A Justiça argentina liberou, nesta sexta-feira (22), mais de uma centena de chilenos detidos após os violentos confrontos com torcedores argentinos durante uma partida de futebol da Copa Sul-Americana, na última quarta-feira (20).
Torcedores de Independiente e Universidad de Chile se enfrentaram com facas, paus e bombas dentro do estádio Libertadores de America, em Avellaneda, em uma batalha campal que deixou 19 feridos, dois deles ainda em estado grave.
De acordo com o documento judicial, a ordem de liberação foi emitida à meia-noite de quinta-feira (21) e abrange os 104 chilenos presos em diversas delegacias da província de Buenos Aires.
Alguns, que perderam as roupas e os documentos em meio à confusão tiveram que ser auxiliados pelo consulado. Por terra ou via aérea, a maioria iniciou, nesta sexta, o retorno ao seu país, segundo fontes diplomáticas chilenas.
“Na arquibancada, fui espancado com paus e barras de ferro, roubaram tudo”, contou Ignacio Castro, um psicólogo chileno de 38 anos, em frente ao consulado do Chile em Buenos Aires.
“Quando desci para pedir ajuda à polícia, levaram-me ao hospital. Fui suturado e detido como mais um por danos, desordens e lesões”, acrescentou.
Ao confirmar a liberação dos torcedores, o presidente chileno, Gabriel Boric, defendeu trabalhar para acabar com a violência no futebol, um problema que tem afetado persistentemente a modalidade na América do Sul.
“Vamos continuar trabalhando para erradicar a violência nos estádios e, ao mesmo tempo, defender os direitos de nossos compatriotas”, disse Boric, que enviou na quinta-feira seu ministro do Interior a Buenos Aires para supervisionar o caso.
Barbárie
O confronto brutal ocorreu durante o jogo de volta das oitavas de final da Copa Sul-Americana, em Avellaneda, ao sul de Buenos Aires, e foi interrompido aos três minutos do segundo tempo.
O caos começou quando torcedores do time chileno jogaram paus, garrafas, cadeiras e até vasos sanitários da arquibancada popular superior, atingindo a parte inferior, onde estavam torcedores do Independiente, que responderam com violência.
Nesta sexta, o ministro do Interior chileno, Álvaro Elizalde, visitou os feridos que ainda estão internados no hospital Fiorito de Avellaneda e anunciou a assinatura de um memorando com a Argentina para prevenir a violência no futebol.
Lá, dois homens de nacionalidade chilena permanecem em estado grave, um com traumatismo craniano e o outro com fratura cervical, segundo o boletim médico. Ambos passaram por cirurgias.
Um deles, com quadro mais comprometido, jogou-se da arquibancada quando foi encurralado por torcedores do Independiente. Segundo uma autoridade chilena, uma cobertura amorteceu sua queda, evitando que morresse.
Pedido de fechamento do estádio
O estádio do Independiente, que com sete títulos é o time mais premiado da Copa Libertadores, foi fechado até que sejam concluídas as perícias ordenadas pela Justiça.
“O promotor pediu o fechamento porque há manchas hepáticas de sangue, e faltam perícias a ser feitas”, disse o ministro de Segurança de Buenos Aires, Javier Alonso.
As arquibancadas onde ocorreram os confrontos evidenciam a proporção da briga: restos de projéteis, pedras, cadeiras arrancadas, ferros e restos de alvenaria que foram arrancados dos banheiros para ser atirados.
“Ontem [quinta-feira], houve um trabalho de identificação muito importante. Há cerca de 20 ações judiciais”, disse Alonso, sem entrar em detalhes.
“Há pessoas que têm que prestar contas porque havia uma empresa de segurança que deveria estar presente e não esteve. O coordenador da Conmebol [Confederação Sul-Americana de Futebol] foi avisado três vezes de que o jogo deveria ser suspenso e não quis”, acusou o ministro.
A segurança da partida estava a cargo do Independiente, segundo a Conmebol, e tem sido questionada por diversas vozes, incluindo a de Boric, que denunciou um “linchamento inaceitável de chilenos”.
À espera de sanções
As imagens brutais do enfrentamento, um dos piores dos últimos anos no futebol latino-americano, deram a volta ao mundo.
O presidente da Fifa (Federação Internacional de Futebol), Gianni Infantino, exigiu “punições exemplares”. A Conmebol, que prometeu agir com “a maior firmeza” contra os responsáveis, está avaliando punições.
As sanções podem chegar à desclassificação de um ou de ambos os clubes, algo que não acontece desde 2015, quando o Boca Juniors foi afastado nas oitavas de final da Copa Libertadores por incidentes em um superclássico argentino contra o River Plate.
Folha de S.Paulo