Muzy: musculação sem esteroides é o único esporte saudável – 19/03/2025 – Músculo


Assim como a modalidade tradicional do esporte, o fisiculturismo natural ganhou muita repercussão nos últimos anos. Essa divisão é vendida como uma alternativa saudável aos adeptos da prática que não desejam utilizar esteroides anabolizantes (EAs). Mas até onde os treinos de musculação intensos e as dietas restritivas podem ir antes de prejudicar a saúde do atleta?

Para o médico Paulo Muzy, especialista em Medicina Esportiva, o treino de musculação realizado por uma pessoa que não usa hormônios exógenos como recursos ergogênicos pode ser caracterizado como “o único esporte saudável” que existe.

Ainda de acordo com o profissional da saúde, o fisiculturismo natural é limitado pela capacidade física do atleta. “Se você respeita as bases de um bom treinamento, você está muito seguro. Ou seja, nesse sentido, treinar para o fisiculturismo natural é saudável. Se você faz musculação todos os dias sem hormônios, você vai ganhar um fortalecimento que, na velhice, por exemplo, será fundamental para o funcionamento da sua vida”, completa.

Mesmo sem a utilização de EAs, preparações longas e seguidas podem gerar diversas complicações para a saúde do fisiculturista. Liane Barbosa Cavalcante, que se profissionalizou recentemente na INBA (sigla para ‘International Natural Bodybuilding Association’) pela categoria Bikini, enfrentou problemas com seu eixo hormonal após passar por um ano de competições sem descanso entre os torneios.

“Depois do segundo campeonato, a minha testosterona estava muito baixa. Como se eu fosse uma criança de 8 anos ou uma senhora de 90 (…) o médico me disse que não sabia exatamente o peso dos campeonatos nesse diagnóstico, pois esse meu hormônio já havia começado a cair um pouco antes mesmo da minha primeira competição”, relata a fisiculturista profissional de 24 anos.

Liane também aponta que os fisiculturistas naturais, em média, podem ser mais suscetíveis a passarem por problemas específicos do que os fisiculturistas hormonizados: “tive um problema que todos os médicos apontavam como uma pré-menopausa – depois, descobrimos que não era exatamente isso, mas ainda estou fazendo exames. Principalmente para as mulheres, afeta muito o eixo hormonal. Eu fico imaginando como é para quem toma o EA ,e pelas coisas que eu vi, esses atletas parecem não sofrer tanto nesse quesito. Parece que é mais controlado, pois eles podem controlar mais os níveis hormonais. Não apenas em questões de libido, por exemplo, mas saúde no geral”.

Muzy, por sua vez, explica que os EAs não minimizam os riscos de uma preparação. O que ocorre, na maioria das vezes, é a falta de percepção com relação a esse tipo de adversidade. “Se você faz uma preparação intensa, você terá problemas usando hormônios ou não. O que o hormônio exógeno faz é ‘maquiar’ esses problemas (…) quando você não tem o EA, é mais difícil você exagerar. Você não consegue chegar num ponto que você acha que precisaria chegar. Com o esteroide, você consegue – independente se aquilo está te causando danos ou não. Então não usar os EAs, na verdade, é um fator protetivo”, afirma o ortopedista.

Outro ponto abordado por parte dos atletas e especialistas do meio é de que longos períodos com baixo percentual de gordura podem ser danosos à produção de hormônios pelo organismo e às articulações. O profissional da área da saúde também desmistificou esse parecer: “na parte articular, não há problema. Existe um mito sobre ressecar articulações, mas isso não acontece. O que acontece quando você fica muito tempo em restrição alimentar é que você fica sem o tecido primordial que produz um sinalizador celular chamado leptina. Toda vez que você come, a sua gordura produz leptina. No hipotálamo, ela faz com que o seu cérebro produza uma série de sinalizações necessárias para a produção de hormônios como testosterona e estradiol. Então muitas vezes a sua gordura corporal está baixa e sua produção de hormônios é afetada, mas não pelo percentual de gordura em si, mas pela baixa ingestão calórica”.

Segundo Liane, tanto o fisiculturismo natural quanto o fisiculturismo sem antidoping são danosos à saúde. “A questão da performance, e não só no fisiculturismo, é que muda (…) alta performance não é saudável”, alega.

Muzy, por sua vez, acredita que “nenhum esporte é saudável. Você precisa da saúde para praticá-lo até o momento em que ele te ‘rouba’ essa saúde – se não fosse assim, não existiria ‘overtraining’, não existiria ‘REDs’, etc. O esporte não é saudável, mas o treino para esse esporte pode ser”.

Por fim, o médico destaca que “treinar para um esporte pode ser saudável. Entrar num nível competitivo de desempenho não é. No caso do fisiculturismo, ambas as modalidades são lesivas como qualquer esporte”.

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Folha de S.Paulo