Novo calendário do futebol aproxima Brasil da Europa – 03/10/2025 – Esporte


Com a reformulação do calendário do futebol brasileiro anunciada na quarta-feira (1º) pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), os principais clubes do país devem experimentar uma redução no número de partidas a partir de 2026, embora ainda sigam acima da quantidade de jogos dos pares na Europa.

Considerando a hipótese de um time da elite do futebol brasileiro que avance até as finais das principais competições do calendário —estaduais, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Supercopa do Brasil, Copa Libertadores e Recopa Sul-Americana—, ele entrará em campo até 78 vezes em 2026.

O número representa uma queda de cerca de 8,2% em relação aos 85 jogos que o time poderia alcançar em 2025.

A redução se deve principalmente à diminuição de cinco datas dos estaduais, que passam de 16 jogos na atual temporada para 11 na próxima.

Também teve peso para o menor número de jogos a reformulação da Copa do Brasil, em que os times da Série A do Brasileiro passarão a entrar na quinta fase, a última antes das oitavas de final.

Se um time da primeira divisão nacional avançar até a final —que passa a ser em jogo único—, ele fará até nove partidas. Semifinalista da atual edição, o Vasco estreou neste ano logo na primeira fase e terá feito 12 partidas se for campeão.

Há ainda, no calendário nacional para os times de elite, as 38 rodadas do Campeonato Brasileiro e até 17 datas da Copa Libertadores, caso a equipe inicie a caminhada na fase preliminar, além da possível disputa da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana.

Em comparação, um time da elite do futebol da Inglaterra pode entrar em campo na atual temporada 2025/26 até 70 vezes, caso avance até as finais dos principais torneios disputados.

No país europeu, as equipes têm pela frente as 38 rodadas da Premier League, até sete datas da Copa da Liga Inglesa, e seis da Copa da Inglaterra.

A Champions League reformulada ocupa mais 17 datas do calendário —caso o time tenha de passar pelo playoff após a fase de liga para avançar às oitavas. Soma-se também uma data reservada para a Supercopa da Inglaterra e uma para a Supercopa da Europa.

“Os clubes brasileiros ainda vão seguir com uma carga maior de jogos em comparação com os times da Europa por muito tempo, ao menos até que não existam mais os estaduais”, afirmou Fernando Trevisan, diretor-geral da Trevisan Escola de Negócios e especialista em gestão e marketing esportivo.

“A disputa dos estaduais é o que realmente acaba nos diferindo de todo resto do mundo, espremendo o calendário local”, acrescentou.

“Apesar do esvaziamento dos estaduais, os clubes ainda vão ter de jogar no meio da semana e no fim de semana em algum momento, um campeonato sem o menor valor, apenas para agradar as federações”, afirmou Amir Somoggi, diretor da consultoria Sports Value.

De toda forma, Trevisan avaliou que o anúncio da CBF na véspera é um “primeiro grande passo” dentro de um processo de maior racionalização do calendário do futebol brasileiro.

Sob o novo formato, o Campeonato Brasileiro passará a ser disputado ao longo de todo o ano, entre 28 de janeiro e 2 de dezembro, com a pausa para a Copa do Mundo, entre 11 de junho e 19 de julho, seguindo o formato de disputa por pontos corridos.

Presidente da CBF, Samir Xaud disse que as mudanças têm como objetivo reduzir a carga de jogos dos times da elite, “que hoje enfrentam uma maratona exaustiva ao longo do ano”, e ampliar a oportunidade em competições nacionais para equipes que passam meses inativas no calendário atual.

“É uma questão de justiça esportiva, de desenvolvimento sustentável e equilíbrio”, afirmou o dirigente. “Tivemos que cortar na própria carne. Acredito que foi a melhor escolha e que vamos futuramente colher os frutos.”

“Talvez em um próximo movimento, a gente possa pensar em novas medidas, avaliando também os resultados das ações anunciadas agora. Se não eliminando os estaduais, pelo menos compensando de outras formas a participação dos times grandes em outros torneios, de modo a nos aproximar cada vez mais do cenário internacional”, afirmou Trevisan.



Folha de S.Paulo