Kirsty Coventry, das piscinas ao cargo mais poderoso do esporte mundial – 21/03/2025 – Marina Izidro


Quando, minutos depois da primeira rodada de votação para a presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI), veio o aviso de que um dos candidatos tinha conseguido maioria absoluta e já havia um vencedor, todo mundo se assustou.

A expectativa inicial era que os votantes, integrantes do COI, demorariam para eleger o substituto de Thomas Bach. Não havia um franco favorito entre os sete concorrentes. Trinta minutos depois, o alemão anunciou Kirsty Coventry –considerada sua preferida– como sucessora. Começaram comparações com “Conclave”, filme sobre os bastidores da eleição secreta para escolher o papa.

A vitória de Coventry mostra a influência de Bach mas, principalmente, que, ao escolher uma jovem, mulher e africana, o COI manda um sinal ao mundo de que olha para a frente.

Coventry, do Zimbábue, será a primeira mulher –e primeira pessoa do continente africano– na presidência do COI em 130 anos. Aos 41 anos, será a segunda mais jovem no cargo, só atrás do barão Pierre de Coubertin.

Depois da vitória, disse que “um teto de vidro foi estilhaçado.” É realmente surpreendente ter conseguido furar a bolha. Coventry é a atleta olímpica mais condecorada de seu país –sete medalhas na natação, sendo duas de ouro, em cinco Jogos. Mas, no COI desde 2013, faz parte há relativamente pouco tempo de um clube de elite e dominado por homens brancos e europeus. Mesmo para mulheres competentes, dependendo do ambiente profissional pode ser difícil ter a chance de ocupar cargos de liderança.

Com 49 votos dos 97 possíveis, desbancou Juan Antonio Samaranch Jr., que teve 28. O espanhol é membro do COI há quase 25 anos e seu pai foi um emblemático ex-presidente. Em terceiro, com apenas oito votos, ficou o britânico Sebastian Coe, dono do currículo mais extenso: campeão olímpico, presidente da Federação Internacional de Atletismo, lorde, esteve à frente do Comitê Organizador de Londres-2012.

A derrota de Coe foi chamada pela imprensa inglesa de “humilhante”. Quem o defende diz que o COI não está preparado para mudanças. Candidato da oposição, foi rígido com o banimento de atletas russos, e a decisão unilateral de dar premiação em dinheiro a campeões olímpicos do atletismo em Paris-2024 teria irritado Bach e federações internacionais.

Críticos de Coventry, candidata da situação, questionam o fato de ela ser ministra dos Esportes de um regime autoritário no Zimbábue e também a sua eficiência no cargo.

Agora terá que lidar com temas espinhosos que impactam o futuro dos Jogos Olímpicos: participação de atletas transgêneros –ela se mostra a favor do banimento–, questões geopolíticas, aquecimento global, como atrair os jovens. Quando questionada sobre como trabalharia com Donald Trump até Los Angeles-2028, disse, com classe: “Tenho lidado com, digamos, homens difíceis em altos cargos desde que tenho 20 anos”. Disso, Coventry, a gente não duvida. Qualquer mulher em um ambiente corporativo passou por algo parecido.

Para uma organização que se orgulha de promover a igualdade de gêneros, ter uma mulher no cargo mais desejado do esporte mundial passa uma baita mensagem. Ela toma posse em junho para um mandato de oito anos.

Vai ser fascinante ver qual marca quer deixar e como será o futuro do movimento olímpico.

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Folha de S.Paulo