Neymar, Gabigol e outros pedem fim de gramados sintéticos – 18/02/2025 – Esporte


Vários jogadores proeminentes publicaram nesta segunda-feira (18) um manifesto contra a utilização de gramados sintéticos no futebol brasileiro. Atletas como Neymar, Gabigol, Philippe Coutinho e Thiago Silva, com passagens por clubes da Europa e pela seleção brasileira, reclamaram dos campos artificiais.

“Preocupante ver o rumo que o futebol brasileiro está tomando. É um absurdo a gente ter que discutir gramado sintético em nossos campos”, dizem eles, em texto intitulado “Futebol é natural, não sintético!”. “Objetivamente, com o tamanho e a representatividade que tem o nosso futebol, isso não deveria nem ser uma opção.”

Diante do recorrente argumento de que os campos artificiais são melhores do que os gramados naturais de má qualidade vistos no Campeonato Brasileiro, em suas todas as suas divisões, os jogadores responderam: “A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim”.

Eles preferiram não apontar no manifesto o risco de lesões. Embora muitos boleiros relatem que as travas das chuteiras ficam mais presas às fibras de gramado artificiais –o que contribuiria para lesões ligamentares–, ainda são inconsistentes as pesquisas sobre o assunto. Há uma série de estudos acadêmicos publicados o tema, com conclusões diferentes.

“Há variáveis como o escopo do estudo, a qualidade metodológica. Não tem como bater o martelo que um é melhor que o outro”, disse Liu Chiao Yi, coordenadora do curso de fisioterapia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), à Folha, há pouco mais de um ano, quando uma lesão nos Estados Unidos reacendeu a questão.

Na ocasião, logo em sua estreia pelo New York Jets, o craque do futebol americano Aaron Rodgers rompeu o tendão de Aquiles do pé esquerdo, que se enroscou no campo sintético. A partida foi realizada no MetLife Stadium, em Nova Jersey, que será um dos palcos da Copa do Mundo de 2026.

A Fifa (Federação Internacional de Futebol) já avisou que o torneio terá apenas grama natural, o que tornará necessária uma adaptação em 8 dos 16 estádios –há sedes também no México e no Canadá. No Campeonato Holandês, os times têm até o meio deste ano para adotar exclusivamente campos naturais.

“Nas ligas mais respeitadas do mundo, os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios. Trata-se de oferecer qualidade para quem joga e assiste”, diz o texto dos atletas, compartilhado também por Cássio, Lucas Moura, Gerson e Alan Patrick.

“Se o Brasil deseja definitivamente estar inserido como protagonista no mercado do futebol mundial, a primeira medida deveria ser exigir qualidade do piso que os atletas jogam e treinam. Futebol profissional não se joga em gramado sintético”, conclui o manifesto, replicado nos perfis dos esportistas nas redes sociais.

O movimento ocorre antes do conselho técnico do Campeonato Brasileiro, que definirá detalhes das regras deste ano. Três dos clubes da Série A pretendem mandar seus jogos em campos sintéticos. Já o fazem Palmeiras (Allianz Parque) e Botafogo (Engenhão). O Atlético Mineiro está concluindo a instalação do piso artificial na Arena MRV.

Recentemente reinaugurado, o estádio do Pacaembu, em São Paulo, também tem grama sintética. A arena tem sido utilizada pela Portuguesa no Campeonato Paulista. E a expectativa é que seja usada por São Paulo e Santos em partidas da competição nacional, cujo início está marcado para 29 de março.

A questão já foi debatida no conselho do ano passado. Definiu-se que os visitantes teriam direito a treinar no campo sintético um dia antes de cada jogo –medida que teve pouco efeito prático, já que a praxe não foi adotada. Desta vez, com a proximidade da competição, uma mudança drástica de curto prazo no regulamento é tratada como altamente improvável.

Diante do manifesto, o Palmeiras, que tem o gramado do Allianz Parque frequentemente alvo de críticas, reagiu. E publicou um texto no qual fala basicamente sobre lesões, muito embora essa palavra não seja nem sequer citada no manifesto de Neymar e companhia, que fala em “qualidade para quem joga”.

“Não há qualquer comprovação científica de que o risco de lesão em campos artificiais seja maior do que em campos naturais. Pelo contrário: recente estudo publicado pela revista The Lancet Discovery Science aponta que a incidência de contusões em jogos de futebol disputados em gramados artificiais é inferior à de lesões em campos naturais”, publicou o alviverde.

O referido estudo da Lancet chegou a apontar que a incidência de lesões é 14% menor no gramado artificial. A superfície estável e homogênea pode contribuir para a prevenção, observaram os autores. O que os jogadores argumentam, no entanto, é que os campos de grama bons, como devem ser nos campeonatos de primeira linha, têm também superfície estável e homogênea.



Folha de S.Paulo