“Segui minha diretriz e venci. Se a vida tá a minha mercê, merci”, canta o rapper BK no fone de ouvido de Marcus D’Almeida, líder do ranking mundial de tiro com arco recurvo e uma das apostas de medalha para o Brasil nas Olimpíadas de Paris.
Aos 26 anos, o atleta do Rio vive seu melhor momento. Ele conta à Folha que dedicou os últimos meses para trabalhar ainda mais cada detalhe do disparo —desde 2018, D’Almeida vai à Coreia do Sul esporadicamente para sessões de treinamento com referências da modalidade, como Kim Hyung Tak.
“Depois da derrota em Tóquio, decidi que tinha alguns pontos a mudar, a evoluir. Mas o principal foi a mudança na intensidade dos treinos e a mente. A principal mudança foi evoluir em tudo que me rodeava para que os resultados fossem elevados. Sei que fiz tudo que era necessário para chegar a Paris e agora são detalhes dos dias que antecedem a disputa. Mas está tudo fluindo bem, já conheço Paris, as condições daqui.”
D’Almeida chega aos Jogos de Paris experiente. É sua terceira participação em Olimpíadas. Ele também coleciona participações nos Jogos da Juventude-2014, foi campeão mundial júnior em 2015, ouro na Copa do Mundo em 2023, além de ser bicampeão sul-americano e medalhista nos Jogos Pan-Americanos. O talento o alçou a estrela em Maricá ainda novo; hoje, ele investe para formar novos arqueiros.
“Fico muito feliz porque até bem pouco tempo eu era o menino que queria fazer história na modalidade. Hoje, ser a referência para novos talentos é muito legal e uma responsabilidade grande. Sei que a medalha ajudará ainda mais nesse processo e é mais um motivo para eu querer levá-la comigo para o Brasil”, conta.
Em Paris, o brasileiro terá rivais difíceis, como o italiano Mauro Nespoli, que o eliminou em Tóquio, e o atual campeão olímpico, o turco Mete Gazoz. Os coreanos Kim Woojin e Lee Woo Seok, segundo e terceiro do ranking respectivamente, também estão no páreo. O veterano Brady Ellinson, dos Estados Unidos, tem três medalhas olímpicas e não pode ser descartado da disputa.
D’Almeida também credita parte de seu sucesso à sua noiva, Bianca Rodrigues. Ela competia no hipismo, mas mudou para o tiro com arco —ela atua com o arco composto, não recurvo.
“Temos uma rotina de treinos e vida juntos, que me faz bem e ajuda bastante, sempre um ao outro. Já nos conhecemos há muito tempo, inclusive foi nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2014, na China. Nos tornamos amigos e depois começamos o relacionamento”, conta.
O atleta é fã de música. Segundo sua irmã Isabella, ele já fez cursos de DJ. “Gosto muito de música, mas todo meu foco nos últimos meses e neste momento está unicamente na disputa, na medalha, em vencer. A música me ajuda a concentrar, está em meu dia a dia, sim. Meu som preferido é o do BK.”
“O barulho depende do silêncio”, diz a tatuagem que ele carrega no braço.