O ultraliberal Javier Milei, 53, eleito presidente da Argentina, tem uma estreita relação com o futebol. Ele tem um passado como goleiro nas categorias de base de clubes tradicionais do país e chamou a atenção recentemente ao anunciar que deixou de torcer para o Boca Juniors para passar a apoiar o rival River Plate.
Em meados dos anos 1980, Milei chegou a treinar nas categorias de base do Chacarita Juniors, clube de Buenos Aires fundado no início do século passado que hoje disputa a segunda divisão do campeonato argentino. O atacante Germán Cano, campeão da Copa Libertadores pelo Fluminense, atuou pelo time na temporada 2009.
O jovem Milei recebeu em seu período no clube o apelido de “El Loco” pela forma como se jogava nas defesas. Em 1986, o presidente eleito passou por um período de treinos no San Lorenzo, mas não chegou a atuar profissionalmente, se aposentando dos gramados ao ingressar no curso de economia na Universidade de Belgrano.
Embora tenha deixado os treinos em campo, Milei manteve sua relação próxima ao futebol por ser torcedor declarado desde a juventude e sócio do Boca Juniors, com uma admiração, em particular, pelo ex-treinador Carlos Bilardo, que comandava a seleção argentina na campanha vitoriosa na Copa de 1986.
A paixão pelo tradicional clube de “La Bombonera”, no entanto, foi abalada nos últimos anos. Em 2013, quando a equipe trouxe de volta o meia Juan Román Riquelme, Milei criticou os dirigentes publicamente por considerar um ato populista por parte do então presidente da equipe, Daniel Angelici.
As críticas de Milei ao ex-jogador e ídolo da torcida se mantém até hoje. Riquelme é atualmente vice-presidente do Boca e concorre à presidência em eleição no dia 2 de dezembro, contra a chapa que tem o ex-presidente Mauricio Macri como vice. Macri anunciou apoio a Milei no segundo turno na disputa contra Sergio Massa.
Em 2018, na decisão da final da Libertadores no clássico entre Boca Juniors e River Plate, o político declarou ter “virado a casaca”. Segundo ele, o motivo para mudar sua torcida foi uma troca feita pelo técnico Guillermo Barros Schelotto, com a entrada do experiente meia Fernando Gago no segundo tempo.
“Estava torcendo pelo Boca. Na verdade, assistindo ao jogo. Mas quando entrou o Gago, que foi mais um ato de populismo, passei a torcer pelo River”, disse Milei, em entrevista ao “El País”. O River Plate foi o campeão do campeonato ao bater o Boca por 3 a 1 na final.
O político argentino foi eleito neste domingo após uma campanha agressiva, com insultos ao papa Francisco, xingamentos aos adversários e negação da cifra de 30 mil mortos e desaparecidos na ditadura militar. Após a vitória do adversário Sergio Massa no primeiro turno, porém, ele foi se moderando.
Milei, que fez da frase “viva la libertad, carajo” (viva a liberdade, caramba) um de seus slogans de campanha, terá como principal desafio resolver a terceira grande crise econômica vivida pela nação no período democrático, com uma inflação de mais de 140% anuais, pesos que derretem nas mãos e a pobreza em alta. Para isso, propõe medidas radicais como a dolarização e o fechamento do Banco Central, alvo de críticas de diferentes lados.
Durante a campanha, ganhou destaque entrevista na qual Milei defendeu aos clubes de futebol argentinos a instituição de modelos similares às SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol) no Brasil, ideia que recebeu uma série de críticas da federação e dirigentes locais.