Novo presidente da CBF promete reduzir torneios estaduais – 25/05/2025 – Esporte


Eleito presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) neste domingo (25), Samir de Araújo Xaud, 41, prometeu uma readequação do calendário de futebol brasileiro, com os campeonatos estaduais tendo no máximo 11 datas, sem que isso comprometa a sustentabilidade financeira dos clubes.

Houve uma discrepância entre o que foi dito pelo agora presidente da CBF e o que foi divulgado em comunicado da entidade no que se refere ao calendário dos campeonatos estaduais. Ele mencionou 11, mas o texto fala em 12. Na coletiva de imprensa, Xaud repetiu o número 11.

“Nossa prioridade inicial é a adequação do calendário do futebol brasileiro. É compromisso dessa gestão implementar imediatamente mudanças significativas no calendário das competições. Assumo o compromisso de promover, entre outras medidas, a reorganização dos campeonatos estaduais para um calendário de, no máximo, 11 datas”, explicou.

Desde que foi anunciado como candidato, várias denúncias surgiram sobre Xaud. Ele é réu por improbidade administrativa pelo período em que dirigiu o principal hospital de Roraima e acusado de ser ausente e acobertar malfeitos no período em que foi secretário-adjunto de Saúde de Boa Vista.

“Foram colocadas muitas mentiras ao meu respeito. Muitas notícias falsas que tentaram me desprestigiar, tentaram colocar o meu nome para baixo. E é uma política que eu não faço. Eu sei muito bem quem eu sou, sei muito bem de onde eu vim e da formação que eu tenho e de tudo que eu passei para chegar até aqui. Então, a opinião alheia não me incomoda, porque eu sei muito bem quem eu sou”, afirmou o cartola.

Xaud também fez elogios ao ex-presidente Ednaldo Rodrigues, deposto do cargo após decisão judicial. Ele disse que as conquistas da gestão de seu antecessor são “patrimônio do futebol brasileiro e merecem ser preservadas e respeitadas”.

Em relação à seleção masculina, o novo mandatário disse que quer que o povo brasileiro volte a se identificar com a equipe, reiterando que os símbolos são as cores amarelo, azul, verde e branco, que representam o Brasil. Ele desejou um bom trabalho ao técnico Carlo Ancelotti, que terá autonomia e será “blindado” de qualquer fator externo.

“Já tive o primeiro contato com ele, sim, e ele vai ter total autonomia para decidir o que for melhor para a seleção brasileira. A comissão técnica e Ancelotti terão total autonomia e nós vamos blindar ele de qualquer situação externa que possa vir a ter. Eles precisam dessa autonomia para realizar o seu trabalho com excelência”, garantiu na coletiva de imprensa.

Além dele, foram eleitos oito vice-presidentes: Ednailson Leite Rozenha, Fernando José Macieira Sarney, Flávio Diz Zveiter, Gustavo Dias Henrique, José Vanildo da Silva, Michelle Ramalho Cardoso, Ricardo Augusto Lobo Gluck Paul e Rubens Renato Angelotti. Foram 103 votos entre 46 eleitores presentes.

Leia a íntegra do discurso de Samir Xaud

Prezadas senhoras e senhores, membros desta Assembleia, presidentes das federações, representantes dos clubes, vice-presidentes, diretoria e colaboradores da CBF, representantes da FIFA e CONMEBOL, treinadores, atletas, árbitros, jornalistas e toda a torcida brasileira.

Gostaria de iniciar esse discurso agradecendo aos meus companheiros de chapa, que confiaram a mim essa missão de liderar um projeto coletivo de renovação. Obrigado pela confiança e boa-sorte a todos nós: Rozenha, Angelotti, Michelle, Zé Ivanildo, Ricardo Paul, Gustavo Henrique, Flavio Zveiter e Fernando Sarney.

Hoje iniciamos uma nova fase na Confederação Brasileira de Futebol. Nossa gestão, e faço questão de usar o plural, será marcada pela renovação das ideias e pela agregação de todos aqueles dispostos a contribuir efetivamente para o desenvolvimento pleno do nosso esporte.

Não cheguei até aqui sozinho. Faço parte de um grupo que se uniu com um único propósito: construir uma nova CBF, moderna, participativa e comprometida com o desenvolvimento da indústria do futebol.

Agradeço o apoio de cada uma das 25 federações e 10 clubes que aceitaram o diálogo com esse projeto de renovação e depositaram em mim a confiança para concorrer à presidência.

Agradeço, ainda, a todos os presidentes de federação e representantes de clubes que se fizeram presente no dia de hoje, que é o momento mais importante do processo eleitoral. A todos aqui presentes, meus sinceros agradecimentos.

Aproveito a oportunidade para saudar respeitosamente o presidente da Federação Paulista, senhor Reinaldo Carneiro Bastos. A presença de um candidato qualificado como ele legitimou ainda mais essa eleição, pois a concorrência entre propostas e visões de futuro é o que torna o processo eleitoral legítimo e transparente.

Agora, encerrada a disputa nas urnas, é tempo de construção. É tempo de união. É tempo de uma nova CBF que clama por trabalho, diálogo e responsabilidade.

Também não poderia deixar de registrar aqui meu reconhecimento ao presidente Ednaldo Rodrigues. A ele, meus agradecimentos pela dedicação com que conduziu o futebol brasileiro até aqui. As conquistas de sua gestão são patrimônio do futebol brasileiro e merecem ser respeitadas e preservadas.

Sobre o futuro, devo dizer que nenhuma mudança profunda, nenhuma transformação ocorre do dia para noite, nem se dá de forma linear. Levará algum tempo. Mas assumo um compromisso público: nós vamos trabalhar incansavelmente, dia e noite, para promover o desenvolvimento de todas os níveis do nosso futebol.

A imagem da CBF tem sido, por muito tempo, associada à desconfiança e ao distanciamento. Isso vai mudar. Vamos transformar essa instituição para que cada colaborador sinta felicidade e orgulho de trabalhar aqui e para que todos se sintam efetivamente representados.

Desde o primeiro dia de trabalho, assumirei pessoalmente a liderança dos temas estruturantes do futebol.

Nossa prioridade inicial é a adequação do calendário do futebol brasileiro.

É compromisso dessa gestão implementar imediatamente mudanças significativas no calendário das competições. Assumo o compromisso de promover, entre outras medidas, a reorganização dos campeonatos estaduais para um calendário de no máximo 11 datas, sem comprometimento da qualidade e da sustentabilidade financeira dessas competições.

Que fique claro: essa reorganização do calendário é necessária, mas não significa uma desvalorização dos campeonatos estaduais. Entendemos que são os estaduais que movimentam economias locais, mantêm viva a tradição de futebol nos quatro cantos do país e fortalecem o sentimento de pertencimento entre torcedores e seus times do coração. Eles são, em muitos casos, a única oportunidade de visibilidade para centenas de atletas, técnicos e profissionais do esporte.

Nossa ideia é que essa reorganização do calendário seja acompanhada de outras medidas de valorização dos campeonatos estaduais. Valorizar os estaduais é valorizar o futebol como um todo.

Outra prioridade será o aperfeiçoamento da arbitragem. De imediato, vamos incluir dois representantes indicados pelos clubes como observadores permanentes das atividades da Comissão Nacional de Arbitragem.

O fair play financeiro também será uma prioridade da nossa gestão. Considerando a complexidade do tema e as diferentes formas de regulação, a CBF irá promover um amplo debate com a participação ativa de clubes, federações e especialistas. Nossa ideia é que seja instituído imediatamente um grupo de trabalho sobre fair play financeiro no âmbito da CBF, com o objetivo de propor as diretrizes para uma regulação moderna e adequada à realidade do futebol brasileiro.

Como dito ao longo da campanha, a criação da liga é outro compromisso desta presidência, que tomará todas as medidas para que esse tão importante projeto de desenvolvimento do futebol brasileiro saia efetivamente do papel. Por isso, digo aos clubes e aos representantes das ligas aqui presentes: as portas da CBF estão abertas desde já para uma discussão propositiva sobre a criação da liga.

Nosso compromisso também é com a inclusão e a diversidade. Fortaleceremos as ações de combate ao racismo e a qualquer forma de discriminação. Retomaremos competições como a taça indígena e daremos protagonismo a projetos voltados à sustentabilidade, com práticas mais conscientes, redução de impacto ambiental e promoção da educação climática dentro e fora dos gramados.

O futebol feminino também terá atenção prioritária. Vamos aumentar investimentos, ampliar e valorizar as competições. Tenho orgulho de ter na minha chapa a primeira mulher como vice-presidente da história da CBF. Juntos, faremos uma revolução no futebol feminino. A Copa do Mundo de 2027, aqui no Brasil, será um marco. Vamos aproveitar esse momento para alçar o futebol feminino ao lugar que ele merece: o de protagonista.

Em relação à Seleção Masculina, queremos mais do que títulos: queremos que o povo brasileiro volte a se identificar com a Seleção Canarinho. A Seleção, suas camisas amarela e azul, são símbolos da nossa identidade nacional. Que na Copa do Mundo de 2026 estejamos todos juntos na torcida e unidos no amarelo, no azul, no verde e no branco, que são as cores que simbolizam e representam a nossa nação.

Que o Cristo Redentor abençoe a chegada e o caminho do Mister Carlo Ancelotti, para que ele consiga, com nossos atletas, com a comissão técnica e com a energia do nosso povo, o tão sonhado hexacampeonato mundial.

Encerro este discurso reafirmando minha gratidão e meu compromisso com todos que apoiaram esse projeto, especialmente minha família e amigos, que confiam em mim pois sabem de onde eu vim e o que fiz para chegar até aqui.

Por último, gostaria de lembrar a todos que o Norte do país existe, embora alguns resistam a aceitar. Assumo este mandato com a alma profundamente ligada às raízes do nosso povo nortista — um povo forte, resiliente e profundamente orgulhoso de sua história, de sua terra e da riqueza da sua cultura.

Essa nova CBF nasce com a alma do Norte — com os pés fincados na cultura macuxi, com o olhar voltado para o futuro e com o compromisso inegociável de honrar a identidade, os sonhos e o potencial imenso da nossa gente.

Que a força do povo do Norte esteja comigo ao longo dessa caminhada! E que nunca me falte a memória daqueles que me confiaram esta missão!

É tempo de transformação.

É tempo de responsabilidade.

É tempo de reconstruir a confiança.

É tempo de uma nova CBF!

Muito obrigado.



Folha de S.Paulo