
Luan Muller celebrando com a bandeira da Armênia
No futsal europeu, um brasileiro se destaca como uma das grandes estrelas. Tricampeão da Uefa Futsal Champions League, o paredão Luan Muller, do Illes Balears Palma, da Espanha, se tornou referência na posição e foi eleito o Melhor Goleiro do Mundo na última temporada.
A trajetória do goleiro é longa no futsal, e com o destaque na Europa, muitos torcedores podem se questionar sobre o motivo pelo qual o craque não é convocado para a seleção brasileira. A resposta é simples: Luan defende a seleção da Armênia.
Em entrevista exclusiva ao Portal iG, o paredão do Palma explicou mais sobre como passou a defender os armênios. Além disso, relembrou seus passos no esporte para chegar ao estrelato, e abriu o jogo sobre as diferentes escolas do futsal pelo mundo.
“Eu joguei um curto período, quase uma temporada, num clube da Armênia e eu recebi o convite da federação da Armênia para estar me naturalizando. Eu vinha de um momento de pós-cirurgia de cruzado, então eu estava num momento assim, de baixa confiança e tudo e ali eu fui recebido muito bem. Me ajudaram, deram um suporte muito grande na minha recuperação, na confiança em jogos e tudo, então quando eu recebi esse convite eu vinha de uma recente convocação, entre aspas, da seleção brasileira que eu tinha jogado no Grand Prix daí bateram dúvidas, claro, não é uma decisão fácil de se tomar, mas naquele momento eu conversei com a minha família, com a minha esposa, e orei a Deus também, pedindo sabedoria, e achei que foi a melhor escolha naquele momento”.
Confira abaixo a entrevista completa no YouTube do Portal iG:
“E hoje, claro, tudo que passou, muita gente me comenta, ‘pô, você estaria na seleção e tal’, mas eu não me arrependo porque eu acho que, claro que você pensa essas coisas, é inevitável passar na sua cabeça, mas eu não me arrependo porque tenho plena certeza que o atleta que eu sou hoje é devido a cada processo que eu vivenciei, sabe, e a seleção da Armênia também é um processo que eu vivencie, que eu estava ali no momento em baixa na minha carreira, não estava bem, não me sentia bem, eu estava com uma pressão psicológica, não conseguia entrar em quadra com confiança, e ali eu consegui voltar a ter confiança de jogar, me sentir feliz… porque essa pós-lesão foi difícil”.
“De momento, agora, não estou podendo atuar (pela Armênia) porque a FIFA abriu uma investigação sobre os passaportes e tal então eu estou meio que ‘bloqueado’, vamos dizer… aguardando, porque em janeiro tem um europeu de seleções e a Armênia está classificada. Então quem sabe, se Deus quiser a gente possa voltar porque já levo alguns quatro anos com a seleção então me sinto feliz, me sinto em casa podendo jogar lá”.
Trajetória
Hoje Luan brilha no futsal espanhol, mas os primeiros passos no esporte começaram bem cedo no Brasil, mais precisamente em São Paulo.
“Comecei desde muito cedo no futsal, tenho uma lembrança acompanhando meu pai e tal. Aos 10 anos, mais ou menos, comecei a ter uma vivência maior de competição, ainda jogando na linha, não era goleiro, e aí fui até uns 14, 15 anos assim, na dúvida até que eu viro goleiro em definitivo”.
“Começaram a aparecer uns clubes para fazer teste federado, começo ali e consigo uma projeção a um clube melhor, 17 anos e venho essa transição até o sub-20 e consigo chegar, após o meu término na categoria sub-20 ali que é o juvenil, recebo o convite do Magnus (Sorocaba) que na época era Brasil Kirin. Ali foi minha primeira equipe que me abriu as portas para um cenário nacional”.

Luan Muller foi campeão da LNF em 2014
Chegada ao futsal europeu e adaptação
“Eu sempre tive vontade de jogar na Europa, de atuar fora, né? Sempre acompanhei o futsal e via que as competições aqui eram muito fortes, o que despertava ainda mais essa vontade”. “Quando recebi o convite, fui pela primeira vez para Portugal — minha primeira equipe foi o Fundão Portugal. Cheguei ali em um momento difícil, em plena pandemia, então juntou muita coisa. Logo no começo, acabei pegando Covid, fiquei um tempo afastado, e a adaptação custou um pouco”.
“Demorei um tempo para entender melhor o jogo, mas, apesar disso, fui muito bem recebido. Todos me acolheram muito bem, embora eu tenha tido dificuldades no início. Felizmente, era uma comissão técnica que ouvia muito, conversava bastante e me deu liberdade, apostando no meu jogo. Tive um suporte bem bacana”.
“Da mesma forma aconteceu aqui na Espanha. Depois dos meus dois anos em Portugal, vim pra cá e fui igualmente bem recebido. Consegui, aos poucos, impor meu jogo, mostrar minha característica, e fui ganhando confiança. Mas, normalmente, a adaptação no começo é sempre um pouquinho difícil”.
Diferenças entre o futsal brasileiro e o europeu
“Lembro que eu saí do Brasil em 2018, então já tem um tempinho, né? Mas na época que eu estava, e lógico que eu acompanho ainda hoje, vejo que o jogo do Brasil está com muita força física, está um jogo muito disputado, e aqui já acaba sendo um jogo mais individualizado. O Brasil tem um sistema de defesa diferente também, que os clubes, a maioria, adotam. Aqui já é um jogo mais individualizado, muito mais veloz, corrido, intensidade mais alta, sabe? Acho que a principal diferença que vejo aqui, é essa intensidade, que é muito mais alta, muito mais corrido, muito mais individual”.
Preparação
Mesmo feliz com o prêmio de Melhor Goleiro do Mundo, Luan destacou a disciplina como a chave na preparação diária, e afirmou que segue trabalhando como “se nada tivesse acontecido”.
“Sim, graças a Deus eu pude receber esse prêmio, algo incrível na minha vida, uma bênção de Deus mesmo. Eu mantenho a disciplina, a mesma disciplina de antes — tanto quando ainda não tinha ganhado quanto agora. Eu sou um atleta muito competitivo, então tenho, no dia a dia, muita competitividade. Nossa rotina não pode se deixar levar nem pelos bons momentos nem pelos maus momentos. É preciso estar sempre centrado, encontrar o equilíbrio”.
“Lógico que você vai se adaptando, vai vendo o que é bom para você ou não nos treinos, em tudo, mas eu sigo da mesma forma, como se nada tivesse acontecido. Claro que é algo muito grandioso na minha vida, mas não posso deixar isso me envaidecer, porque é só mais uma conquista, um prêmio que vem como resultado de tudo que o grupo vem fazendo nesses anos, disputando e ganhando títulos”.
“Os companheiros também têm muita parte nisso. Então é continuar na pegada, como a gente diz — todo dia trabalhar, plantar uma sementinha para conseguir colher alguma coisa”.
Nova temporada

Luan Muller conquistou três Champions com o Palma
O Illes Balears Palma, que vem de uma histórica conquista tricampeonato consecutivo da Uefa Futsal Champions League, iniciou a temporada bem, com cinco jogos de invencibilidade, mas vem de duas derrotas.
Luan Muller comentou sobre o momento da equipe, projetou a reação do time na temporada e também sobre o sonho do tetra no torneio continental.
“Começamos a temporada bem, com uma sequência boa de jogos e vitórias. Agora, recentemente, tivemos duas derrotas fora de casa, e isso acabou nos custando um pouquinho na tabela e também na confiança. Mas a gente sabe que ainda está no começo, ainda tem muita coisa pela frente. Não estava tudo muito bem quando estávamos ganhando, e também não está tudo muito mal agora que perdemos. É preciso ajustar, ter sabedoria e entender o que vem sendo feito”.
“Tem a chegada de muitos atletas, então é natural que existam esses ajustes. Mas a gente sabe que aqui a cobrança e a responsabilidade são muito grandes — estamos sempre brigando por títulos, por vitórias, por estar lá em cima na tabela. Então, obviamente, quando vêm uma ou duas derrotas, acende um alerta. Precisamos voltar a trabalhar bem essa semana, porque segunda-feira já temos outro jogo, uma sequência de dois jogos”.
“É importante ter essa consciência. E, claro, a gente pensa no tetra. A gente chegou na primeira e ganhou, depois na segunda e também ganhou, e igualmente na terceira — já foi um feito histórico, porque nunca nenhum clube ganhou três UEFA Futsal Champions League seguidas. Quem sabe agora? Ainda temos uma etapa pela frente, fases a serem superadas até chegar na disputa do título”.
“Mas vamos com muita gana, muita vontade de conquistar esse objetivo. Como eu disse, sabemos da cobrança e da responsabilidade que é jogar aqui, de ganhar títulos. Então entramos na competição já brigando, pensando lá na frente, mas vivenciando cada etapa”.
Portal IG