Naná Silva e Victoria Barros, 15, buscam futuro no tênis – 20/09/2025 – Esporte


Quando Victoria Barros e Nauhany Silva, ambas de 15 anos, foram anunciadas como convidadas da chave principal do SP Open, houve quem tenha torcido o nariz. Eram, afinal, garotas, expostas a um WTA 250, torneio abaixo apenas dos WTA 500, dos WTA 1000 e dos quatro Grand Slams no circuito feminino do tênis.

O desempenho das duas na semana passada, no parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, deixou mais tranquilos aqueles que fizeram a aposta. Nauhany, conhecida como Naná, e Victoria, cada uma à sua maneira, conseguiram exibir seu talento e apresentar-se como o futuro da modalidade feminina no Brasil.

“Estamos no caminho certo”, resumiu a paulistana Naná, que viveu uma semana marcante. No mesmo Villa-Lobos em que buscava quadras gratuitas com o pai, a jovem que cresceu em área humilde do bairro Real Parque mostrou suas credenciais em seu primeiro campeonato de elite, organizado pela WTA, a associação dos tenistas profissionais.

Ela estreou batendo a compatriota Carolina Meligeni Alves, de 29 anos, 237ª do mundo. “Eu não estava imaginando passar da primeira rodada, não”, admitiu, com um sorriso pueril, antes de adotar um tom profissional, dizendo que tinha que “agradecer muito o convite”, em afago ao diretor da competição, Luiz Carvalho.

Assim têm sido as vidas de Nauhany e Victoria, uma tentativa de equilíbrio entre o que se espera de alguém de 15 anos e o que se espera de alguém com alto potencial no esporte. Há responsabilidades com treinadores, patrocinadores e jornalistas. Há também adolescentes que ainda tentam entender seu lugar no mundo.

Nenhum momento do SP Open foi tão ilustrativo desse conflito quanto a derrota de Victoria para a norte-americana Whitney Osuigwe, de 23 anos, que chegou a São Paulo como a 136ª do mundo. Em entrevista ainda na quadra, a jovem tomou o microfone e embarcou em um fluxo de consciência frenético.

A tenista de Natal começou seu discurso parabenizando a adversária em inglês, depois agradeceu ao público em português. Manifestou alegria com a participação no torneio e frustração com a derrota. Então, passou a falar da própria mãe, presente na arquibancada da quadra Maria Esther Bueno, e chorar.

“Eu aprendi muita coisa hoje. Joguei contra uma top 150 e vi que tenho jogo, mas a imaturidade e a inexperiência pesaram muito. Quero agradecer a minha mãe por estar aqui todos os dias, não é fácil me aturar”, soluçou, em parte de um discurso que teve lágrimas, risos e um grito no final: “Aqui é Brasil!”.

Minutos mais tarde, concedeu entrevista aos jornalistas credenciados ao evento. Repetiu o padrão observado na quadra, agradecendo nominalmente a dirigentes do campeonato, tentando falar sobre detalhes técnicos do jogo e na sequência mostrando-se mais vulnerável.

“A vida fora do tênis é bem difícil para um atleta de tênis. A gente não fica em casa muito tempo, não vê a família. A gente não tem uma vida normal, não pode ir à escola, não pode ter lazer como uma pessoa normal”, disse a potiguar, que citou ainda “pensamentos intrusivos” e “uma luta dentro de si”.

Victoria caiu na primeira rodada da chave de simples e também na de duplas do SP Open, ao lado de Naná. Já Naná, após a vitória sobre Carol Meligeni, perdeu para a argentina Solana Sierra, de 21 anos, cabeça de chave número dois e então 82ª colocada do ranking mundial.

As duas jovens são bastante protegidas por suas respectivas equipes de treinadores. Os profissionais envolvidos na preparação de cada uma delas –e também suas famílias– parecem entender a difícil tarefa de andar na corda bamba do esporte de alto rendimento com meninas de 15 anos.

Na semana passada, ambas tiveram a primeira experiência em um torneio WTA. Viram de perto como se preparam para as partidas atletas bem estabelecidas no circuito, como a brasileira Beatriz Haddad Maia, agora 25ª no ranking mundial.

“Acho que essa é a parte mais legal. A gente consegue ver o ambiente das prós. Elas são mais profissionais em tudo: comer, dormir… Elas fazem tudo caprichado, focam os detalhes”, observou a potente Naná, que deu o saque mais rápido da competição: 195 km/h.

Ela saiu do SP Open maior do que entrou, o que quase nada tem a ver com o salto da 1.206ª posição do ranking adulto para a 787ª. Foi o primeiro passo na elite do circuito para ela (35ª no ranking juvenil) e para Victoria (19ª no ranking juvenil, 1.289ª no adulto), que têm um longo caminho a percorrer.

“Vamos aprender mais, com derrotas, vitórias, mas a gente vai continuar evoluindo”, prometeu Victoria, naquele fluxo frenético de consciência, entre o choro e o riso. “Eu vou voltar mais forte. Amo vocês!”



Folha de S.Paulo