi mundial aos Azuis, e perdeu a de 2022, no Qatar, para a Argentina de Messi, marcando os três gols franceses no 3 a 3 antes da queda na disputa de pênaltis, tendo convertido o seu.
Desde o ano passado no Real Madrid, depois de passagens por Monaco e Paris Saint-Germain, Mbappé tem paixão pelo futebol. Percebe-se pela sua determinação nas partidas, pela gana de vencer sempre, pela busca incessante pelo gol. Suas comemorações são efusivas.
Ou seja, o futebol o realiza… mas apenas quando ele está no campo. Recente entrevista do camisa 10 à revista do jornal parisiense L’Équipe mostrou um Mbappé desgostoso com o ecossistema futebolístico, com o que acontece no dia a dia fora dos gramados.
“Sou fatalista em relação ao mundo do futebol. Quem vai ao estádio tem sorte de simplesmente assistir a um espetáculo, sem saber o que está acontecendo nos bastidores. Sinceramente, se eu não tivesse essa paixão [pelo esporte], já estaria há muito tempo enojado com o mundo do futebol.”
E concluiu: “Jamais recomendaria a meus filhos que se envolvessem com o futebol”. A que Mbappé, que não tem filhos, refere-se exatamente?
A questão primordial envolve dinheiro. Milionário, ele disse na entrevista que “quanto mais dinheiro você tem, mais problemas você tem”.
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Fez-me lembrar um ditado: “Dinheiro não traz felicidade”. Se traz ou não, depende da pessoa –acredito que a maioria considera que ajuda a ter alguns gostos agradáveis na vida.
No caso de Mbappé, o que lhe causa dissabor é o ambiente que faz o futebol deixar de ter o aspecto puramente lúdico, de diversão, de alegria. A existência de contratos, inerentes ao esporte profissional, cria situações que levam a desavenças.
O atacante entrou em conflito com o PSG por dinheiro. Tenta, judicialmente, receber 55 milhões de euros (cerca de R$ 345 milhões) em salários e bônus que o clube estaria lhe devendo. “É meu direito, é a lei trabalhista.”
Outro acontecimento que relatou e que contribuiu para a desilusão com o futebol foi o PSG tê-lo afastado por um período das atividades do time, antes da temporada 2023/2024, depois que ele decidiu não estender seu contrato.
Essas atitudes (não pagamento e isolamento) decorreriam, de acordo com o jogador, da decisão dele de ir para a Espanha jogar no seu time de coração.
Por seu lado, o PSG diz que tinha chegado a um acordo verbal com Mbappé segundo o qual, para ser reintegrado ao elenco, ele concordou em abrir mão de bonificações financeiras.
Mbappé sente-se também desconfortável com a pressão exagerada pela qual passa. Pior para ele, pois não tem como ser de outro jeito. A cobrança maior estará sempre no famoso, no diferenciado, no melhor.
Isso gera desgaste e estafa mental. Superáveis, reforça o astro, pela veneração que sente pelo jogo. “Estar cansado não significa que você não ama o que faz. Eu ainda sou louco por isso.”
“Isso” é o futebol. Com relações comerciais cruéis, com exigências atrozes. E com o poder maiúsculo de fazer o jogador driblar as adversidades por ser tão loucamente apaixonante.
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Folha de S.Paulo