Maior prodígio surgido recentemente no futebol, o espanhol Lamine Yamal, do Barcelona, chegou mal à maioridade. O caso ocorreu no mês passado, mas ainda há relevância em abordá-lo, pois revela faceta inadequada do jovem craque. Que traz consequências.
Já considerado uma celebridade no futebol, pelo extremo talento com a perna esquerda, candidato a faturar o prêmio de melhor do mundo neste ano e provavelmente nos vindouros, deu ao completar 18 anos uma pisada de bola –digna das registradas por Neymar, de quem é fã– que arranhou sua imagem.
Yamal, que aniversariou no dia 13 de julho, incluiu em sua festa particular, em Olivella (a 50 km de Barcelona), pessoas com nanismo como “atrações”.
Apesar de os convidados terem sido proibidos de fazer filmagens, vídeos em redes sociais mostraram pessoas de baixa estatura chegando ao evento.
A repercussão do episódio foi, e ainda é, péssima para o jogador. De imediato, a associação espanhola que defende os direitos e promove a inclusão de pessoas com nanismo disse que o acontecimento violava “as leis atuais e os valores éticos fundamentais” e que tomaria “ações legais para proteger a dignidade das pessoas com deficiência”.
Na Espanha, a legislação proíbe shows ou atividades de lazer que usem uma deficiência para causar zombaria pública, ridículo ou escárnio. No país, eram comuns touradas com os chamados “anões toureiros”.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
O caso chegou ao governo. O Ministério dos Direitos Sociais encaminhou denúncia contra Yamal ao Ministério Público, que iniciou investigação.
Sabe-se que os artistas com nanismo envolvidos não fizeram queixas. Pelo contrário, disseram ter sido tratados com respeito e que atuaram conforme suas vontades.
Independentemente disso, comprovando-se irregularidade, haverá cobrança de multa, que pode chegar a 1 milhão de euros (cerca de R$ 6,4 milhões).
Se ela vier, não fará grande diferença para o atacante, que renovou contrato com o Barcelona até 2031 e receberá por ano 30 milhões de euros. Porém o ponto é outro.
Questionado sobre o assunto dias depois, tendo acabado de receber a camisa 10 (eternizada no Barça por Messi) que passaria a vestir, Yamal saiu-se com esta: “Quando estou fora da Cidade Esportiva [local de treinos], curto a vida”.
Esse é o ponto. Alguém que acaba de completar um rito de passagem importante (a maioridade), passando a ser mais responsável por seus atos, não pode não estar nem aí para a lei. Erra, por desconhecimento ou por desobediência.
Essa faceta negativa de Yamal incomoda e causa reação. Nesta semana, um mural na praça Joanic, em Barcelona, que o traz vestido de Super-Homem (com o L de Lamine no peito), foi pichado com os desenhos dos sete anões da Branca de Neve, alusão crítica à festa.
“Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, ouviu um super-herói (o Homem-Aranha) do tio que morria diante dele.
Yamal possui poderes: passes precisos de trivela, dribles objetivos e desconcertantes, qualidade nas finalizações, rapidez impressionante. Só que, ao mesmo tempo que encanta com esse repertório, desencanta pela falta de civilidade.
Um super-herói tem como predicados, entre outros, a integridade moral e a capacidade de inspirar as pessoas.
Pelo visto, Lamine Yamal não é assim.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Folha de S.Paulo